O Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) em parceria com a Fipe, encerrou o mês de abril de 2023 com alta de 0,92%. Em relação ao mês imediatamente anterior, quando o índice apurado ficou em 0,09%, o resultado de abril apresentou aceleração, motivada, por um lado, pela alta sazonal da cesta de Páscoa e, por outro lado, pelo aumento do leite e dos produtos in natura.
Em comparação com o mesmo período de 2022, o índice IPS computou significativa desaceleração, passando de 3,02%, em abril de 2022, para 0,92%, no mesmo mês de 2023. Com o resultado de abril, a inflação acumulada em 12 meses ficou em 9,1%, contra 11,37% de março. Vale destacar que o resultado acumulado em doze meses até abril é o menor patamar dos últimos dos últimos 33 meses, isto é, desde agosto de 2020, quando o índice IPS estivera acumulado em 8,7%.
O resultado do índice no mês de abril converge com o cenário projetado pela APAS para o ano de 2023. Conforme projeções elaboradas pela instituição, a expectativa é de que o índice de preços do setor supermercadista mantenha a tendência de desaceleração nos próximos meses e, caso não haja nenhuma mudança abrupta nos cenários doméstico e internacional, encerre o ano em 6,4%.
Apoiada tanto no IPS quanto nos demais índices de inflação, a APAS acredita que o Comitê de Política Monetária do Banco Central já poderia ter iniciado o ciclo de redução da taxa de juros, uma vez que a menor pressão inflacionária e o baixo ritmo de atividade econômica possibilitam a redução da taxa básica de juros sem o comprometimento dos fundamentos econômicos e da meta de inflação determinada para o ano corrente.
Semielaborados
A categoria Produtos semielaborados apresentou inflação de 1,31% em abril. A alta no da categoria decorreu, principalmente, do aumento sazonal dos pescados (1,56%) e do ajuste de 6,86% e 3% nos preços do leite e do feijão, respectivamente.
Por outro lado, as carnes bovina e suína e as aves apresentaram redução de preços no período. A redução de preços mais significativa foi da carne bovina, que recuou 0,78% e manteve a tendência deflacionista dos primeiros meses de 2023.
Durante o primeiro quadrimestre do ano, o preço da carne bovina acumula queda de 4,3%. Essa redução, como já apontamos em notas técnicas anteriores, decorre da conjunção de (i) chuvas abundantes no início do ano e a, consequente, melhora da condição dos pastos das regiões Sudeste e Centro-Oeste; (ii) redução do preço da ração bovina após forte alta entre o segundo e o terceiro trimestre de 2022; (iii) diminuição da participação da ração na composição da dieta dos bois de corte; e (iv) embargo temporário das exportações (durante o mês de março), especialmente à China e Rússia, em decorrência de um caso do “mal da vaca louca” (encefalopatia espongiforme bovina – EEB) no Pará.
Quando analisamos a tendência de preços no médio e longo prazos, aferida pela curva de inflação acumulada em 12 meses, constatamos que os preços das carnes bovina e das aves, após forte alta em 2021 e 2022, seguem em redução em 2023, podendo encerrar o ano com a primeira deflação em uma década. Em sentido oposto, a carne suína segue tendência de alta, motivado, entre outros fatores, pelo relaxamento da política chinesa de combate ao novo coronavírus e a retomada do crescimento do gigante asiático[1].
A subcategoria de cereais inflacionou 0,57% no mês, impulsionado pela alta do preço do feijão (3%). Por outro lado, a redução de 0,91 e 0,54% nos preços do milho e do arroz, respectivamente, impediram que o índice aferisse alta mais forte no período.
Industrializados
A categoria de produtos industrializados registrou alta de 0,5% em abril, impulsionado, entre outros fatores, pelo aumento dos insumos produtivos, inclusive o leite. Dentre as subcategorias de produtos industrializados, as maiores altas foram dos condimentos e sopas (1,27%), dos biscoitos e salgadinhos (1,18%), das massas, farinhas e féculas (0,82%), dos doces (0,93%), dos derivados de leite (0,88%) e de carne (0,64%), dos adoçantes (0,5%) e dos panificados (0,2%). Em sentido oposto, as subcategorias de óleos (-1,79%), cafés, achocolatados em pó e chás (-0,36%), alimentos prontos (-0,21%) e enlatados e conservas (-0,1%) impediram que a categoria apresentasse alta mais acentuada no período.
