A APAS avalia que a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (COPOM) em manter os juros básicos da economia (taxa SELIC) em 14,25% ao ano reflete o descompasso da política econômica do governo.
Por um lado, há a tentativa de reduzir os riscos de uma inflação mais elevada ao longo de 2016 e, ao mesmo tempo, buscar realizar o ajuste fiscal para sanar as contas e auxiliar no processo de desaceleração da inflação. Por outro, compromete a retomada da atividade econômica ao elevar a taxa básica de juros.
Conforme explicou o economista Rodrigo Mariano, gerente do departamento de Economia e Pesquisa da APAS, o risco é de que esta combinação de ajuste fiscal com elevação de juros possa agravar o quadro de recessão da economia brasileira. “Para 2016, a expectativa é de redução da taxa básica, que deve encerrar o período em 13% ao ano, o que ainda é elevado diante da necessidade de impulsionar a atividade econômica em busca da retomada do crescimento”, diz.
Mesmo diante do patamar da SELIC em 14,25%, a inflação continua afetando o poder de compra da população, impactando diretamente no consumo das famílias. Isso se refletiu em desaceleração no desempenho das vendas no varejo, incluindo o setor supermercadista, que registrou um dos piores desempenhos dos últimos 7 anos (de janeiro a agosto, a queda real nas vendas nos supermercados atinge 1,88%).
Segundo Rodrigo, é fato que a elevação da taxa de juros auxilia no controle do processo inflacionário. Porém, torna o crédito mais caro, inibindo o investimento produtivo, fator essencial para a retomada do crescimento, sem riscos de uma alta inflação.
A elevação dos juros, por meio de uma política monetária mais restritiva, traz impactos negativos no médio e longo prazos. “O custo desta política monetária contracionista tem se traduzido em uma perda do ritmo da atividade econômica, prejudicando ainda mais o crescimento econômico para 2015. A continuidade do aumento dos juros irá prejudicar, também, a atividade econômica em 2016”, afirma o gerente.
O impacto da taxa de juros possui um efeito que se propaga e que, de maneira defasada, atinge a economia em até seis meses. “Estamos falando de um impacto que ainda ocorrerá nos primeiros meses de 2016. Faz-se necessária uma coordenação mais alinhada entre a política fiscal e a política monetária adotada no Brasil, em que a preocupação deve ser a rapidez com que devem ser aprovadas as medidas de ajuste fiscal e a dosagem da política monetária que está sendo adotada”, completa.
Rodrigo esclareceu, ainda, que este cenário de alta de juros em um ambiente de inflação elevada e persistente, e de emprego e renda em queda livre, levará o país a um dos piores resultados do governo em toda a história no Brasil. “O crescimento do país na atual gestão do governo federal só não é pior que nos governos de Floriano Peixoto (1891 a 1894) e de Fernando Collor (1990 a 1992). Será este o preço pago por um período prolongado de desarranjos na política econômica do país”, finaliza.