O Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) em parceria com a FIPE, registrou inflação de 0,41% em fevereiro de 2024, impulsionado pelo aumento de 0,68% dos alimentos e bebidas contrastando com as deflações de 1,52% em artigos de limpeza e 0,37% em artigos de higiene e beleza. Dentro do segmento de alimentos e bebidas, destacaram-se na comparação mensal a inflação de 1,28% dos produtos semielaborados e 5,09% nos produtos in natura; ressalta-se que esses dois grupos são os únicos dentro de alimentos e bebidas que apresentam inflação no acumulado do ano: 3,32% para produtos semielaborados e 8,13% para produtos in natura. O indicador IPS não apresentou elevação maior em fevereiro em decorrência da deflação de 0,45% nos produtos industrializados – no acumulado do ano, a deflação nesse segmento está em 0,27%.
Na comparação anual, a inflação em fevereiro acelerou 0,19 p.p o que contribuiu para que no acumulado em doze meses, o IPS atingisse a marca de 1,50%. Os dois primeiros meses do ano mostraram uma aceleração na inflação acumulada em 12 meses, o que reforça a projeção altista nos preços, principalmente dos alimentos; estes tem sofrido com as questões climáticas o que tem alterado a disponibilidade interna acarretando preços maiores. A APAS projeta que a inflação medida nos supermercados (IPS) encerre o ano de 2024 em 4,2%, enquanto o índice oficial de inflação da economia brasileira, o IPCA, encerre em 3,9%. A projeção da APAS está pouco acima da estimativa média do mercado, que, conforme o segundo Boletim Focus de março de 2024, projeta alta de 3,77% no IPCA deste ano.
O cenário projetado pela APAS apoia-se tanto nas projeções de safra deste ano quanto na análise atenta das conjunturas doméstica e internacional.
- O 6º Levantamento da Safra de Grãos realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) piorou a previsão da colheita de grãos na safra 2023/2024 na comparação com o levantamento anterior. A Conab projeta que a colheita desta safra seja de 295,6 milhões de toneladas, apontando queda de 7,6% na comparação com a anterior. Ainda dentro do levantamento da Conab, há expectativa de crescimento na produção de arroz e queda na colheita do feijão importantes componentes da cesta básica brasileira.
- Os eventos climáticos extremos, fruto das alterações climáticas, têm produzido seca nas regiões Centro-Oeste e Norte e chuvas torrenciais na Sul do país. Esses fenômenos afetam tanto a produção de grãos quanto a engorda bovina. Considerando o sistema de produção de gado de corte no Brasil é predominantemente extensivo, demandando grandes áreas de pastagem, os fenômenos climáticos extremos afetam diretamente esse tipo de criação, demandando maior parcela de suplementação alimentar.
- Alterações climáticas. O ano de 2024 deve ser marcado pelo fenômeno El Niño o que tem impactado sobremaneira a produção agrícola com atrasos no plantio de diversos grãos. Seja pela seca em algumas regiões, seja pelo excesso de chuvas, há expectativa de que as safras mundo afora sejam afetadas, podendo resultar em pressão inflacionária sobre alimentos e seus derivados. Por outro lado, o fenômeno La Niña deverá marcar presença no país a partir do segundo semestre o que deve impactar a produção agropecuária do país.
- A atual conjuntura internacional marcada pelo aprofundamento das beligerâncias entre os países e o espraiamento dos conflitos para além dos limites dos Estados em guerra têm produzido efeito direto sobre os preços nos mercados internacionais, sobretudo o preço dos fretes. Os ataques perpetrados pelo grupo iemenita houthi às embarcações cargueiras que rumam sentido canal de Suez faz com que muitas embarcações deixassem de usar a rota Mar vermelho-Mediterrâneo e passem a contornar a costa da África. Com a mudança de rota marítima e o aumento do risco de ataque pirata, os preços dos fretes internacionais têm subiram substancialmente desde novembro de 2023; no entanto a partir do final de fevereiro os preços começaram a desacelerar do pico, embora ainda muito distante daqueles observados antes dos ataques.
O canal do Panamá que, a depender da rota marítima, se apresentava como uma alternativa ao canal de Suez, tem sofrido com o fenômeno do El Niño e, consequentemente, reduzido o tráfego de embarcações por ele. As situações nos dois canais marítimos têm resultado em alta no preço dos fretes internacionais e, por consequência, tende a produzir efeito sobre os preços de produtos em diferentes cadeias produtivas.
Apesar da expectativa de alta nos preços dos alimentos, não vislumbramos alterações no rumo da política monetária, uma vez que o núcleo de inflação segue tendência estabilizante. Neste sentido, acreditamos ser acertada a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil em dar continuidade ao ciclo de redução da taxa Selic. Para 2024, a APAS projeta que a taxa Selic encerrará em 9,00% a.a.
Semielaborados
A categoria de produtos semielaborados apresentou a quinta alta consecutiva (1,28%) em fevereiro impulsionado pelos aumentos nas subcategorias leite (3,81%), cereais (3,44%) e aves (1,21%). As demais subcategorias apresentaram deflação com destaques para as carnes bovinas (-0,70%) e suínas (-1,85%).
A inflação mensal na categoria de semielaborados contrasta com a deflação acumulada nos últimos doze meses (-2,67%). Esse movimento deve-se em grande medida à forte deflação nas carnes bovinas (-11,43%) e nas carnes suínas (-5,51%); por outro lado, merece destaque a inflação acumulada de 15,41% nos cereais.
