O intenso trabalho de Relações Institucionais realizado pela APAS durante o primeiro turno das Eleições 2020 foi abordado pelo Portal JOTA, site de notícias especialista na cobertura dos poder legislativo, executivo e judiciário. A reportagem destaca que a APAS é a instituição que mais busca o diálogo e a articulação com os candidatos.
O trabalho dos profissionais de RelGov durante as eleições municipais
Por ÉRICO OYAMA
Pleito serve de termômetro da força do governo federal e como prévia de 2022
A maior parte dos profissionais de relações governamentais acompanha as campanhas eleitorais nos municípios à distância, fazendo monitoramentos e análises de possíveis impactos dos resultados na política nacional. Em municípios considerados estratégicos para determinada empresa ou associação, é feito um mapeamento das propostas dos principais candidatos. O trabalho maior para quem trabalha com RelGov vem depois dos resultados das urnas, quando são feitas análises mais aprofundadas de cenário político e de possíveis ações dos novos gestores ou daqueles que permanecerão no cargo.
O JOTA conversou com sete profissionais de relações governamentais para entender de que forma as eleições municipais impactam a atividade. Dos entrevistados, somente um realizou contato direto com candidatos.
Rodrigo Marinheiro, chefe de relações institucionais da Associação Paulista de Supermercados (APAS), organizou 43 reuniões entre associados e candidatos que concorrem às prefeituras de 14 cidades. Os encontros ocorreram por videoconferência e serviram para que os associados pudessem tirar dúvidas relacionadas ao setor. “Abertura, regularização e funcionamento de lojas. Esses foram temas das perguntas no geral”, revelou Marinheiro.
Mas essa interlocução direta com os candidatos é uma exceção. “A minha percepção é que as empresas estão querendo ficar cada vez mais low profile com relação às eleições”, avalia Carolina Venuto, presidente da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig). “Estão mais monitorando, levantando informações do que agindo especificamente”, diz. “Acho que com o fim da doação privada para campanhas as empresas entenderam ser melhor se manter mais distante com relação aos candidatos”.
A diretora-executiva da Associação das Indústrias Processadoras de Cacau, Anna Paula Losi, conta que monitora as campanhas à distância. “E acho que para a maioria dos profissionais de relações governamentais o acompanhamento é muito mais para entender o cenário do que para atuar para mudar o resultado ou atuar para ter o resultado x ou y”, diz. “Monitoramos para saber como é que vão ser os próximos quatro anos nos municípios onde atuamos, quem vão ser as novas lideranças”.
Cabe aos departamentos de relações governamentais das empresas analisar os cenários que podem mudar com a eleição de novos prefeitos. “Precisamos estudar questões políticas locais e traduzir para o corpo executivo da empresa o que significam, como podem impactar os negócios”, explica Helena Romeiro de Araújo, gerente executiva da área de relações institucionais e governamentais (RIF) da BRF, responsável por estados e municípios. “Às vezes, por exemplo, a empresa está desenvolvendo uma política pública e vai haver uma mudança de governo”.
O monitoramento ocorre com a ajuda de consultorias, pelas redes sociais e também com a análise dos planos de governo. “Olhamos as propostas dos candidatos, como eles se relacionam com as pautas de tecnologia, tributos, cultura e desenvolvimento social”, diz Anna Beatriz Almeida, gerente de relações institucionais do grupo Sky AT&T. No caso da Sky AT&T, há uma atenção especial para temas como Lei de Antenas e questões tributárias relacionadas ao ISS, que é municipal. “São itens estritamente ligados ao processo de digitalização no Brasil”, lembra Almeida.
“No caso das grandes empresas de infraestrutura, elas precisam ter um bom relacionamento com os governos regionais para não ter problemas nas comunidades onde atuam”, diz. “A preocupação é sempre estabelecer um bom contato com o governo que está lá, por isso não atuamos na eleição em si”.
A pandemia trouxe exemplos da importância de se ter uma interlocução direta com prefeitos. “Teve prefeitura na pandemia que pediu a paralisação de minas por entender que havia algum risco para a saúde pública. Vimos que prefeitos podem, sim, ter um grande impacto”, destaca Bernardo Silva, sócio fundador da Think Brasil e diretor executivo do Sinprifert, que representa as indústrias mineradoras, químicas e produtores nacionais de fertilizantes.
Já as câmaras municipais possuem um papel secundário, especialmente em municípios pequenos, onde a interlocução com o Executivo conta mais. “Em alguns momentos, nesse período da covid principalmente, tivemos que falar com os prefeitos de cidades pequenas no Pará, com os secretários de saúde”, lembra Anna Paula Losi, da Associação das Indústrias Processadoras de Cacau. “É fundamental saber como eles pensam a cadeia produtiva do cacau, ter esse diálogo, esse relacionamento com os stakeholders”.
