O custo dos chamados Green Buildings, edificações ambientalmente corretas, é superestimado em 300%, segundo uma pesquisa lançada esta semana pelo Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla em inglês).
O estudo afirma que os principais atores do mercado imobiliário e da construção civil mundial julgam erroneamente os custos e os benefícios das construções verdes, criando uma grande barreira para uma maior eficiência energética no setor. O WBCSD é uma associação de 200 empresas, de mais de 35 países e 20 maiores setores industriais do mundo, que trabalham como advogadas dos negócios para o desenvolvimento sustentável.
Através da respostas de 1,4 mil pessoas de todo o globo, a pesquisa estimou que o custo para tornar uma construção verde é 17% acima do convencional, mais do que triplicando o verdadeiro custo de cerca de 5%. Ao mesmo tempo, os entrevistados disseram que as emissões de gases do efeito estufa vindo de edificações respondem por 19% do total mundial, enquanto que o número verdadeiro é o dobro disto, ficando na marca de 40%.
Para atingir um novo patamar de eficiência energética nos edifícios, são necessárias fortes políticas e regulamentações. Governos e autoridades locais precisam desenvolver estas políticas, afirmou o presidente do WBCSD, Bjorn Stigson.
Os dados foram divulgados no relatório chamado Eficiência Energética em Edifícios: As realidades e oportunidades nos negócios (clique em http://www.wbcsd.org/DocRoot/MGZ84Tu645qCHVrHwCtl/EEB
SummaryReportFINAL.pdf para fazer o download do arquivo em inglês) que resume a primeira fase de um projeto do WBCSD, em parceria com a francesa Lafarge, líder mundial em materiais de construção, e com a norte-americana United Technologies Corporation, especializada em produtos e serviços de alta tecnologia para as indústrias de construção e aeroespacial.
O boom da construção global nos países em desenvolvimento tem criado uma tremenda oportunidade para construir-se diferentemente e dramaticamente diminuir a demanda energética, disse o chefe-executivo da United Technologies Corporation, George David.
A tecnologia existente combinada com o design comum, segundo David, pode aumentar a eficiência energética em 35% e reduzir os custos com aquecimento em 80% para um edifício padrão no mercado industrial.
O mundo passa por uma rápida transformação, com forte crescimento demográfico e econômico, guiando um movimento em direção da urbanização em uma escala sem precedentes. Nós, como líderes da indústria, temos a responsabilidade de assegurar que este crescimento seja atingido de uma maneira sustentável, comentou o presidente e chefe-executivo da Lafarge, Bruno Lafont.
Lafont explica que a análise do ciclo de vida dos edifícios mostra que 80 a 85% do total de energia consumido e emissões de CO2 vêm do uso de aquecimento, resfriamento, ventilação e água quente. Se nós queremos fazer algo de impacto quanto às mudanças climáticas, então devemos atacar isto. Combinar os materiais certos na projeção de um edifício pode promover uma grande redução na necessidade energética, aumentar a vida útil e garantir uma performance consistente com o passar do tempo, disse.
O estudo ainda revela que menos de uma em cada sete indústrias questionadas participaram diretamente em projetos de construções verdes. O envolvimento varia de 45% na Alemanha a apenas 5% na Índia. Cerca de 20% dos arquitetos e engenheiros tem se envolvido nesses projetos, comparado com apenas 9% dos proprietários.
Os edifícios já representam aproximadamente 40% do uso de energia primária usada globalmente e o consumo deve aumentar substancialmente nos países mais populosos e com os maiores crescimentos, como a China e a Índia.
CONTEXTO BRASILEIRO
No Brasil, o debate é bastante recente e a primeira instituição a ser criada nesta área foi o Green Building Council Brasil (GBC Brasil), constituído neste ano. Com sede em São Paulo, o órgão é o representante do World Green Building Council no Brasil, cuja missão é desenvolver e incentivar a indústria de construção sustentável no País, transformando em um dos líderes em construções sustentáveis no mundo. O GBC Brasil terá a função de adaptar os requisitos brasileiros para o processo de conquista da mais reconhecida e respeitada certificação sustentável do mundo, o Leed.
