A Associação Paulista de Supermercados (APAS) avalia que a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil em manter inalterada os juros básicos da economia, a taxa SELIC, em 11% ao ano, apresenta duas variáveis: a preocupação na busca pelo controle da inflação ao longo do tempo e, por outro lado, a necessidade de não prejudicar ainda mais a dinâmica da atividade econômica. Desta maneira, a autoridade monetária sinaliza que busca uma inflação dentro da meta estipulada para 12 meses. No entanto, a decisão continua a impactar de maneira negativa nas projeções de crescimento para a economia brasileira, que desacelerou. O mercado de trabalho, o consumo de bens duráveis e o mercado de crédito também trilharam o mesmo caminho e, portanto, o cenário atual demanda uma revisão na condução da taxa de juros na economia brasileira.
A nota divulgada pelo Banco Central, após a decisão, expressa a cautela em relação à análise dos indicadores econômicos: “Avaliando a evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 11% ao ano, sem viés”. Talvez, a autoridade monetária tenha verificado que a elevação dos juros é condição necessária, mas não suficiente para a queda da inflação. Vale ressaltar que, mesmo diante do atual patamar da SELIC em 11%, a inflação continua persistente e o ritmo da atividade econômica vem sendo impactado negativamente.
Ainda em nota, ao expressar que “O comitê irá monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”, o Banco Central deixa em aberto a possibilidade de continuidade na elevação da SELIC, embora em um ritmo mais moderado nos próximos meses. Desta maneira, ainda há a possibilidade de elevações de 0,25 pontos percentuais, porém, provavelmente, só após as eleições.
Mesmo diante do atual patamar de juros, a inflação oficial projetada para 2014 está em 6,47%, ou seja, superior à verificada em 2013, de 5,91%. Vale ressaltar que o impacto da taxa de juros na economia possui dois efeitos básicos: o imediato e o defasado. O primeiro está relacionado ao impacto nas expectativas em relação a uma inflação menor no futuro, além do efeito defasado, que perdura, em média, ao longo de mais 4 a 6 meses sobre a atividade econômica em geral. Ou seja, mesmo com a elevação constante e prolongada da taxa de juros, a inflação em 12 meses não vem recuando, o que preocupa a evolução de outras variáveis importantes da economia, tais como a renda. Isso porque, inflação maior tende a impactar a renda real, por meio da perda do poder de compra, o que impacta o consumo das famílias de modo geral.
Vale ressaltar que a preocupação em relação à inflação não é pontual. A preocupação é a tendência altista dos preços ao longo dos últimos anos. Ou seja, a inflação que preocupa não é a inflação pontual de 2014, e sim a persistência da inflação em se manter em um patamar elevado, como verificado nos anos recentes. Para comparação, a média de inflação de 2007 a 2014 (8 anos) é de 5,62%, inferior a inflação projetada para 2014, que é de 6,47%. Se analisarmos este período separadamente, a inflação também se encontra em patamar mais elevado. A inflação média para o período de 2007 a 2010 foi de 5,15%, enquanto que a inflação para o período de 2011 a 2014 deve atingir 6,09%, percentual superior ao período imediatamente anterior.
Estamos diante de um quadro inflacionário mais resistente e persistente do que o esperado, mas que deve perder força nos próximos meses, quando o aperto monetário realizado ao longo dos últimos meses se refletir em desaquecimento da economia e consequente desaceleração dos preços, mas não sabemos até que ponto este processo desinflacionário trará impacto no crescimento econômico brasileiro para 2014. De modo geral, a alta dos juros traz mais impacto ao crescimento econômico do que a um processo de desaceleração da inflação, principalmente, no que diz respeito aos preços de alimentos e bebidas. A preocupação é que esta alta traga um recuo da inflação, mas sob a pena de um crescimento por mais um ano abaixo de esperado.
