O Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) em parceria com a FIPE, acelerou em março, passando de 0,41%, em fevereiro, para 0,57% no último mês. O resultado foi impulsionado pela alta de 0,59% no grupo alimentos e bebidas e 1,03% no grupo de artigos de higiene e beleza; os artigos de limpeza apresentaram deflação de 0,11% no mês.
A inflação no grupo de alimentos e bebidas foi disseminada em todas as categorias. O principal destaque foi do grupo de bens industrializados que apresentou inflação de 0,20% em março ante uma deflação de 0,45% em fevereiro; na comparação anual, em março de 2023 também os bens industrializados apresentaram deflação de 0,33%.
No acumulado do ano, o IPS apresenta alta de 1,73%, influenciado pelos preços dos produtos in natura (9,66%) e semielaborados (3,85%). Por outro lado, a deflação de 2,04% dos artigos de limpeza impediu alta mais forte no indicador.
A pressão inflacionária do grupo alimentos e bebidas dentro do IPS-APAS condiz com o observado no IPCA. O índice divulgado pelo IGBE mostra que dos 0,16% de alta do mês de março, 0,11%, foi do grupo alimentos e bebidas – vale destacar que o grupo alimentos e bebidas apresentou inflação de 0,53% no mês, semelhante ao observado no IPS-APAS (0,59%).
A expectativa da APAS para o ano de 2024, é de que o IPS encerre o ano em 4,2%. O cenário projetado pela APAS apoia-se tanto nas projeções de safra deste ano quanto na análise atenta das conjunturas doméstica e internacional.
- O 7º Levantamento da Safra de Grãos realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) piorou a previsão da colheita de grãos na safra 2023/2024 na comparação com o levantamento anterior. A previsão mais atual é uma colheita de 294,1 milhões de toneladas, queda de 8,0% na comparação com a safra anterior.
- As safras que poderão sofrer as principais quedas são milho e soja; por outro lado arroz, gergelim e, principalmente, feijão têm perspectiva de crescimento de produção.
- A persistência dos conflitos geopolíticos, principalmente no Oriente Médio, com a escalada nas tensões entre Israel e Irã, pode produzir efeitos sobre diferentes mercados, inclusive o de petróleo. O preço dos fretes tem apresentado quedas semanais, mas ainda estão bastante acima do observado no período pré- conflito no Oriente Médio.
- Importante salientar a subida do preço do petróleo nos últimos dias tem aumentado a defasagem de preços do combustível no mercado interno. Caso a Petrobras reverta, em partes, a política de ajustes de preços, poderá provocar um repique inflacionário no preço de prazo.
Deve-se destacar que no âmbito da política monetária, a alteração na comunicação do Banco Central do Brasil pode ter indicado que haverá apenas mais um corte de 0,5 p.p. na taxa básica de juros na próxima reunião; após isso, a autoridade monetária pode iniciar uma desaceleração na intensidade dos cortes, a depender do desenvolvimento do cenário macroeconômico nacional e internacional.
Com relação ao cenário internacional, vale destacar a condução da política monetária nos Estados Unidos. Os dados recentes do IPC indicam inflação maior do que o esperado pelo mercado, indicando que, provavelmente, o FED não altere a taxa de juros no primeiro semestre; mais do que isso, o mercado de trabalho robusto e uma inflação acima do esperado, pode postergar ainda mais o afrouxamento monetário nos Estados Unidos.
Caso esse cenário nos Estados Unidos se concretize, deveremos ter pressões de desvalorização do Real (flutuando acima dos R$5,00/US$) o que também pode contribuir para a redução na intensidade dos cortes na taxa SELIC.
Semielaborados
A categoria de produtos semielaborados apresentou a sexta alta consecutiva (0,52%) em março, evidenciando a desaceleração após o pico observado em janeiro (2,01%).
A alta mensal foi influenciada pela expansão de 2,22% nos preços das aves, 3,43% no preço do leite e 0,92% no preço dos cereais; essa expansão só não foi maior porque o preço das carnes bovinas (maior peso no indicador) sofreu deflação de 2,10% no período.
Com base em informações da CONAB, os aumentos na produção de arroz e feijão tendem a exercer pressão desinflacionária nesses produtos nos próximos meses. Durante o primeiro trimestre do ano, o arroz apresentou alta de 8,3%, acumulando inflação de cerca de 30%em doze meses, enquanto o feijão aumentou 16,27% entre janeiro e março, porém, no acumulado em 12 meses, ainda acumula queda de -5,5%. A queda no preço desses produtos é esperada por diferentes instituições, inclusive o Banco Central do Brasil, que projeta queda a partir do segundo semestre do ano.
