O Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) em parceria com a Fipe, registrou inflação de 0,74% em novembro, motivado pelo aumento de preços dos produtos semielaborados (1,06%) e in natura (6,84%) e bebidas alcoólicas (0,44%). Por outro lado, os produtos industrializados (-0,15%), as bebidas não alcoólicas (-0,84%), os artigos de higiene (-0,37%) e de higiene e beleza (-0,20%) registraram queda e impediram que o indicador aferisse alta ainda maior no mês.
O resultado do IPS de novembro apresentou aceleração tanto em relação ao mês imediatamente anterior quanto ao mesmo período de 2022, quando as variações foram de 0,46% e 0,30%, respectivamente, resultado da em inflação acumulada de 0,82% em 12 meses. Mesmo com a aceleração de novembro
Conforme nota técnica de outubro, já projetávamos aceleração inflacionária durante o último bimestre do ano. Com o resultado de novembro, a APAS reafirma o cenário projetado para o encerramento de 2023, com inflação encerrando o ano em 0,85%, menor patamar desde 2017.
Já para o próximo ano, a APAS projeta que a inflação acelere e encerre o ano em 4,5%. O cenário projetado pela APAS considera os fatores provenientes do cenário externo e das alterações climáticas sobre o comportamento dos preços, a saber:
1. Guerra na Ucrânia. A continuação da guerra na Ucrânia produz, além da perpetuação do sofrimento aos civis, impactos sobre os preços internacionais de diferentes produtos, desde fertilizantes e trigo até gás natural e petróleo. Além disso, a eminência do início do inverno tende a produzir impacto sobre a cotação do gás natural e do petróleo no mercado internacional, uma vez que a Rússia, apesar das sanções econômicas impostas pelos países da OTAN, ainda é um dos principais fornecedores de hidrocarbonetos aos países europeus e estas commodities, em específico, são, além de bens fundamentais, instrumentos e armas nas guerras geopolíticas.
2 .Guerra no Oriente Médio. A guerra no Oriente Médio entre Israel e o Hamas avança para o terceiro mês e não há no horizonte a realização de um acordo de paz. O escalonamento do conflito pode produzir outros movimentos no xadrez global com o risco de envolvimento direto de mais países, tanto da liga árabe quando da Otan, em especial os Estados Unidos. O envolvimento de outros países tende a produzir múltiplos efeitos sobre a economia global, desde a alteração da cotação do petróleo no mercado internacional até a alteração no fluxo global de capitais.
3. Petróleo e gás natural. O petróleo e o gás natural são importantes insumos produtivos e, dada a situação dos países envolvidos direta e indiretamente nos dois palcos de guerra – Ucrânia e Israel –, os hidrocarbonetos se apresentam como estratégicas armas de negociação geopolítica. Neste sentido, a APAS não descarta o cenário de instabilidade na cotação do petróleo em 2024, impactando, inclusive, os preço dos fretes e de diferentes insumos produtivos.
4. Alterações climáticas. Os sucessivos recordes de temperatura e o eventos climáticos extremos observados em diferentes regiões do mundo tendem, igualmente, a impactar a produção agrícola no Norte e no Sul Global, inclusive o Brasil. Em âmbito doméstico, os efeitos das alterações climáticas já são amplamente conhecidos, com seca na região amazônica e chuvas abundantes na Região Sul do país. Neste ano, a produção agrícola não foi impactada pela alteração climática – haja vista o país teve safra recorde de grãos –, no entanto, para a safra 2023/2024 é possível haver impactos. Por isso, a APAS acompanha com atenção a evolução da produção doméstica das diferentes culturas agrícolas.
5. Cenário macroeconômico externo. A APAS acompanha com atenção o rumo da política monetária norte-america, o aumento das políticas protecionistas em diferentes partes do mundo, a desaceleração do crescimento chinês, as ações do Banco Central Europeu e os efeitos da conjunção de diferentes variáveis sobre o mercado doméstico brasileiro.
Semielaborados
A categoria Produtos semielaborados, pelo segundo mês seguido registrou alta de 1,06%, impulsionado pela alta nos preços das proteínas animais e cereais. Apenas a subcategoria de leite registrou deflação no mês, impedindo que a alta da categoria no mês fosse ainda maior.
Com o resultado de novembro, a categoria de produtos acumula deflação de 6,73% no ano. No últimos doze meses, a queda é de 6,61%. A forte queda no preço das proteínas animais tende a produzir efeito sobre a cesta de consumo das famílias no final deste ano.
