O atual momento econômico desencadeou uma inflação de 10,67% em 2015 segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), maior valor desde 2002. Já considerando o Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela APAS/FIPE e que leva em consideração apenas este segmento do comércio, a inflação atingiu 11,33% no ano. É o segundo maior índice registrado em toda a série histórica, iniciada em julho de 1994.
Para a APAS (Associação Paulista de Supermercados), o descontrole da inflação foi reflexo do descaso da política econômica nos últimos anos. “O governo teve papel fundamental neste resultado desastroso por dois motivos: porque a política econômica, ao longo dos últimos anos, tolerou erroneamente uma inflação mais elevada e persistente, e porque pesou a mão nos reajustes dos preços administrados em 2015”, afirma o presidente da APAS, Pedro Celso Gonçalves.
A situação é semelhante a 2002, em que o risco-país e o dólar dispararam pressionando a inflação, mas desta vez com um agravante: a dívida pública é muito superior e próxima à insustentabilidade, e o Banco Central do Brasil sinaliza a possibilidade de aumentar a taxas de juros para segurar a inflação. “Isso acarretaria em pressão sobre as contas públicas, elevando a dívida brasileira e forçando o governo a manter a condução do tripé macroeconômico, exigindo medidas para o ajuste fiscal necessário”, reforça.
A preocupação da APAS é que o Brasil repita a realidade da economia da Grécia, que não conseguiu sustentar a dívida pública, o que desencadearia problemas para a economia real, como o impacto em empregos e no consumo, pois a divida pública brasileira é mais onerosa do que a grega. Neste cenário, o problema seria de ordem ainda não prevista. Entretanto, a Associação já prevê os desdobramentos: disparada do dólar, juros altos, inflação elevada e aumento do desemprego.
O presidente da entidade entende que, com a entrada do novo Ministro da Fazenda Nelson Barbosa, o governo tomará medidas que no curto prazo podem aparentemente resolver a situação, como afrouxar o crédito para que a economia comece a retomar o crescimento. “Tomar esta medida sem no entanto investir em infraestrutura, em produtividade e em reformas tributária e trabalhista que há décadas deveriam ter sido feitas certamente irá fomentar ainda mais a inflação”, considera Pedro.
A APAS defende ainda que a solução para o país vai além. É necessário um papel protagonista do governo em realizar uma melhor gestão do orçamento público, além do combate efetivo à corrupção em todos os setores. O presidente da entidade menciona exemplos de sucesso de governos estaduais e prefeituras que, a partir da parceria com empresários, contrataram consultorias especializadas, aprenderam a enxugar gastos e a gerir processos com eficácia, sem precisar aumentar ainda mais a já alta carga tributária.
“Os governos de Minas Gerais e Pernambuco, e mais recentemente Mato Grosso, Rio de Janeiro e Bahia, além de muitos municípios, realizaram este trabalho e aplicaram um choque de gestão em suas respectivas administrações. Estimativas indicam cerca de R$14 bilhões em aumento de ganho de receitas, com eficiência na máquina de arrecadação, além de corte de despesas. É um belo exemplo a ser seguido e divulgado”, diz Pedro, opinando ainda que existem remédios eficientes – o que falta é vontade politica para o país retomar a estabilidade econômica e proporcionar bases sólidas para a recuperação da economia.