Os trabalhadores bem remunerados são aqueles mais afetados pela tributação vigente no País. Certo? Não aqui no Brasil. Um estudo da KPMG mostra que, ao contrário da tendência mundial, o nosso país cobra mais impostos daqueles que ganham menos. Este cenário proporciona uma série de consequências, como por exemplo, a diminuição de recursos das classes de baixa renda e a retração do consumo nas lojas de supermercados. Ou, ao menos, a substituição de produtos ou marcas que melhor se adequem ao bolso.
Segundo dados da Nielsen, a compra de alimentos e bebidas contempla o maior peso entre todas as despesas do lar, atingindo em média 27%. E este percentual acentua-se no orçamento das classes médias e baixas da população: entre as pessoas que compõem a classe C, por exemplo, este percentual chega a 31%. Nas classes D e E, o percentual registrado é de 40%, enquanto os mais abastados das classes A e B “reservam” 22% do orçamento para o abastecimento do lar. Portanto, os gastos das classes menos abastadas estão acima do gasto médio no Brasil.
Outro dado interessante tem como fonte a Kantar Worldpanel, especializada em pesquisa de mercado acerca dos consumidores. De acordo com a consultoria, o volume de vendas de bebidas e alimentos vem crescendo nos últimos anos, sendo principalmente impulsionado pela maior inserção das classes D e E neste cenário de consumo. Entre 2011 e 2012, por exemplo, foi registrado um aumento de 3% no volume de vendas relacionado às classes de baixa renda, fazendo com que qualquer elevação de impostos ou aumento da inflação se reflita de forma mais expressiva neste grupo de consumidores. Neste mesmo período de comparação, as classes A, B e C contaram com uma queda de 4% no consumo.
No que diz respeito ao consumo de itens primários, tais como os produtos alimentícios, os dados da Kantar Worldpanel apontam que famílias pertencentes às classes A e B gastam 20% do orçamento nestes itens contra 37% das classes D e E. Ou seja, o consumo de alimentos e bebidas no orçamento familiar, em termos percentuais, é maior nas classes de rendas menores.
“Eleger como alvo os contribuintes de alta renda foi o caminho encontrado por muitos países, como Estados Unidos e Eslovênia, para obter receita e ainda ser visto pelos contribuintes como aquele que está fazendo a coisa certa e necessária para a melhoria de seu País,” afirma a sócia de Tributos da KMPG no Brasil, Patrícia Quintas.
O presidente da Associação Paulista de Supermercados (APAS), João Galassi, considera a política tributária brasileira prejudicial ao setor supermercadista. “Dados comprovam que, proporcionalmente, quem ganha menos, consome mais. Então, a maior incidência de tributos e impostos sobre este grupo de consumidores acarretará na diminuição das vendas ou na aquisição de um menor número de produtos”, afirma.