Em novembro a carne bovina inflacionou 1,43%. A alta no período já era esperada pela APAS e fora comunicada, inclusive, nas notas técnicas anteriores. Entre os cortes bovinos, as principias altas foram da fraldinha (6,47%) e do coxão duro (5,29%). Já os cortes menos nobres, como largato e músculo deflacionaram no mês, ao variarem -1,5% e 0,2%, respectivamente.
Mesmo com o aumento registrado no bimestre outubro-novembro, o preço da carne bovina ao consumidor paulista no final de 2023, ainda está mais de 10% abaixo do registrado no mesmo período do ano anterior. Portanto, nas festas de final de 2023, o consumidor final terá um ganho de poder de compra, especialmente no churrasco, dado que cortes bovinos como, por exemplo, picanha e contrafilé, acumulam deflação de 13,5% e 12,7% no acumulado em 12 meses.
O preço da carne suína seguiu o mesmo comportamento da carne bovina em novembro, com alta na ponta da curva (0,46%) e deflação tanto no acumulado do ano (-6,25%) quanto em 12 meses (-2,49%).
As aves também inflacioaram em novembro (2,38%), motivado pela alta de 2,27% no preço do quilo do frango e 5,36% no preço do peru. Vale enfatizar que a alta no preço do peru é sazonal, decorrente das festas de final de ano. Ao longo de 2023, o preço do peru apresentou sucessivas quedas, no entanto, não foram suficientes ao ponto de neutralizar a alta dos últimos 12 meses. Mesmo com a alta do último mês, o preço do peru acumula deflação de 4,55%. Porém, no acumulado em 12 meses, a alta é de 36,47%. Comportamento diferente apresentou o preço do frango ao consumidor final, que tanto em no ano (-10,88%) quanto em 12 meses (-11,79%) acumula deflação.
Já entre os pescados, a variação foi de 0,76% em novembro, motivado pela alta do camarão (2,40%) e da merluza (1,57%). Em sentido oposto, a redução do preço da corvina (-2,12%) e do cação (-1,18%) impediram alta maior dentro da subcategoria. No acumulado do ano, a subcategoria apresenta leve alta (0,58%) e em 12 meses a variação é de 1,86%.
O preço do leite ao consumidor final paulista mantém pelo sexto mês consecutivo queda. Com o resultado de novembro (-0,62%), o preço do leite acumula deflação de 5,92% e 10,21%, no ano e em doze meses, respectivamente. A manutenção da queda do preço do leite tem produzido efeito em cadeia, com queda nos preços dos produtos industrializados derivados de leite.
A subcategoria de cereais apresente pelo segundo mês consecutivo alta nos preços – variação de 1,53% em novembro –, impulsionado pela alta de 2,91% no preço do arroz. Em sentido oposto, feijão (-2,03%) e milho (-0,72%) impediram alta ainda maior no indicador. Com o resultado de novembro, a subcategoria acumula inflação de de 1,89% no ano e 7,45% em doze meses.
Como já apontado em notas técnicas anteriores, o preço do feijão tem apresentado retração superior a 20% no ano em decorrência da expressiva safra de 2023. Vale lembrar que quando iniciou-se a segunda safra da leguminosa ainda havia considerável estoques disponíveis da primeira safra. O comportamento do preço do arroz é diferente do feijão. Com o resultado de novembro, o arroz acumula alta de 17,18% no ano e de 22,65% em doze meses. Essa forte alta é reflexo direto das alterações climáticas e dos impactos sobre a produção doméstica.
Industrializados
A categoria de produtos industrializados apresentou deflação de 0,15% em novembro. Com esse resultado, a inflação da categoria desacelerou para 0,54% no acumulado do ano e 1,29% em doze meses. O resultado do mês é fruto da redução de preços das seguintes subcategorias: café, achocolatados em pó e chás (-1,04%), derivados de carne (-0,92%), biscoitos e salgadinhos (-0,52%), derivados de leite (-0,38%), massas, farinhas e féculas (-0,38%), doces (-0,22%) e enlatados e conservas (-0,12%).
Em sentido oposto, apresentaram alta nos preços as seguintes subcategorias: óleos (1,27%), panificados (0,91%), adoçantes (0,66%) e condimento e sopas (0,30%). As subcategorias de alimentos prontos ficou estável no mês.