Adotar novas práticas sustentáveis no processo de construção traz diversos benefícios desde o custo inicial do empreendimento até o ciclo de vida do imóvel. Esse gasto pode até ser menor do que na construção convencional em razão da curva de aprendizado, economia de escala, escassez de recursos e aspectos da legislação, afirma Renato Diniz, diretor de novos negócios da incorporadora Rossi, que acaba de se tornar membro-fundadora do GBC Brasil.
Em depoimento para o Blog Projetando (n)o mundo, o professor do Departamento de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Vanderley John, diz que tanto a certificação Leed quanto a francesa Haute Qualité Environnementale (HQE) são sistemas ótimos, mas que não foram feitos para o Brasil.
Para ele, a certificação tem um objetivo de marketing e não necessariamente eleva a sustentabilidade da construção civil brasileira. Ainda segundo John, as empresas podem produzir um edifício adequado ao sistema de certificação, mas manter o padrão tradicional nos demais.
Na avaliação do professor da Poli-USP, não basta que a construção seja considerada verde para ser sustentável. Hoje há muitos produtos vendidos como verdes, mas existem telhas recicladas que não duram dois anos e depois viram resíduos. Se o produto tiver de ser substituído rapidamente não é sustentável.
BRASIL TERÁ PRIMEIRA TERMELÉTRICA A CAPIM DO PLANETA
(Fonte: Instituto Akatu)
A partir de dezembro do próximo ano, o município de São Desidério, na Bahia (a 869 km a oeste de Salvador, na divisa com Goiás e Tocantins), será o primeiro do planeta a gerar energia elétrica a partir de capim.
As empresas brasileiras Sykué Bioenergya e Dedini assinaram, no dia 18 de julho, contrato para a instalação de uma usina termelétrica que vai gerar 30 MW, usando como combustível a biomassa do capim elefante. A maior parte das termelétricas movidas a biomassa (material orgânico cultivado) no Brasil usa bagaço da cana.
Com investimento de R$ 80 milhões, o projeto prevê início das operações em 16 meses.
É um capim semelhante ao napiê que é usado geralmente para alimentar o gado. É uma energia renovável, limpa e barata, disse o superintendente da Divisão de Energia da Dedini, Jayme Schutz.
O capim elefante será plantado em uma área de 4.000 hectares, segundo a empresa. O projeto será capaz de gerar 1 milhão de toneladas anuais em créditos de carbono. Isso equivale a 47 dias de emissão de todo o trânsito da cidade de São Paulo, de acordo com dados da prefeitura.
A energia dessa primeira usina será vendida, obedecendo à regulamentação da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), entre os consumidores livres do país através da rede nacional. Funciona de maneira semelhante a um banco: a Sykué deposita a energia gerada na Bahia na rede nacional e saca energia em qualquer parte do Brasil para abastecer um cliente. Segundo a empresa, um dos compradores será o Grupo Pão de Açúcar.
OS PAÍSES RICOS ESTÃO EM DÍVIDA COM O MEIO AMBIENTE
Wangari Maathai
Prêmio Nobel da Paz 2004, membra do Parlamento do Quênia e fundadora do Green Belt Movement
(Fonte: ECO21)
A África será o continente mais prejudicado pelas mudanças climáticas. Chuvas e inundações imprevisíveis, secas prolongadas e rápidas desertificações, entre outros sinais do aquecimento global, já começam a mudar a face da África. Os pobres e os mais vulneráveis do continente serão particularmente golpeados pelos efeitos do aumento da temperatura, que em algumas regiões estão subindo duas vezes mais rápido do que no resto do mundo.
Nos países ricos, a iminente crise climática é motivo de preocupação já que afetará tanto o bem-estar das economias quanto as vidas das pessoas. Mas na África, região que apenas contribuiu para o fenômeno porque suas emissões de gases causadores do efeito estufa são minúsculas em comparação com as do mundo industrializado, se tratará de uma questão de vida ou de morte.
A África não pode permanecer em silêncio diante das realidades das mudanças climáticas e de suas causas. Por esta razão, quando os chefes de Estado do G-8 realizaram sua última reunião, em Heiligendamm, na Alemanha, enviei-lhes uma petição exortando os países industrializados a dar o exemplo, já que eles são amplamente responsáveis pela mudança climática e a eles cabe dar os passos mais decisivos para combatê-la.
