O consumo alimentar da população brasileira combina a tradicional dieta à base de arroz e feijão com alimentos com poucos nutrientes e muitas calorias. Além disso, a ingestão diária de frutas, legumes e verduras está abaixo dos níveis recomendados pelo Ministério da Saúde (400g) para mais de 90% da população. É o que revela o estudo “Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil”, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde, uma publicação da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009.
Já as bebidas com adição de açúcar (sucos, refrescos e refrigerantes) têm consumo elevado, especialmente entre os adolescentes, que ingerem o dobro da quantidade registrada para adultos e idosos, além de apresentarem alta frequência de consumo de biscoitos, linguiças, salsichas, mortadelas, sanduíches e salgados e uma menor ingestão de feijão, saladas e verduras.
O estudo aponta também que a ingestão de alguns componentes de uma dieta saudável, como arroz, feijão, peixe fresco e farinha de mandioca, diminui à medida que aumenta o rendimento familiar per capita. Já o consumo de pizzas, salgados fritos, doces e refrigerantes se eleva. A ingestão de frutas, verduras e laticínios diet/light também aumenta com a renda.
Entre as prevalências de inadequação de consumo (percentuais de pessoas que ingerem determinado nutriente em níveis abaixo das necessidades diárias ou acima do limite recomendado) destacam-se o excesso de gorduras saturadas e açúcar (86% e 61% da população, respectivamente) e escassez de fibras (68% da população).
Para a realização da pesquisa, foram coletadas informações sobre a ingestão individual de alimentos dos moradores com 10 anos ou mais de idade, distribuídos nos 13.569 domicílios selecionados a partir da amostra original da POF-2008-2009, que contou com 55.970 domicílios. Pela primeira vez, foram levantadas informações sobre a ingestão de alimentos fora do domicílio.
Alimentos congelados
Para o vice-presidente e diretor de Economia da APAS, Martinho Paiva Moreira, o crescimento do consumo dos chamados “supérfluos” deve-se a vários fatores, como o aumento do poder de compra e da renda, principalmente das classes C, D e E, que antes não consumiam esses tipos de produtos, incluindo bebidas em geral, enlatados, congelados, sobremesas e massas prontas.
Segundo Moreira, o consumo de produtos como bebidas alcoólicas e não alcoólicas também vem crescendo acima da média da cesta básica de produtos. Enquanto a cesta cresce 5,7%, a categoria de bebidas alcoólicas aumenta 7,9%, e bebidas não-alcoólicas 9,6%. “Os considerados congelados e refrigerados atingem 11,3% de participação no segmento de perecíveis. E estimativa aponta que 3,5% do valor do total das compras dos consumidores nos supermercados são destinados aos congelados e refrigerados”, completa.
