Enquanto fertilizantes e combustíveis impactarão os preços dos alimentos de um modo geral, trigo, derivados e relacionados já vivem situação de alta. Neste contexto, a Associação Paulista de Supermercados (APAS), sob a ótica de quem está todos os dias ao lado do consumidor, traz abaixo um prelúdio sobre os riscos de segurança alimentar que batem à porta do povo brasileiro com o conflito no leste europeu entre a Rússia e a Ucrânia.
Fertilizantes já vinham caros
No começo do ano, a expectativa das cotações internacionais de fertilizantes apontava para a acomodação no alto patamar atual pelos próximos meses. Os preços dos três grupos de macro nutrientes subiram significativamente em 2021. O preço da ureia, que tem no gás natural russo sua matéria-prima, foi um dos que mais subiram no ano passado, beirando um aumento de 200% no Brasil. Este nitrogenado é importado pelo Brasil em volume expressivo da Rússia.
O potássio — produto que subiu mais de 200% em 2021 e que corresponde por mais de 50% das importações brasileiras de insumos para fertilizantes — já vivia expectativa de alta entre 10% e 20% no primeiro semestre deste ano, em decorrência das sanções econômicas dos Estados Unidos contra a Bielorrússia, um dos principais fornecedores do nutriente no mundo. Isso porque as operações de compra em moeda americana, a utilização de serviços prestados por bancos que tenham escritórios nos Estados Unidos e até mesmo a questão logística marítima pode ser impactada, caso que se agrava com as sanções impostas recentemente à Rússia.
O alto preço dos fertilizantes já vinham pressionando diversos alimentos comuns à mesa dos brasileiros, sobretudo as frutas, legumes e verduras. A alface e a couve, por exemplo, inflacionaram respectivamente 24,53% e 20,49% em 2021. “A incerteza sobre o preço que será praticado futuramente na compra e reposição destes insumos faz com que suba o valor dos estoques disponíveis, e isso é no curto prazo”, alerta Rodrigo Marinheiro, Executivo de Relações Institucionais da APAS. “Ter estoque para mais 3 ou 6 meses não significa estabilidade de preços para o consumidor neste mesmo período”, explica. A expectativa do setor supermercadista é que todas as commodities que dependem dos fertilizantes sejam impactadas no curto à média prazo.
Escassez do trigo e seus derivados
Associados da APAS, a Associação Paulista de Supermercados, relatam que o preço do trigo já aumentou 15% em algumas negociações, com reajuste programado de mais 15% ainda na primeira quinzena de março. Alguns fornecedores não têm passado seus preços alegando de que a Argentina, principal fornecedor brasileiro do trigo, tem adotado cautela na precificação, esperando que o preço da commodity se valorize ainda mais conforme o confronto no leste europeu se prolongue.