Como os maiores contaminadores, as nações industrializadas também têm a responsabilidade de ajudar os países menos desenvolvidos da África a reduzir sua vulnerabilidade e incrementar sua capacidade para se adaptar à mudança do clima. Sabemos que existe um forte vínculo entre o meio ambiente, as formas de governo e a paz.
É essencial que ampliemos nossas definições de paz e segurança para incluir nelas o manejo responsável dos limitados recursos existentes no planeta, bem como uma distribuição mais eqüitativa. Muitos dos conflitos e das guerras que ocorrem no mundo são sobre acesso, controle e distribuição de recursos como a água, os combustíveis, as pastagens, os minerais e a terra. Bastaria ver o que ocorre em Darfur.
Em décadas recentes o deserto se estendeu no oeste do Sudão devido a secas e chuvas irregulares que em parte podem ser atribuídas à mudança climática. Como resultado disso, os agricultores e os pastores se enfrentaram pela escassez de terras aráveis e de água, o que foi aproveitado por líderes inescrupulosos que usaram estes conflitos para provocar uma violência em massa. Centenas de milhares de pessoas foram assassinadas e muitas mais tiveram que abandonar suas casas em meio a campanhas de intimidação, violações e seqüestros.
Mas com uma melhor administração dos recursos e com o reconhecimento dos vínculos entre o manejo sustentável dos recursos limitados e os conflitos temos mais possibilidades de evitar as causas primordiais dos conflitos civis e, portanto, de criar um mundo mais pacífico e seguro. O meio ambiente porém, se deteriora lentamente e isso pode não ser notado pela maioria das pessoas. Se elas são pobres ou se são egoístas ou invejosas, estarão mais preocupadas com sua sobrevivência, pela satisfação de suas necessidades imediatas ou de seus desejos do que com as conseqüências de suas ações.
Infelizmente, a geração que destrói o meio ambiente não costuma pagar o preço correspondente. Serão as futuras gerações que deverão sofrer as conseqüências das atividades destrutivas da atual geração.
Em questão de mudança climática estamos chamados a empreender ações. Muitos países do mundo que têm grandes florestas e uma considerável vegetação que cobre suas terras conservam sua biodiversidade e gozam de um ambiente saudável e limpo. Mas alguns estão dedicados a um destrutivo desmatamento e a estragos de biodiversidade em florestas distantes de suas fronteiras.
É urgente que vejamos o mundo como um todo e que procuremos proteger não só o meio ambiente local, mas também o global. Sente-se uma constante pressão para sacrificar florestas a fim de dar espaço a assentamentos humanos, cultivos ou indústrias. Essas pressões não farão mais do que aumentar em um mundo afetado pelo aquecimento atmosférico e no qual o clima será mais irregular.
Para certos políticos interessa mais sacrificar o bem comum a longo prazo e a responsabilidade entre gerações frente à conveniência e às oportunidades do momento atual.
Mas moralmente, é necessário que atuemos pelo bem comum de todos. E que assumamos a responsabilidade de proteger os direitos das próximas gerações e de todas as espécies. O desafio global da mudança climática requer que exijamos isso de nossos líderes e de nós mesmos.
A ÁGUA, NOVO OBJETO DE DESEJO DAS MULTINACIONAIS
Por Ricardo Petrella, Envolverde
Lovaina, agosto/2007 – É sabido que por mais que as águas minerais sejam de propriedade pública, são as empresas privadas que obtêm grandes e garantidos lucros com sua comercialização. O negócio das águas minerais engarrafadas se transformou em um dos setores mais lucrativos e de maior expansão no mundo, dominado até há pouco tempo por Nestlé e Danone. Agora, estas duas multinacionais têm, em seus calcanhares outras duas gentis irmãs da água: a Coca-Cola e a Pepsicola. Também está ficando claro que as empresas privadas de distribuição de água e aquelas de capital misto público-privado, cada vez mais numerosas no setor dos serviços hídricos, estão se apoderando da propriedade e/ou do controle da água potável através do mundo.
As companhias francesas Suez-Ondeo e Vivendi-Veolia, por si só, administram a distribuição da água para mais de 250 milhões de pessoas, sem contar aquelas servidas por empresas nas quais possuem participação acionária. O banco privado suíço Pictet prevê que em 2015 as empresas privadas fornecerão a água potável a cerca de 1,750 bilhão de consumidores. Neste contexto, não surpreende comprovar que as companhias de gestão de água são sempre mais compradas e vendidas no mercado, como se compra e vende empresas de sapato ou geladeira.
