Os investidores do Brasil e do mundo estão atentos às últimas notícias econômicas: crise nos principais países europeus, títulos norte-americanos sendo rebaixados e suposta falta de apoio e aderência aos planos do governo da Casa Branca. Na Ásia, o momento é de uma China que cresce, mas ainda possui problemas preocupantes e de um Japão estagnado há aproximadamente 20 anos, e que depois do episódio do tsunami tende a se recuperar de maneira lenta. O diretor de Economia da APAS, Martinho Paiva Moreira, acredita, no entanto, que a crise não deve trazer impactos imediatos ao setor supermercadista brasileiro, caso o mercado interno continue sendo impulsionado.
As iniciativas privadas surgem como oportunidades para suprir receitas antes advindas dos demais países do mundo. “O mundo em crise consome menos produtos brasileiros, portanto, investir no mercado interno pode significar a manutenção das vendas totais”, explica Moreira. Neste cenário, os empresários podem aproveitar os grandes eventos mundiais, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, para alavancar ainda mais esse crescimento do mercado interno.
“No Brasil, o momento é de cautela, e embora o país ainda aponte crescimento econômico, deverá ser afetado de alguma maneira diante do cenário mundial, caso ações especificas não sejam tomadas por iniciativas públicas e privadas”, analisa o diretor de Economia da APAS. Para Moreira, o governo terá grande êxito se incentivar setores específicos da economia brasileira que possam suprir a incapacidade de produção para o setor externo. “O importante é manter o ritmo de geração de renda, mesmo que isso implique em abrir mão de alguns setores em detrimento de outros. Em momentos de crise de âmbito mundial, o incentivo ao mercado interno é muito importante. Deixar a economia aquecida internamente é uma das maneiras de manter a renda da população sem grandes alterações”, opina.
“A se iniciar pela redução da taxa de juros, o Brasil tem na crise mundial a oportunidade de reduzir as elevadas taxas vigentes, e, assim, impulsionar o mercado interno, por meio do incentivo ao investimento dos empresários de todos os setores”, afirma o diretor. Mais investimentos se traduzem em aumento de emprego e renda, o que por sua vez impacta positivamente no consumo das famílias e na geração de um círculo virtuoso para a economia brasileira.
O maior efeito da crise deve ser sentido em segmentos dependentes de crédito, já que deve haver mais restrições à concessão de empréstimos, como redução de prazos, por exemplo. “Mas isso só ocorrerá se não houver antecipação por parte da política monetária e redução dos juros. Do contrário, enquanto o emprego e a renda dos consumidores se mantiverem haverá consumo, principalmente, de alimentos e bebidas”, informa. “Em algum grau, produtos supérfluos e produtos relacionados à higiene, beleza, cuidados pessoais e artigos de limpeza podem ser afetados. Mas, no contexto geral, o consumo deve ao menos se manter a patamares relativamente estáveis. O cronograma de encomendas para o fim do ano não deve se alterar e a expectativa é que neste ano haja crescimento em relação a 2010 no faturamento dos supermercados”, conclui.
