O Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) em parceria com a Fipe, registrou inflação de 0,46% em outubro, motivado pelo aumento de preços de quase todas as categorias de produtos, com exceção dos produtos industrializados e de limpeza. As categorias que registraram alta no mês foram: produtos in natura (2,94%), semielaborados (-1,06%), bebidas (0,88%) e produtos de higiene e beleza (0,10%). Em sentido oposto, as categorias de produtos de limpeza (-0,60%) de alimentos industrializados (-0,26%) apresentaram queda no mês.
O resultado do IPS de outubro apresentou significativa desaceleração no comparativo com o mesmo período de 2022, passando de 0,80%, em outubro de 2022, para 0,46%, em 2023. Com esse resultado, o IPS acumula deflação de 0,91% no ano e inflação de apenas 0,38% em doze meses.
O comparativo da inflação acumulada em doze meses evidencia com maior ênfase a distinção entre os anos de 2022 e 2023. Em outubro de 2022, a inflação acumulada em doze meses era de 16,46%, já no mesmo mês de 2023, o resultado, como indicado, está abaixo de 0,4%.

O resultado de outubro quebra a sequência de quatro meses seguidos de deflação. Esse resultado já era esperado pela APAS e converge com as projeções da instituição para o ano. No entanto, não desconsideramos os efeitos exógenos provenientes do cenário externo e das alterações climáticas sobre o comportamento dos preços já no curto prazo. Por isso, a APAS acompanha com atenção as recentes alterações nas conjunturas econômica e política internacionais e seus reflexos sobre a economia doméstica. No atual momento os pontos de maior atenção são:
1. Guerra na Ucrânia. A continuação da guerra na Ucrânia produz, além da perpetuação do sofrimento aos civis, impactos sobre os preços internacionais de diferentes produtos, desde fertilizantes e trigo até gás natural e petróleo. Além disso, a eminência do início do inverno tende a produzir impacto sobre a cotação do gás natural e do petróleo no mercado internacional, uma vez que a Rússia, apesar das sanções econômicas impostas pelos países da OTAN, ainda é um dos principais fornecedores de hidrocarbonetos aos países europeus e estas commodities, em específico, são, além de bens fundamentais, instrumentos e armas nas guerras geopolíticas.
2. Guerra no Oriente Médio. A guerra no Oriente Médio entre Israel e o Hamas avança para o segundo mês e não há no horizonte a realização de um cessar fogo, tampouco a realização de um acordo de paz. O escalonamento do conflito pode produzir outros movimentos no xadrez global com o risco de envolvimento direto de mais países, tanto da liga árabe quando da Otan, em especial os Estados Unidos. O envolvimento de outros países tende a produzir múltiplos efeitos sobre a economia global, desde a alteração da cotação do petróleo no mercado internacional até a alteração no fluxo global de capitais.
3. Petróleo e gás natural. O petróleo e o gás natural são importantes insumos produtivos e, dada a situação dos países envolvidos direta e indiretamente nos dois palcos de guerra – Ucrânia e Israel –, os hidrocarbonetos se apresentam como estratégicas armas de negociação geopolítica. Neste sentido, a APAS não descarta o cenário de instabilidade na cotação do petróleo e do gás natural no cenário de curto e médio prazos, impactando, inclusive, os preço dos fretes e de diferentes insumos produtivos.
4. Alterações climáticas. Os sucessivos recordes de temperatura e o eventos climáticos extremos observados em diferentes regiões do mundo tendem, ingualmente, a impactar a produção agrícola no Norte e no Sul Global, inclusive o Brasil.Em âmbito doméstico, os efeitos das alterações climáticas já são amplamente conhecidos, com seca na região amazônica e chuvas abundantes na Região Sul do país. Neste ano, a produção agrícola não foi impactada pela alteração climática – haja vista o país teve safra recorde de gãos –, no entanto, para a safra 2023/2024 é possível haver impactos. Por isso, a APAS acompanha com atenção a evolução da produção doméstica das diferentes culturas agrícolas.
5. Cenário macroeconômico externo. A APAS acompanha com atenção o rumo da política monetária norte-america, o aumento das políticas protecionistas em diferentes partes do mundo, a desaceleração do crescimento chinês, as ações do Banco Central Europeu e os efeitos da conjunção de diferentes variáveis sobre o mercado doméstico brasileiro.
Para este ano, a APAS projeta que a inflação da cesta de consumo das famílias nos supermercados paulistas, apesar da volatilidade no cenário externo, deverá encerrar com a menor desde 2017, em 0,75%. Essa expectativa está apoiada, sobretudo, na deflação acumulada até o último mês e a tendência de baixa ou de alta moderada de importantes itens da cesta de consumo.