O último caso significativo é o da Thames Water, maior empresa hídrica do Reino Unido e a número três no mundo (atrás das duas francesas citadas), comprada pela australiana Macquarie à alemã RWE. A RWE, gigante energético europeu, havia adquirido a Thames Water em 2000 por 7,1 bilhão de euros como concretização de sua estratégia para converter-se na número um das européias multiusos (companhias que operam simultaneamente nos setores de energia, transportes, lixo, água, comunicações etc). A escolha de uma estratégia multiuso também levou, há alguns anos, a italiana Enel a se interessar pela possível aquisição do Acquedotto Pugliese.
Por diversos motivos, os dirigentes da RWE decidiram ultimamente se concentrar somente no setor de sua competência para manter-se à altura dos colossos energéticos mundiais em vias de reestruturação e consolidação. Assim, venderam a Thames Water com a mesma velocidade com que compraram. A Thames Water foi adquirida por uma empresa australiana, o Banco Macquarie, que para isso desembolsou cerca de 14 bilhões de euros. Trata-se de um banco especializado em serviços financeiros e investimentos em infra-estrutura. Por exemplo, os aeroportos de Bruxelas e Copenhague são da Macquarie Airports. A companhia está presente em 24 países e tem cerca de 8.900 funcionários.
Por que este banco australiano investiu tanto no setor da água, onde também comprou a norte-americana Acquarion por US$ 860 milhões? Por certo que isso não foi por ter um plano industrial e sócioambiental de modernização da rede e do serviço hídrico para os 13 milhões de habitantes da região londrina e dos outros 50 milhões de pessoas atendidas no mundo pela Thames Water. Para Macquarie se trata de uma estratégia puramente financeira: aumentar os níveis de lucro do grupo intervindo em um setor bastante rentável, destinado a ser ainda muito mais lucrativo no futuro se continuarem os processos de privatização e escassez da água para uso humano.
No momento em que Margareth Thatcher privatizou a água, em 1989, afirmou que aos britânicos não importa saber quem distribuía a água e que o importante para eles era ter o beneficio de serviço de alta qualidade e a preços convenientes. Mas a privatização da água não deu resultados notáveis em relação aos preços (os aumentos foram consideráveis) nem quanto à qualidade (recentemente a Thames Water foi severamente admoestada por não ter reduzido os níveis de perda de água, de acordo com as obrigações ligadas à tarifa).
Os britânicos, por outro lado, aparentemente consideram irrelevante e nacionalidade do gestor da água do Tamisa. De fato, a Thames Water, em 15 anos, passou de propriedade de um organismo público à de uma empresa privada britânica, depois de uma companhia energética alemã e agora a um banco australiano. Não se pode descartar que dentro de 10 anos a propriedade da Thames Water passe a pertencer a uma sociedade chinesa especializada no tratamento de lixo urbano. (IPS/Envolverde)
Riccardo Petrella é fundador do Comitê Internacional para o Contrato Mundial da Água e professor emérito da Universidade Católica de Lovaina.
PAÍS TERÁ NORMA PARA REDUÇÃO DE GASES POLUENTES
(Fonte: IBPS – Instituto Brasileiro de Produção Sustentável e Direito Ambiental)
Certificação deve sair até final de setembro e ajudar empresas a calcular emissão de carbono. Está prevista para o final de setembro a publicação de uma norma brasileira focada no impacto dos gases de efeito estufa. É a NBR 14064. Versão nacional da certificação ISO 14064, lançada no ano passado pela Organização Internacional para Padronização (ISO, na sigla em inglês), a nova norma integra a já famosa família das ISO 14000, que estabelecem regras para uma gestão ambiental de qualidade. A norma pretende contribuir para que as organizações possam calcular, de forma única e globalizada tanto suas emissões quanto a absorção de carbono, explica Haroldo de Lemos, presidente do Conselho Técnico da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e superintendente do Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental (CB38).
Vice-presidente do comitê técnico da ISO responsável pelo desenvolvimento das normas 14000, Lemos atribui a criação de uma certificação específica para gases de efeito estufa ao aumento da demanda do mercado de créditos de carbono. Por meio desse sistema, uma corporação pode tanto vender à outra o que não gastou como cota de emissões, quanto comprar o equivalente em crédito de carbono quando as emissões ultrapassam o volume máximo permitido.
