O Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) em parceria com a Fipe, registrou deflação de -0,75% em julho, em contraste com o aumento de 0,80% observado no mês anterior. A queda no índice de preços foi motivada pela redução nos preços das categorias de produtos in natura, que deflacionaram -9,32%, em grande medida devido à redução de -25% nos preços dos legumes, produtos de limpeza (-0,55%), semielaborados (-0,11%), bebidas alcoólicas (-0,10%) e produtos de higiene pessoal e beleza (-0,07%). Por outro lado, as categorias de produtos industrializados e bebidas não alcoólicas inflacionaram 0,59% e 0,40% no mês, respectivamente, e impediram que o indicador apresentasse redução ainda maior no período. Com o resultado de julho, o IPS acumula alta de 2,45% no ano, enquanto em doze meses, o índice registra um aumento de 2,88%.
O recente resultado do IPS não altera o cenário de inflação projetado pela APAS para o ano de 2024, que mantém a expectativa de inflação em 5,5%. O cenário da APAS considera tanto os efeitos do mercado doméstico quanto os impactos provenientes do setor externo. No cenário interno, as atenções continuam centralizadas na política monetária e fiscal. O Comitê de Política Monetária (Copom) permanece adotando uma postura cautelosa, mantendo a Taxa Selic em 10,50% ao ano, enquanto avalia os efeitos da política fiscal e monetária interna e externa sobre a inflação.
No cenário internacional, os mercados financeiros globais estão sendo impactados por uma série de fatores. Dentre eles, a possibilidade de recessão nos EUA no início de 2025, combinada com críticas do mercado financeiro estadunidaense ao Federal Reserve sobre seu atraso na resposta à inflação. Adicionalmente, a intensificação dos conflitos no Oriente Médio, especialmente entre Israel, Irã e Líbano, amplia a preocupação sobre a cotação do petróleo no mercado internacional.
Essas tensões internacionais também estão afetando os mercados asiáticos e europeus. As bolsas de valores estão enfrentando quedas acentuadas devido à incerteza econômica global e às medidas de política monetária, como o aumento inesperado das taxas de juros pelo Banco do Japão. No Reino Unido e na França, as recentes eleições e as incertezas políticas também têm contribuído para a instabilidade nos mercados.
As possíveis mudanças na conjuntura política internacional, juntamente com a matenutenção dos conflitos internacionais, poderão produzir efeitos sobre os preços de diferentes commodties, desde energéticas até agrícolas, no mercado internacional.
In natura
A categoria de produtos in natura registrou expressiva deflação de -9,32%, tendência que já havia sido observada no mês anterior. Essa queda foi impulsionada pela redução nos preços de legumes (-25,97%), tubérculos (-6,84%), verduras (-5,31%) e ovos (-2,36%). Em contraste com o mês anterior, quando algumas subcategorias, como tubérculos e legumes, haviam apresentado alta, o último índice revelou uma queda significativa. Essa desaceleração impactou o acumulado anual da categoria, que agora se encontra em 3,29%.
Dentro da subcategoria das frutas, a grande maioria apresentou diminuição no preço final ao consumidor. As reduções mais significativas foram observadas no mamão (-31,11%), melão (-29,44%) e maracujá (-15,16%). No entanto, as frutas de época tiveram um aumento de preços de +3,26%.
A significativa redução no preço do mamão pode ser explicada tanto pelo aumento da oferta quanto pela diminuição da demanda. Houve uma abundância de papaias e formosas, principalmente do norte do Espírito Santo e do sul da Bahia. Além disso, a procura pela fruta caiu no último mês, em parte devido ao clima mais frio, resultando em uma queda dos preços tanto no atacado quanto no varejo. Essa tendência também influenciou o índice deste mês de julho.
Na subcategoria dos legumes, o tomate apresentou uma redução expressiva de -35,13%, contrastando com o aumento de 3,49% registrado no mês passado. Esse declínio é explicado pelo aumento da oferta nos mercados, impulsionado pela temperatura acima da média, que acelerou a produtividade e maturação do tomate. Com um ciclo de vida mais curto, o tomate torna-se mais disponível e sua oferta diminui. Em doze meses, o preço do tomate registrou uma redução de -22,77%.
Na subcategoria dos tubérculos, a batata se destaca com uma deflação de -13,64%, e quebra o ciclo de aumentos registrados nos últimos meses. No acumulado do ano, o tubérculo ainda apresenta uma alta de 38,56%. O aumento nos preços da batata foi influenciada por uma redução na oferta do produto no Rio Grande do Sul, devido às enchentes que afetaram o estado, e pelas condições adversas de plantio em Minas Gerais.
Semielaborados
Em julho, a categoria de produtos semielaborados registrou deflação de -0,11%, em contraste com a alta de 1,55% observada no mês anterior. Essa queda contribuiu com a desaceleração do acumulado no ano para 5,83%. A redução nos preços em julho foi impulsionada pela declínio, especialmente da carne bovina, dos pescados e do leite, cujos preços caíram, -0,39%, -1,09% e -0,24%, respectivamente. Em contrapartida, os preços dos suínos e das aves aumentaram no mês, com variações de 3,07% e 1,43%, respectivamente. O aumento dos preços da carne suína é atribuído ao desempenho das exportações brasileiras no período. Quando ocorre aumento da demanda externa, os produtores tendem a direcionar mais produtos para exportação, reduzindo a oferta no mercado interno e, consequentemente, elevando os preços doméstico. Esse cenário é agravado numa conjuntura de depreciação cambial, com a que se observa no período recente.
