Redes de lojas de médio porte oferecem descontos de até 10% nos preços para o consumidor que optar pelo pagamento em cheque ou dinheiro. A intenção é repudiar as altas taxas cobradas pelas administradoras de cartões, que, segundo os lojistas, variam de 3% a 6% do valor da transação, além do aluguel do equipamento.
As administradoras alegam que taxa é menor, de 2,5%, em média, e lembram que, ao diferenciar preços de pagamentos, o lojista está quebrando o contrato com a administradora.
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As cinco lojas da rede New Order, especializada em calçados, por exemplo,oferecem abatimento de 10% se o pagamento for em cheque à vista ou dinheiro. Em contrapartida, a varejista mantém o preço cheio para as vendas com cartão crédito ou débito. Procurada pelo Estado, a direção das franquias da rede em São Paulo não quis comentar a política comercial.
Outra rede média de calçados, que prefere não ser identificada, confirma que dá descontos de até 5% para o cliente que paga com cheque à vista ou dinheiro. De acordo com o gerente da empresa, a intenção é dividir com o cliente o ganho que a rede obtém ao deixar de pagar a taxa de administração.
Preferimos dar um desconto ao cliente equivalente ao gasto com o estacionamento a pagar essa taxa para administradora.Segundo ele, o benefício só é oferecido a clientes cujo risco de inadimplência é baixo.
Na análise do economista da Associação Comercial de São Paulo, Emilio Alfieri, um dos fatores que contribuem para que os lojistas ofereçam descontos no cheque é o recuo da inadimplência nessa modalidade de pagamento. O último dado disponível revela que o calote do cheque em agosto foi de 1,89% do total de cheques compensados, a menor marca em dois anos.
O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Jair Scalco, diz que a entidade não tem conhecimento de que as administradoras cobrem taxas acima de 4,5%. Na média, a taxa é de 2,5% .
Segundo ele, o real motivo que leva estabelecimentos repudiarem o cartão é a sonegação. Eles querem fugir dos impostos. Ele explica que, se as vendas ultrapassarem R$ 10 mil, as administradoras são obrigadas a repassar as informações para o Fisco, que cruza os dados com o faturamento declarado pela empresa.
Já o dono da padaria Deli Paris, Charles Bigot, não quer dor de cabeça com as administradoras de cartões. Em nove anos de funcionamento, nunca aceitei cartões. Prefiro receber o pagamento à vista e cobrar um preço menor.
O músico Luiz Cláudio Sândalo é outro que não gosta de cartões. Quando o valor da minha compra é baixo, pago com dinheiro mesmo. Ele acredita que, se mais estabelecimentos abolirem o cartão, os preços poderão cair ainda mais.
Fonte: O Estado de São Paulo