No Brasil, ao contrário do que ocorre na Europa, as metas de emissão de carbono não são obrigatórias. Porém, a comercialização tem se tornado prática comum na esteira dos compromissos ambientais de um conjunto cada dia maior de empresas que desejam implantar políticas de sustentabilidade. Nesse sentido, a ISO 14064 terá a função de ensinar organizações públicas e privadas a calcular o impacto ambiental ocasionado pelo lançamento de gases de efeito estufa, a procurarem uma auditoria externa – regulamentada pela irmã 14065 – e, por fim, a criarem e manterem projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), que minimizam impactos e quitam uma dívida da empresa com o meio ambiente.
FORTE APELO
Segundo a engenheira química Maria Ângela Cardoso, da divisão de Gestão Integrada SMS da consultoria KeyAssociados, outra motivação latente para a elaboração da norma é a agenda das mudanças climáticas, transformada em prioridade nos últimos anos por conta de relatórios como do Painel Intergovernamental em Mudança do Clima (IPCC), e acordos como o Protocolo de Kyoto. Maria Ângela conta que na Europa, as empresas já vinham, há anos, compensando o desequilíbrio causado por suas emissões e a certificação acabou sendo uma forma de validar e divulgar esses esforços. Aqui no Brasil, o grande apelo é a responsabilidade social empresarial. Hoje, uma empresa séria em RSE está preocupada em mostrar, além de seu sistema de gestão e atendimento às leis, o controle das emissões de, ainda que este tema não seja compulsório, diz.
Na opinião da especialista, a nova norma poderá ser adotada por qualquer instituição, independentemente do porte e do tipo de negócio. Não precisa nem ser necessariamente poluidora. Algumas instituições financeiras, por exemplo, estão preocupadas com o mercado de créditos de carbono porque o tema reforça sua política, cultura e mentalidade de responsabilidade social, explica. Lemos adverte, no entanto, que a certificação é uma ferramenta útil e importante, mas que pode não interessar a todo tipo de organização. A 14064 é para qualquer empresa que deseja trabalhar com créditos de carbono. Só que há muitas que não liberam tantos gases, ou não têm como reduzir as emissões, observa ela.
Ainda segundo o executivo da ABNT, empresas sem interesse específico na comercialização de carbono, o foco da nova norma, poderão continuar a recorrer ao suporte da ISO 14001, aplicável a qualquer tipo de organização que deseje simplesmente fazer gestão ambiental adequada.
Para Maria Ângela, apesar de as duas normas serem independentes, exigem quesitos semelhantes, o que as torna, portanto, instrumentos complementares. Se você emite no meio ambiente, isso é um impacto ambiental. Pela 14001, portanto, é necessário realizar um tratamento dessa interferência, assim como pela 14064, exemplifica.
Os dois executivos identificam vantagens na implementação da ISO 14064. O primeiro e mais óbvio, segundo Lemos, da ABNT, está na padronização. A aprovação de um projeto que segue uma norma é muito mais fácil de ser obtida. Como a certificação detalha o modo correto de desenvolver projetos e medir impactos, ninguém precisa inventar métodos. Além disso, projetos mensurados com critérios diferentes levam a resultados diferentes comenta ele.
REAÇÃO EM CADEIA
Ângela acredita que a certificação pode também interferir nas práticas de responsabilidade social da empresa, estabelecendo, por exemplo, que o relacionamento, na cadeia de valor, deva ser apenas com fornecedores que possuam princípios, valores e cultura semelhantes. Afinal, se uma organização está empenhada em diminuir as emissões de gases de efeito estufa, precisa assegurar-se de que seus parceiros adotam a mesma prática. De outro modo, as emissões dos fornecedores serão contabilizadas como emissões indiretas da empresa.
Outro benefício gerado pela norma será a possibilidade de ingresso da organização no lucrativo e promissor mercado de créditos de carbono. À parte o interesse de retorno financeiro imediato, certificações como a ISO 14064 são especialmente boas para fortalecer a reputação e a imagem da empresa em tempos de valorização da cultura de sustentabilidade. A corporação ganhará em abertura de portas e divulgação do seu perfil, afirma Maria Ângela. Por fim, além dos benefícios diretos para a própria organização, uma certificação com esse propósito de disciplinar a emissão de carbono produzirá bons dividendos para a qualidade do meio ambiente como um todo.
