A redução da pobreza e da desigualdade no Brasil ainda se assenta sobre bases frágeis, pois foi puxada pela oferta de empregos de baixa remuneração no setor de serviços e comércio. É o que aponta estudo divulgado nesta quinta-feira (4 de agosto) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o levantamento do órgão federal, dos 2,1 milhões de novos postos de trabalho criados por ano na década de 2000, 95% pagavam até 1,5 salário mínimo (R$ 817,5). Enquanto isso, a cada ano foram eliminadas 397 mil vagas com salário de três mínimos ou mais.
O fenômeno está ligado à mudança na estrutura da produção, afirma o presidente do Ipea, Marcio Pochmann. “Não é mais a indústria que comanda, são os setores de serviços”. Na década, esses setores geraram 2,3 empregos para cada vaga na indústria – a relação era de 1,3 nos anos 1970. Serviços e comércio respondem agora por 57,6% da ocupação, contra 42,6% nos anos 1980. A proporção da indústria e da construção civil (24%) não mudou. “A sustentação dos êxitos recentes não depende só da qualificação da mão de obra. Para o longo prazo, é preciso ampliar a oferta de empregos que sejam de maior remuneração”, diz Márcio Pochmann.
O estudo destaca que, em boa parte devido a aumentos reais do mínimo, o crescimento do emprego concentrado na base salarial contribuiu para reduzir a fatia de pobres na população ativa, de 37,2% em 1995 para 7,2% em 2009.
Na classificação do instituto, a maior parte do contingente de novos assalariados foi engrossar o “nível inferior” da população ativa: “Não é mais pobre, mas tampouco de classe média. Enquanto isso, a parcela que o Ipea classifica como de “nível médio” (combinando renda a fatores como escolaridade, consumo e moradia), se manteve em 32,2%.
Fonte: Diário do Nordeste