Por outro lado, a redução na produção de soja e milho podem encarecer o preço de rações e, por conseguinte, das proteínas animais (bovina, suína e aves).
O caso específico do preço do frango é exemplar. Entre janeiro e março, o preço do frango ao consumidor final inflacionou 4,73%, maior alta dentre as proteínas animais.
Em sentido oposto ao preço do frango, as carnes bovinas deflacionaram -2,1% em março, de modo que acumulam retração de -2,06% no ano e -11,59% em doze meses. Dentre os diferentes cortes bovinos, apenas os cortes menos nobres apresentam alta nos primeiros meses do ano, como o acém (1,12%), braço (0,92%) e músculo (0,91%). Já os cortes que acumula as maiores retrações nos primeiros meses de 2024 são fígado (-17,62%), fraldinha (-7,04%) e filé mignon (-6,18%).
O preço do leite ao consumidor final registrou alta de 3,43% em março, totalizando inflação de 9,49% no primeiro trimestre do ano. O aumento do preço do leite que ocorre desde os últimos meses de 2023 é fruto da menor produção interna e do acirramento do conflito entre cooperativas de produtores e laticínios. Conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da USP, a redução na oferta de leite é decorrente das alterações climáticas, que afetaram a produção interna. Além disso, segundo o CEPEA, as margens espremidas dos pecuaristas têm levado à redução dos investimentos na produção, o que, consequentemente, afeta a capacidade de oferta de médio e longo prazo.
Industrializados
A categoria de produtos industrializados reverteu a deflação de fevereiro e apresentou alta de 0,20% em março. No acumulado do ano, há módica deflação de -0,06%.
A inflação mensal é fruto principalmente do aumento nos derivados do leite (0,39%), panificados (1,25%) e cafés, achocolatados, pó e chás (1,35%). A muçarela, o pão francês e o café em pó podem ser apontados como os maiores responsáveis pelo resultado de alta.
Em sentido oposto, quatro segmentos foram deflacionários no mês de março: derivados de carne (-1,03%), doces (-1,01%), óleos (-1,67%) e alimentos prontos (-0,13%).
No acumulado do ano, merecem destaque os derivados de leite, que, apesar da alta do leite ao consumidor final, acumula redução de -0,68%.
Produtos In natura
Os produtos in natura são aqueles que estão mais sujeitos a serem impactos em decorrência dos fenômenos climáticos e por isso são os que tem apresentado inflação mais persistente ao longo do ano. No mês de março, a alta foi de 1,41%, uma desaceleração na comparação tanto com o mês de fevereiro (+5,09%) quanto com o mesmo período do ano anterior (+3,60%).
No mês de março, todos os grupos apresentaram crescimento nos preços com exceção dos tubérculos que tiveram deflação de 2,05%. Embora os ovos tenham peso pequeno no indicador, eles apresentaram inflação de 6,85% na comparação mensal. Nas frutas, maior peso no indicador total, o destaque foi para a inflação de 16,06% no preço do limão; Por outro lado, o maracujá continua em queda (-21,46% em março) e a pera e a maça deflacionaram -6,11% e -1,38% em março, respectivamente. Nos legumes, o preço do tomate sofreu aumento de 6,19%, enquanto o quiabo (-17,19%) e a berinjela (-19,21%) apresentaram forte queda em março.
Bebidas
O grupo de bebidas apresentou inflação mensal nos seus dos segmentos: bebidas alcoólicas (0,87%) e bebidas não alcoólicas (2,04%). Ambas as categorias também apresentam inflação no acumulado do ano: 0,69% e 1,98% respectivamente.
Dentro do segmento das bebidas alcoólicas, a inflação mais relevante no mês veio das cervejas (0,92%), seguido do vinho (1,31%); por outro lado, no segmento das bebidas não alcoólicas, as maiores contribuições vieram dos refrigerantes (2,26%) e suco de frutas (2,95%).
Artigos de limpeza e Produtos de higiene e beleza
Os artigos de limpeza novamente apresentaram deflação mensal (-0,11%), a oitava em sequência; na comparação com março de 2023, o resultado surpreendeu, pois no ano passado houve inflação de 0,03%. O destaque dentro do grupo é a deflação do sabão em pó: 0,87% mensal.
Já os artigos de higiene e beleza apresentaram crescimento nos preços (1,03%) revertendo a sequência de quatro meses com deflação. O resultado de março de 2024 mostra uma aceleração na inflação quando comparado ao mesmo mês de 2023. Chama a atenção o crescimento de 5,07% nos preços das fraldas descartáveis e 1,48% no creme dental.