APERFEIÇOAMENTOS
Hoje, a certificação 14064 está pronta para ser usada internacionalmente. No Brasil, encontra-se traduzida, aguardando a publicação. Segundo Maria Ângela, porém, é preciso, no futuro, realizar alguns ajustes, corrigindo dificuldades já identificadas pelos criadores da norma, mas que ainda não têm solução. Saber se a área em que a empresa está compensando já não foi compensada por outras organizações é um dos casos. Uma passagem de avião para um funcionário, por exemplo, é contabilizada como emissão indireta. Se a empresa aérea, por meio de um projeto de MDL, já compensou esse impacto, não é necessário que a organização que adquiriu o bilhete adote o mesmo procedimento. Isso ainda não dá certo, porque mundialmente é difícil mensurar quem faz o quê, diz Ângela.
ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE
(Fonte: Instituto Akatu)
Do céu ao inferno. Estes são os extremos aos quais o planeta pode ser levado pela humanidade. Tudo vai depender de como reagiremos às novas condições impostas pela globalização e, principalmente, pelas mudanças climáticas.
Diante dos desafios atuais, quatro cenários foram projetados para o planeta, que chegará à incrível marca de 9 bilhões de habitantes antes de 2050. O estudo foi feito pela empresa norte-americana de consultoria SustainAbility e apresentado pelo Instituto Ethos, durante conferência realizada em São Paulo, no mês passado. No melhor cenário, ganham a sociedade e o meio ambiente; no pior, ambos perdem.
1) Sociedade e meio ambiente ganham:
Esse é o mundo em que se equilibram o crescimento demográfico, a política, a economia e a sustentabilidade. Haverá uma redução dos atuais padrões de consumo e maiores condições de inclusão dos países pobres. O desafio será criar respostas positivas, evidenciando a importância da troca de soluções. Projeta-se um círculo virtuoso na maioria dos lugares, como um segundo Renascimento.
2) Sociedade ganha e meio ambiente perde:
Nesse mundo, as sociedades democráticas crescem em população e ainda aumentam seu padrão de vida, o que, conseqüentemente, leva a uma pressão sobre os recursos naturais, que se tornam cada vez mais escassos, e à alta de preços. O desafio é gerenciar o crescimento sem esgotar o meio ambiente.
3) Meio ambiente ganha e sociedade perde:
É um mundo em que os países ricos descobrem como usar os recursos naturais de maneira sustentável, mas negam aos pobres o acesso a esses recursos. Há uma desaceleração da destruição, mas será um período de muita tensão social. As sociedades serão mais fechadas, operando como ilhas de sustentabilidade por longos períodos, enquanto a maior parte da população continua apartada.
4) Sociedade e meio ambiente perdem:
Esse mundo é catastrófico. No pior cenário, a degradação ambiental gera um efeito dominó econômico e social. A pressão demográfica e a manutenção do padrão de consumo do ocidente rico devastam o meio ambiente, que leva a um círculo vicioso na política, na economia e na tecnologia. Há uma crise de governabilidade, em que os líderes mundiais não encontram alternativas de inclusão nem de sustentabilidade; crescem os conflitos.
O principal alerta do estudo, que tem o sugestivo nome de Ampliando Nosso Jogo – Podemos Sustentar a Globalização?, é que novas regras precisam ser adotadas pelas lideranças globais para, pelo menos, direcionar o desenvolvimento mundial em busca do primeiro cenário.
Temos pautado o mundo pela felicidade que vem do consumo, e ela é insustentável, alerta Hélio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu. Segundo o relatório da SustainAbility, lideranças corporativas, sociais e governamentais terão de deixar suas confortáveis posições para buscar novos modelos, novas tecnologias, novos parceiros de pesquisas e soluções em escala mundial.
Não temos saídas fora das redes de colaboração. Temos de descobrir novas formas de fazer as coisas, e não só gerenciar riscos, concorda Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos. O mundo globalizado atual apresenta atributos particulares como o mercado financeiro interconectado, com conseqüências positivas e negativas; urbanização sem precedentes, acentuando disparidades de renda e moradia entre pobres e ricos; insegurança climática e ambiental; vácuos de governabilidade e o desafio de diversificar as redes dedicadas a recuperar o meio ambiente e promover justiça social.