Dentro da subcategoria de cereais, o arroz e o feijão têm pressionado a alta na categoria, com variação de 3,84 e 3,40%, respectivamente. O arroz, em decorrências das alterações climáticas e os efeitos diretos sobre a produção do cereal, acumula alta de 31,28% em doze meses. Já o feijão, apesar da alta no início de 2024, segue com deflação de -8,78% nos últimos doze meses.
Industrializados
A categoria de produtos industrializados reverteu a inflação observada em janeiro (0,19%) finalizando fevereiro com deflação de 0,45%. Em doze meses, os preços dos produtos industrializados mantiveram-se relativamente estáveis (0,06%).
A deflação observada em fevereiro pode ser explicada pela queda de preços em oito subcategorias: derivados de leite (-0,77%), cafés, achocolatados, pó e chás (-0,26%), adoçantes (-1,05%), doces (-1,48%), biscoitos e salgadinhos (-0,85%), óleos (-0,13%), massas, farinhas e féculas (-0,76%) e condimentos e sopa (-0,33%). Por outro lado, três subcategorias apresentaram inflação mensal: panificados (0,54%), enlatados e conservas (0,60%) e alimentos prontos (0,36%). Os preços dos derivados de carne permaneceram estáveis no período.
Dentro da categoria de óleos, a deflação mensal decorreu da redução dos preços dos óleos de soja (-1,38%), milho (-2,17%), girassol (-1,66%) e composto (-0,80%). Porém, por outro lado, o azeite segue em alta, motivado pela quebra na produção mundial do produto. Em fevereiro, o azeite ao consumidor final aumentou 3,83%, resultando em alta acumulada 45,6
Importante salientar a queda de 2,55% no preço da margarina, 1,05% no preço do iogurte e 0,20% no valor da muçarela, itens de grande representatividade da categoria de derivados de leite. Outros dois subitens que merecem atenção é a deflação nos chocolates (-0,22%) e nos sorvetes (-3,92%).
No caso específico dos chocolates, apesar da deflação registrada em fevereiro, a APAS acompanha com atenção a evolução dos preços. A produção global de cacau tem sido afetada tanto em decorrência das alterações climáticas quanto de fenômenos climáticos pontuais como Harmattan na África Ocidental, que tem afetado a produção subsaariana de cacau.
Produtos In natura
As condições climáticas adversas impactaram nos preços dos produtos in natura que registraram inflação de 5,09% em fevereiro; no acumulado dos últimos 12 meses, a inflação da categoria foi de 21,83%. Todas as subcategorias apresentaram alta no mês, com destaque para frutas (3,00%), legumes (7,25%), tubérculos (7,40%), ovos (3,49%) e verduras (5,51%).
Na subcategoria de frutas, as maiores contribuições foram do abacaxi (13,48%), da laranja (12,64%), da banana (10,81%) e do melão (10,09%). Por outro lado, é destaque a redução de 30,86% no preço do maracujá. No acumulado dos últimos 12 meses, a Pêra apresentou inflação de 54,17% e os preços da laranja subiram 42,32%; a única fruta que apresentou deflação em 12 meses foi o mamão (-23,18%).
Já entre os legumes, o tomate foi o maior vilão inflacionário com alta de 8,86% nos preços em fevereiro; destaca-se também a inflação de 18,55% na cenoura. Em 12 meses, os dois produtos – que possuem o maior peso – apresentaram inflação de 25,01% (tomate) e 87,99% (cenoura).
Dentro da categoria de tubérculos, todas as subcategorias apresentaram alta tanto mensal como no acumulado dos últimos 12 meses. Em fevereiro, a cebola apresentou alta de 14,95% enquanto o alho cresceu 7,01% e a batata 3,04%. Analisando no acumulado dos últimos 12 meses, a batata inflacionou 72,66%, a cebola 29,88% e alho 15,91%.
Já na subcategoria das verduras, todos os itens apresentaram inflação mensal exceto agrião (-0,73%) e brócolis (-0,55%). No acumulado de 12 meses, apenas o couve-flor apresentou deflação (-3,00%).
Bebidas
O mês de fevereiro apresentou dados favoráveis com relação à inflação das bebidas: enquanto as bebidas não alcoólicas apresentaram inflação de 0,02%, as bebidas alcoólicas sofreram deflação de -0,54%. No entanto, no acumulado dos últimos 12 meses, ambas subcategorias apresentaram inflação: bebidas não alcoólicas (3,86%) e alcoólicas (4,36%).
Dentro da subcategoria de bebidas não alcoólicas, todos os itens apresentaram inflação no mês de fevereiro exceto suco de frutas que teve deflação de 1,83%. Em 12 meses, a inflação dos refrigerantes (2,76%) e pó para refresco (3,27%) foram os destaques.
Já na subcategoria de bebidas alcoólicas, a cerveja, que deflacionou 0,92%, foi o item que mais contribuiu para a deflação da categoria. Na análise do acumulado dos últimos 12 meses, a cerveja também foi o principal vetor de inflação com expansão de 4,23%.
Artigos de limpeza e Produtos de higiene e beleza
Os artigos de limpeza e produtos de higiene apresentaram, novamente, deflação mensal: 1,52% e 0,37% respectivamente. Sabão em pó continua sendo a maior contribuição deflacionária nos artigos de limpeza com queda de 2,33%; por outro lado, papel higiênico foi o principal vetor de deflação para os produtos de higiene e beleza (-0,36%).
No acumulado dos últimos 12 meses, os artigos de limpeza também apresentaram deflação (-4,62%) enquanto os produtos de higiene e beleza sofreram inflação de 2,25%.