Produtos In natura
O preço dos produtos in natura aumentaram 1,73% em abril, impulsionado pela alta dos legumes e das verduras, que no período inflacionaram 6,87% e 4,18%, respectivamente. Em sentido oposto, os tubérculos deflacionaram 1,2%, motivado pela queda de mais de 10% no preço da cebola.
Entre as frutas, as maiores altas foram do maracujá (20,36%) e do limão (14,06%) e as maiores quedas foram da maçã (-17,5%) e da laranja (-3,15%).
Apesar da alta no segundo bimestre do ano, no acumulado em 12 meses, a categoria dos produtos in natura registra significativa queda. Em dezembro de 2022, a categoria acumulava inflação de 28,1%, já em abril, a taxa recuou para 3,4%.
Essa forte desaceleração no preço dos produtos in natura é resultado, por um lado, das abundantes chuvas no primeiro trimestre do ano e da não ocorrência de eventos climáticos extremos durante o último quadrimestre de 2022 e o primeiro de 2023, e, por outro lado, estabilização nos preços dos fertilizantes no mercado internacional, após o primeiro ano de guerra na Ucrânia.
Bebidas
As categorias de bebidas não alcoólicas e alcoólicas inflacionaram 1,15% e 1,22% em abril. Dentre as bebidas não alcoólicas, o principal aumento foi dos refrigerantes, que aumentaram 1,76% no mês. Já em relação às bebidas alcoólicas, o aumento das cervejas (1,49%) puxou o grupo para cima. Em relação aos vinhos, apesar de, sazonalmente, inflacionarem em abril, a alta foi moderada na Páscoa de 2023 (0,48%).
Limpeza, higiene e beleza
A categoria de produtos de limpeza se manteve estável pelo segundo mês consecutivo. Dentre os produtos que compõem a categoria, as principais variações foram do alvejante (1,78%), sabão líquido (1,42%) e do sabão em pó (-0,65%).
O preço dos artigos de higiene e beleza avançou 1,58% em abril, puxado pelo aumento dos sabonetes e do creme dental, que avançaram 1,75 e 2,46%, respectivamente. No acumulado em 12 meses, a categoria acumula alta de 21,8%. A forte alta no acumulado em 12 meses decorre da maior pressão inflacionária sobre os insumos produtivos, que, consequentemente, produzem efeito sobre toda a cadeia produtiva.
Nota Metodológica
O Índice de Preços dos Supermercados tem como objetivo acompanhar as variações relativas de preços praticados no setor supermercadista ao longo do tempo. O Índice de Preços dos Supermercados é composto por 225 itens pesquisados mensalmente em 6 categorias: i) Semielaborados (Carnes Bovinas, Carnes Suínas, Aves, Pescados, Leite, Cereais); ii) Industrializados (Derivados do Leite, Derivados da Carne, Panificados, Café, Achocolatado em Pó e Chás, Adoçantes, Doces, Biscoitos e Salgadinhos, Óleos, Massas, Farinha e Féculas, Condimentos e Sopa, Enlatados e Conservas, Alimentos prontos,); iii) Produto In Natura (Frutas, Legumes, Tubérculos, Ovos, Verduras); iv) Bebidas (Bebidas Alcoólicas, Bebidas Não Alcoólicas); v) Artigos de Limpeza; vi) Artigos de Higiene e Beleza. Assim, o IPS se apresenta como instrumento útil aos empresários do setor na tomada de decisões com relação a preços e custos dos mais diversos produtos. No que diz respeito à indústria, de maneira análoga, possibilita a tomada de decisão com relação a preços e custos dos produtos destinados aos supermercados. Ao mercado e aos consumidores é útil para a análise da variação de preços ao longo do tempo possibilitando o acompanhamento da evolução dos custos ao consumidor do setor supermercadista.
[1] O Departamento de Economia e Pesquisa da APAS projeta que o PIB chinês crescerá 5,3% neste ano, contra 3% no ano anterior.