Além disso, outros jogadores se apresentam na disputa do consumo e por mercados, como China, Índia, Brasil e Rússia, que juntos já emitem 30% do dióxido de carbono jogado hoje na atmosfera.
Em 2050, vamos precisar de dois planetas se continuarmos a utilizá-lo da maneira como fazemos agora, diz Jason Clay, vice-presidente do WWF.
Individualmente, cabe ao cidadão pressionar governos e empresas fornecedoras de produtos e serviços, incentivar e participar das redes que articulam soluções coletivas e ainda rever seus próprios padrões de consumo.
PRIMEIRO LEILÃO DE CRÉDITOS DE CARBONO OCORRERÁ NO BRASIL EM SETEMBRO
(Fonte: Clipping ambiental da FIRJAN)
A primeira experiência mundial de um leilão de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs ou créditos de carbono) no mercado a vista a ser promovido por uma bolsa regulada será realizada no dia 26 de setembro de 2007 no Brasil. Organizado pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), em parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo, o Leilão de Venda de Reduções Certificadas de Emissão representará uma importante etapa do processo de organização e desenvolvimento do mercado de certificados ambientais.
Serão leiloados os créditos correspondentes a 808.450 toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) gerados nos termos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) pelo Projeto Bandeirantes de Gás de Aterro e Geração de Energia, e emitidos pelo Conselho Executivo do MDL – ONU.
O leilão será realizado por meio da internet e contará com a participação do Banco BM&F de Serviços de Liquidação e Custódia S.A. como responsável pelos procedimentos relativos à liquidação financeira.
INTERESSE LONDRINO
Nesta terça-feira, 21, o prefeito do distrito financeiro de Londres, Lord Mayor John Stuttard, disse, em visita à BM&F, que há um enorme interesse por parte da praça londrina quanto ao leilão de créditos de carbono que será realizado em setembro.
Segundo ele, a intenção é obter mais informações a respeito do leilão, cujo edital foi divulgado também nesta terça-feira, para levar a proposta a Londres, de forma a atrair investidores para a iniciativa. Além do mercado de carbono, o prefeito da City de Londres disse que vai discutir com executivos da BM&F a possibilidade do desenvolvimento do mercado de derivativos de fretes com objetivo de minimizar os riscos de transporte. Stuttard afirmou que é a intenção atrair empresas brasileiras para listagem na praça londrina, em parceria com a Bolsa de Valores de São Paulo, Bovespa, de forma a elevar o perfil dessas companhias. Ele lembrou que participou, há 20 anos, da listagem da fabricante de celulares Nokia em Londres, o que ajudou a empresa a se tornar uma marca global.
PROJETO DE GÁS DE ATERRO
O Aterro Bandeirantes, operado por empresa privada por concessão da Prefeitura da cidade de São Paulo, recebe diariamente 7 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos. Com base nessa concessão, foi implantado no aterro sistema de captação da mistura gasosa, que é proveniente da decomposição dos resíduos. Esses gases são queimados, sendo que 80% dessa queima são destinados à produção de energia elétrica. Isso faz do Bandeirantes o aterro com melhor performance no mundo em redução de emissão dos gases que provocam o efeito estufa, de acordo com a certificação dos órgãos técnicos da ONU.
BM&F
A Bolsa de Mercadorias & Futuros é uma entidade de direito privado, regulada pela Comissão de Valores Mobiliários e pelo Banco Central do Brasil, que oferece ao mercado ambiente eqüitativo e organizado para a negociação de mercadorias, ativos e instrumentos derivativos destinados à proteção de risco de entidades financeiras e agroindustriais. Situa-se entre as maiores bolsas de futuros do mundo, de acordo com a Futures Industry Association (FIA).
O Banco BM&F é uma subsidiária da BM&F, que tem por objetivo fornecer serviços de custódia e de suporte técnico-operacional aos processos de liquidação de operações cursadas na Bolsa.
LEILÃO
Os requisitos para participação no leilão, bem como as regras e os procedimentos negociais da oferta de créditos em referência, encontram-se detalhados no edital disponível nos endereços eletrônicos http://www.bmf.com.br/leilaocarbono e http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/financas/leilaocarbono/000
Fonte: Mundo Sustentável