O crescimento da economia no País trouxe a ascensão de algumas classes sociais e resultou em um novo ciclo para o comércio. Com o poder de compra maior, consumidores de todas as classes passaram ter mais acesso a produtos com maior qualidade e, principalmente, que trazem praticidade ao dia a dia.
Uma pesquisa divulgada pela Associação Paulista de Supermercados (Apas) aponta que a classe D passou a comprar mais supérfluos nos mercados em todo o Estado. São produtos como molho de tomate, cereal, leite em pó, azeite, cremes, entre outros que, antes, eram substituídos ou encarados como desnecessários.
Para se ter ideia, os carrinhos das famílias classe D, cuja renda média per capita é de R$ 400,00, levavam, em média 43 itens supérfluos no acumulado do ano passado. Seis anos antes, não passava de 34.
Segundo a APAS, a classe E, formada por famílias que recebem até um salário mínimo por mês, também faz parte dessa realidade. Na região, contudo, o número não chega a ser expressivo quanto da classe D, segundo ressalva feita pelo economista Reinaldo Cafeo.
Um fato curioso no levantamento é que o total de supérfluos consumidos pelas classes D e E já se equipara ao total registrado pela classe C desde 2012 (veja quadro acima). Vale lembrar, no entanto, que os números da pesquisa em questão não refletem o panorama do mercado econômico neste momento, já que supermercadistas e economistas esperam estabilização.
Foco
Apesar de considerar uma visão macro, já que os números referem-se ao Estado, a pesquisa, segundo a diretoria regional da Apas em Bauru, aplica-se também ao município. “O grande foco dos supermercados, hoje, está nas classes D e E. A classe C também é forte nessa questão, mas viveu seu auge em 2012”, observa Émerson Svizzero, diretor da Apas regional Bauru.
“São consumidores que estão empregados, seja na construção civil ou qualquer outra atividade, e que, com o passar dos anos, tornaram-se mais exigentes”, detalha Émerson.
Fato que vem gerado muito mais trabalho por parte dos supermercadistas, que acabam tendo que garimpar mais para encontrar os tais supérfluos com marcas a um baixo custo. “O azeite, por exemplo, antes o pessoal temperava salada com óleo de soja”, completa Émerson, que também é proprietário de um supermercado.
A mesma ponderação é feita pelo vice-presidente da Apas São Paulo, Erlon Godoy Ortega, que atua há 20 anos no setor. “Houve um incremento na compra da população nos cinco últimos anos. O consumo está mais variado. Pessoas que antes levavam só creme dental, estão levando enxaguatórios, por exemplo”, afirma Ortega. Ele, no entanto, faz uma ressalva quanto à realidade observada nos últimos meses: “Essa alta se deu nos últimos anos. Com a inadimplência em alta e a economia travada em 2014, o consumo deve ficar mais estagnado”, avalia.
Ascensão?
Sobre a realidade apontada na pesquisa, o economista Reinaldo Cafeo explica que o fenômeno teve início após a estabilidade de preços trazida pelo Plano Real em 1994. “Nos últimos 20 anos, ao menos de 30 milhões de brasileiros ascenderam de classe social, o que fortaleceu, principalmente, a classe C. Tivemos investimentos fortes na área social e o País começou a se movimentar”, comenta o economista.
O crescimento também trouxe um novo ciclo econômico e famílias mudaram de patamar, passando a ter acesso a produtos de mais qualidade, antes consumidos apenas pelas classes mais abastadas.
Em Bauru, o setor de serviços, recuperadoras de créditos e os canteiros de obras teriam sido os principais responsáveis por essa ascensão. “Essas pessoas continuam tendo uma vida comedida, mas acessam produtos de qualidade, principalmente, no ramo alimentício, gerando mais disputa no consumo”, enfatiza Cafeo.
Ressalvas
O economista Reinaldo Cafeo, no entanto, alerta para duas ressalvas. Uma delas, também feita pelo vice-presidente da Apas, Erlon Ortega, é de que a pesquisa em questão não reflete a realidade observada nos últimos meses.
“No primeiro semestre, a produção diminuiu em todo o País, portanto, os números não devem ser animadores neste ano”, frisa Cafeo.
Outra observação é de que, apesar de a classe E, estar elencada na pesquisa como parte dos principais grupos que estão consumindo mais, ela representaria minoria quando o assunto é compra de supérfluos. “A classe E está em um patamar de sobrevivência, não acredito que sejam propulsores do consumo. A C é a grande propulsora e a classe D é quem tem começado a se atentar para tudo isso”, finaliza o economista.
Devia ser uma compra controlada, porém…
O que era para ser a compra básica do mês virou um mix de supérfluos no carrinho de compras da família do frentista Willian Francisco Ferreira, de 27 anos. Até pares de chinelos novos para toda a família – a esposa Bartira Landim, de 24 anos, e dois filhos de 4 e 6 anos – foram parar em meio às compras do mês que, segundo o próprio casal, deveria ser “controlada” por conta do orçamento apertado de, aproximadamente, dois salários mínimos ao mês.
“E olha que, desta vez, viemos sem as crianças. Senão os gastos com supérfluos seriam ainda maior”, comenta Bartira.
Assim como a família de Willian Ferreira, a comerciante Fernanda Carnaíba, de 34 anos, também não resistiu à compra de supérfluos,. “Vim buscar só pão, mas decidi levar bolachas e cremes para cabelo, que já estão acabando. É a mania de consumir, fica difícil resistir”, comenta a mulher.
Enquanto decidia, eis que surge outra lembrança. “Preciso dar banho na minha cachorra, acho que vou levar mais esses dois, são bem cheirosos”, completa a comerciante, que finalizou a compra com quatro tubos de cremes para cabelo nas mãos.
Em tempo: na pesquisa divulgada pela Apas, as classes sociais A e B levaram o segundo lugar na categoria dos consumidores que mais têm adquirido novos produtos, ano a ano, nos supermercados.
Fonte: Jornal A Cidade