O resultado positivo da categoria de produtos industrializados neste ano, com alta moderada de preços, decorre, sobretudo, da safra recorde e da diminuição ou aumento moderado do preço de muitos insumos produtivos. Os casos das subcategorias de óleos e café são exemplares. No caso específico da subcategoria de óleo, o único item que apresenta tendência de preço contrária à do grupo é o azeite, que apresenta alta de quase 40% no ano Como já apontado em notas técnicas anteriores, as mudanças climáticas e seus efeitos diretos sobre a produção das olivas no mediterrâneo têm produzido forte pressão sobre o preço no mercado mundial. Apenas em novembro, o azeite aumentou 7,81%.
Produtos In natura
Os produtos in natura aumentaram 6,84% em novembro, puxado pela alta dos preço dos tubérculos e das verduras, que inflacionaram 22,05% e 11,55% no mês, respectivamente. As frutas (1,72%) e os legumes (3,26%) também registraram alta no mês. Com a variação aferida no mês, os produtos in natura acumulam alta de 3,75% no ano e 5,37% em doze meses.
Dentro da subcategoria de frutas, as principais variações no mês foram: maracujá (16,60%), banana (7,67%) e laranja (6,91%) para alta; e mamão (-4,98%) e uva (-4,59%) para queda.
Dentro da subcategoria de legumes, a variação do pimentão (8,67%), tomate (1,53%) e cenoura (0,92%) foram as que mais contribuíram para a alta no mês. Em sentido oposto, berinjela (-5,34%) e mandioca (-2,72%) impediram a alta mais acentuada do indicador no período.
Já entre os tubérculos, a maior alta foi da cebola (65,1%), seguido da batata (14,21%). Vale apontar que, apesar da forte alta no mês, no acumulado do ano cebola e batata acumulam queda de 23,74% e 16,97%, respectivamente.
As verduras também apresentam variações acentuadas de preços no mês, sendo que as maiores altas foram dos seguintes itens: alface (17,79%) e couve (15,11%).
Bebidas
A subcategoria de bebidas deflacionou 0,39% em novembro, decorrente da queda de preços das bebidas não alcoólicas (-0,84%) e da alta das bebida alcoólica (0,44%). A redução do preço da subcategoria de bebidas alcoólica foi resultado, sobretudo, da queda no preço dos refrigerantes (-1,73%). Até mesmo a água mineral, que durantes os meses anteriores registrou sucessivas altas, em novembro deflacionou (-0,32%).
O aumento do preço das bebidas alcoólicas foi puxado pela inflação das cervejas (0,59%). Champanhe e vodca também inflacionaram no mês, com variação respectiva de 0,89% e 1,61%. Por outro lado, aguardente (-0,17%) e vinho (-1,14%) apresentaram queda no mês.
Artigos de Limpeza e Produtos de higiene e beleza
As categorias de artigos de limpeza e produtos de higiene e beleza apresentaram deflação de -0,37% e -0,20% em novembro. Com o resultado do último mês a categoria de artigos de limpeza apresenta estabilidade no ano e alta de 1,89% em doze meses. O gráfico a seguir apresenta a tendência de médio e longo prazo da duas categorias, indicando rápida e consistente desaceleração. A quda no preço das duas categorias aferida no período é decorrente tanto da redução do preço dos insumos produzidos internamente quanto da redução da taxa de câmbio, que produz efeito direto sobre os custos tanto de importação quanto de produção.
Cesta de Natal
A PAS elaborou uma cesta de natal com 65 produtos. Conforme o comportamento do IPS, essa cesta de produtos deverá apresentar alta de apenas 1,17% neste ano. Em comparação com os anos anteriores, o comportamento do preço da cesta de natal, em 2023, será o melhor desde 2017, quando registrou deflação de 4,2%.
Entre os índices de maior destaque da cesta de natal, estão as proteínas animais, o leite e os derivados de leite, que apresentam redução significativa de preços.
Com a alta moderada de preços da cesta de natal neste ano, com itens em deflação, a APAS entende as famílias terão ganho real no poder de compra durante, não apenas na festa natalina, no conjunto das comemorações de final de ano. O maior ganho de poder de compra neste final de ano, inegavelmente, serão daqueles comedores que optarem pelo churrasco, dado que a carne bovina, conforme dados acumulados até novembro, acumula deflação de 11,08%.
Em relação às vendas de natal, a APAS projeta que, com o ganho de poder de compra das famílias, a redução da taxa de desemprego e a queda, ainda que módica da taxa de juros, haverá crescimento de 2,8% neste ano.