Impacto do pleito municipal na política nacional
As eleições municipais impactam a política nacional e esse aspecto é monitorado de perto pelos profissionais de relações governamentais. “A maior parte dos clientes hoje têm nos procurado para entender como a eleição municipal vai impactar 2022, a grande preocupação é o cenário federal”, destaca Leon Rangel, da BMJ Consultores Associados.
“Esse é um período decisivo, porque é o calibrador que vai acontecer no pós crise sanitária e o começo da retomada econômica”, avalia Anna Beatriz Almeida, gerente de relações institucionais do grupo Sky AT&T. “Olhar para a política municipalista te traz vários indícios da política nacional. É também um termômetro para os próximos dois anos, que vão influenciar as eleições de 2022”, diz.
Além disso, novas lideranças costumam surgir em eleições municipais. Em 2016, por exemplo, João Doria (PSDB), atual governador de São Paulo, foi eleito prefeito da capital paulista e possivelmente irá se candidatar à Presidência daqui a dois anos.
“As capitais são importantes porque é geralmente de onde despontam os líderes políticos. Por exemplo, em Belém do Pará, se o PSOL vencer, teremos um novo líder”, pontua Rangel, se referindo ao candidato Edmilson Rodrigues, que foi prefeito da capital paraense de 1997 a 2004, ainda pelo PT, e, derrotado nas últimas eleições para os Executivos estadual e municipal, agora lidera as pesquisas de intenção de voto. “As capitais indicam de maneira mais evidente como é que fica a coalizão do presidente, se ele conseguiu ser cabo eleitoral ou não. O governador do estado idem: ele conseguiu ser cabo eleitoral ou não?”, explica. “O interior também tem uma relevância. Por exemplo, o MDB hoje se garante como uma força política nacional por ser o partido que mais possui municípios no interior do Brasil”.
Contato com candidatos
A Associação Paulista de Supermercados, assim como em todas as eleições, promoveu encontros com os principais candidatos nas 14 cidades onde possui escritório. Neste ano, por causa da pandemia, as reuniões ocorreram por videoconferência. Ao todo, foram 43 reuniões.
Na capital paulista, foram realizadas conversas inclusive com os candidatos com menor chance de disputar o segundo turno, como Arthur do Val (Patriota) e Joice Hasselmann (PSL), deputado estadual e deputada federal, respectivamente. “Nos preocupamos em falar com todos, priorizando os que estão melhores nas pesquisas eleitorais e aqueles com quem já temos relacionamento devido aos cargos eletivos que ocupam”, diz Rodrigo Marinheiro, chefe de relações institucionais da Apas.
Todos os associados podiam acompanhar as reuniões, mas as perguntas ficavam restritas aos diretores. “Uma pergunta que surgiu muito é de que forma os candidatos enxergam a essencialidade do serviço de supermercados”, lembra Marinheiro.
Atuação de RelGov em políticas internas
Há empresas que, por questão de compliance, estabelecem regras internas com relação a colaboradores que se candidatam.
A BRF, por exemplo, tem mais de 90 mil colaboradores em todo o país e criou uma norma corporativa específica sobre conduta eleitoral. “Treinamos toda a companhia para explicar que é permitida a candidatura, só que quando a candidatura é homologada o colaborador é afastado preventivamente da empresa, sem remuneração, mas sem perder o emprego”, explica Helena Romeiro de Araújo, gerente executiva da área de relações institucionais e governamentais da BRF responsável por estados e municípios. “Depois do resultado das eleições, se a pessoa não for eleita e quiser voltar, volta. E se a pessoa ganhar e quiser optar por seguir o cargo político, aí tem que fazer o desligamento da empresa, porque não podemos ter uma pessoa que exerce um cargo político trabalhando dentro da companhia”.
Trabalho no pós-eleição
O trabalho maior dos profissionais de RelGov em relação às eleições municipais será depois do resultado consolidado nas urnas, no day after. “É o momento em que teremos que trabalhar muito dentro do mapa de stakeholders”, afirma Carolina Venuto, da Abrig. “É a hora de saber com quem da estrutura montada é importante estabelecer interlocução para os interesses do seu cliente. Monitoramos as mudanças de cargo, o que sai no Diário Oficial, é bastante intenso”.
Nas primeiras semanas de gestão os contatos são estabelecidos de forma mais amena. “A partir dos resultados e da posse de um novo prefeito nós começamos enviando carta, parabenizando, se colocando à disposição, mostrando a importância do setor”, diz Bernardo Silva, da Think Brasil. “Mostramos muito mais uma agenda positiva do que já ir mostrando uma agenda negativa”, pontua. “Mas quando eles já estão com equipe rodando entramos com reuniões para tratar de assuntos e pautas muito mais pesadas. Normalmente a partir de março começamos a atuar de uma forma mais concreta”.
Fonte: JOTA