• Leite
A subcategoria de leite registrou uma deflação de 0,24% no mês, interrompendo um ciclo de seis meses de alta. No ano, esse item ainda acumula um avanço de cerca de 24,64%. O aumento nos preços do leite ao consumidor final vinha sendo impulsionado por elevações nos custos ao longo de toda a cadeia produtiva. Neste mês, a redução foi atribuída ao crescimento de 22% nas importações de leite, principalmente da Argentina, conforme informado pelo Cepea.
• Cereais
A categoria de cereais registrou deflação de -0,95%, o que contribuiu para desacelerar a inflação que vinha ocorrendo nessa categoria, principalmente devido aos sucessivos aumentos no preço do arroz. Contrariando as expectativas do mercado, neste mês, o arroz apresentou uma queda de -0,37%, em função da melhoria dos efeitos da tragédia – especialmente em sua infraestrutura logística – no Rio Grande do Sul. Por outro lado, o milho teve uma inflação de 2,73%, embora já tivesse mostrado diminuição nos preços nos meses anteriores. O feijão continuou a registrar deflação (-2,53%), motivado pela redução no preço mínimo do grão, conforme a portaria divulgada pelo Ministério da Agricultura, que reduziu o preço mínimo do feijão em 1,1%.
Industrializados
A categoria de produtos industrializados continuou a registrar alta (+0,59%), embora em menor grau comparado ao mês anterior, quando o aumento foi de 1,06%. Esse aumento se deve principalmente à elevação nos preços dos derivadas de leite (0,59%), que acumula uma inflação de 1,47% no ano devido ao maior preço do leite. Os panificados apresentaram alta de 0,71%, e o café, 2,22%. Essa elevação no preço do café é atribuída aos problemas de produção causados pelas condições climáticas adversas durante o período de florada e pelas altas temperaturas no início do ano, que reduziram o rendimento e afetaram a qualidade nas principais áreas de produção.
Embora a categoria de produtos industrializados tenha registrado as maiores altas, os derivados da carne deflacionaram -0,74% no mês, influenciado pela queda nos preços das proteínas de carne, conforme mencionado anteriormente.
Com o resultado do último mês, a categoria acumula uma alta de 1,61% no ano e 1,19% nos últimos doze meses. Vale destacar que o aumento moderado na categoria também é impactada pela recente valorização do câmbio, que afeta quase todas as cadeias produtivas. No entanto, as cadeias mais expostas ao mercado externo são as que mais sentem os efeitos dessa valorização.
- Óleo de soja
Dentre os diferentes produtos que compõem a categoria de industrializados, cabe destacar a alteração nos preços dos óleos, em especial ao óleo de soja que vem registrando sucessivos aumentos, nesse mês o índice ficou em 1,95%. O aumento do preço do óleo de soja ao consumidor final é decorrente dos preços e prêmios de exportação do óleo de soja no Brasil que elevaram significativamente devido à alta demanda, especialmente das indústrias de biodiesel. Esse aumento tem reduzido o excedente disponível para exportação. Conforme sinalizado pelo Cepea, a depender do comportamento do preço do produto no mercado internacional e a tendência da taxa de câmbio, poderemos observar novas altas do produto nos meses seguintes. Porém, a subida não deve ser na mesma intensidade que ocorrera entre 2020 e 2021, que, no acumulado em 12 meses, chegou a ultrapassar a casa dos 80%.
Bebidas
Na categoria de bebidas, as bebidas alcoólicas apresentaram redução moderada de preços (-0,10%), influenciada pela queda de -0,44% no preço da cerveja. No entanto, outras bebidas, como vinho e champanhe, tiveram aumentos nos preços de 1,44% e 1,15%, respectivamente. Com esses ajustes, a categoria acumula uma inflação de 1,47% no ano.
Por outro lado, no segmento de bebidas não alcoólicas, foi registrada alta de 0,40%, impulsionada pela inflação de 1,40% na água mineral. Apesar desse aumento, a maioria dos itens dessa categoria experimentou deflação.
Artigos de limpeza
A categoria de artigos de limpeza apresentou deflação de -0,55% no período analisado, influenciada pela redução nos preços de desodorantes (-2,86%) e cera (-1,19%). Vale pontuar que, apenas seis produtos apresentaram alta de preços no mês, sendo que apenas alvejantes e lustra móveis computaram aumento acima de um ponto percentual, com variação de 1,101% e 2,69%, respectivamente. No acumulado do ano, a categoria segue a mesma tendência, com redução de 1,56% nos preços.
Produtos de higiene pessoal e beleza
A categoria de produtos de higiene pessoal e beleza registrou deflação moderada de -0,1% no último mês. Os itens que apresentaram as maiores quedas foram: lenço umedecido (-2,72%), loção para pele (-2,39%), cotonetes (-2,21%), guardanapo de papel (-1,74%); e sabonetes (-1,32%). Por outro lado, creme de beleza (1,73%), enxaguante bucal (0,95%) e produtos para cabelo impediram que o indicador apresentasse queda ainda maior no período.
No acumulado do ano, a categoria de produtos de higiene pessoal e beleza apresenta deflação de -3,31%, já nos útlimos 12 meses, a categoria acumula queda de -8,41%. A diminuição nos preços ao consumidor final decorre da redução de preços em toda a cadeia produtiva observada ao longo do último ano.