Semielaborados
A categoria Produtos semielaborados, após quatro meses seguidos de queda, registrou alta de 1,06% em outubro, decorrente da alta do preços da carne bovina (3,12%), das aves (4,16%), dos cereais (1,21%) e pescados (0,35%). Em sentido oposto, o leite e a carne suína registraram queda nos preços ao consumidor final, com variação de -3,74% e -1,31%, respectivamente. Com o resultado de outubro, a categoria de produtos acumula deflação de 7,71% no ano. No últimos doze meses, a queda é ainda maior: 8,82%. A expectativa da APAS é que durante o último bimestre do ano, a categoria mantenha a tendência inflacionária, aumentando marginalmente os preços das subcategorias. Se o cenário projetado pela APAS se projetar, a categoria encerrará o ano com deflação, porém, em menor patamar.
O aumento de preços da carne bovina em outubro (1,06%) já era esperado pela APAS. Na nota técnica de setembro, apontamos que os dados do CEPEA e do MDIC mostravam que a indústria produtora da proteína animal estava a recionar grande parte de sua produção ao mercado externo e que essa ação produziria reflexo sobre os preços ao consumidor local. Mesmo com a alta observada no último mês, a subcategoria acumula queda nos preços superior a 10%, com variação de -12,34% no ano e -11,46% no acumulado em doze meses. Para o último bimestre do ano, a expectativa é que os preços dos diferentes cortes bovinos mantenham a tendência de alta, motivado, sobretudo, pelo aumento sazonal da demanda nas festas de final de ano.
A carne suína, com o resultado de outubro (-1,31%), acumula queda de 6,68% no ano e retração de 2,94% em doze meses. Os pescados, com o resultado de outubro (0,35%)registram deflação no ano (-0,17%) e alta no acumulado em doze meses (1,91%).
Dentro da subcategoria de proteínas animais, as aves foram as que registraram maior alta em outubro (4,16%), decorrente da alta de4,31% no preço do frango. Mesmo com a alta de outubro, o preço do frango acumula forte queda tanto no ano (-12,85%) quanto em doze meses (-15,89%). Durante o último bimestre do ano, o subitem que deve apresentar maior alta é o peru, em decorrência do consumo sazonal de final de ano.
É certo que o preço do peru vem caindo ao longo de 2023 (-9,41%), porém, no comparativo com o mesmo período do ano anterior, ainda acumula forte alta (29,63%). Esperamos que o produto inflacione durante novembro e dezembro, mas numa proporção mais módica do que a observada no último ano.

O preço do leite ao consumidor final paulista mantém pelo quinto mês consecutivo queda no preço ao consumidor final. Com o resultado de outubro (-3,74%), o preço do leite acumula deflação de 5,33% e 15,74%, no ano e em doze meses, respectivamente. A manutenção da queda do preço do leite tem produzido efeito em cadeia, com queda nos preços dos produtos industrializados derivados de leite.

A subcategoria de cereais, após quatro meses seguidos de queda, voltou a inflacionar em outubro (1,21%), impulsionado pela alta nos preços do arroz (3,33%) e do milho (0,84%). Em sentido oposto, o feijão deflacionou 2,83% no período. Com o resultado de outubro, a subcategoria acumula inflação de de 0,35% no ano e alta de 5,59% em doze meses.
Como já apontado em notas técnicas anteriores, o preço do feijão tem apresentado retração superior a 20% no ano em decorrência da expressiva safra de 2023. Vale lembrar que quando iniciou-se a segunda safra da leguminosa ainda havia considerável estoques disponíveis da primeira safra. O comportamento do preço do arroz é diferente do feijão. Com o resultado de outubro, o produto acumula alta de 13,87% no ano e de mais de 20% em doze meses. Essa forte alta é reflexo direto das alterações climáticas e dos impactos sobre a produção doméstica.
Industrializados
A categoria de produtos industrializados apresentou deflação de 0,26% em outubro. Com esse resultado, a inflação da categoria desacelerou para 0,69% no acumulado do ano e 1,75% em doze meses. O resultado do mês é fruto da redução de preços das seguintes subcategorias: derivados de leite (-1,79%), derivados de carne (-1,29%), panificados (-0,77%) e enlatados e conservas (-0,43%).
Em sentido oposto, apresentaram alta nos preços as seguintes subcategorias: adoçantes (3,04%), café, achocolatados em pó e chás (0,97%), óleos (0,70%), doces (0,49%), alimentos prontos (0,41%) e massas, farinhas e féculas (0,23%),
As subcategorias de biscoitos e salgadinhos e condimento e sopas ficaram relativamente estáveis no mês.
O resultado positivo da categoria de produtos industrializados neste ano, com alta moderada de preços, decorre, sobretudo, da safra recorde e da diminuição ou aumento moderado do preço de muitos insumos produtivos. Os casos das subcategorias de óleos e café são exemplares, no ano elas acumulam queda de aproximadamente 15% e 4,3%, respectivamente. No caso específico da subcategoria de óleo, o único item que apresenta tendência de preço contrária à do grupo é o azeite, que apresenta alta de quase 30% no ano Como já apontado em notas técnicas anteriores, as mudanças climáticas e seus efeitos diretos sobre a produção das olivas no mediterrâneo têm produzido forte pressão sobre o preço no mercado mundial. Apenas em outubro, o azeite aumentou 5%.
Produtos In natura
Os produtos in natura inflacionaram 2,94% em outubro, decorrente da alta no preço dos tubérculos (11,29%) e das frutas (2,94%). Em contrapartida, as verduras, os legumes e os ovos apresentaram redução nos preços em outubro, com variação de-2,89%, -2,97%, -0,60, respectivamente.
Dentro da subcategoria de frutas, as principais variações no mês foram: fruta de época (12,45%), mamão (8,71%) e maracujá (7,12%) para alta e melão (-10,15%) e abacaxi (-3,55%) para queda.
Dentro da subcategoria de legumes, as maiores quedas foram dos seguintes produtos: beterraba (-11,93%), cenoura(-7,15%) e tomate (-5,23%)
Já entre os tubérculos, a batata, após forte queda no ano, aumentou 23,19% em outubro. O mesmo aconteceu com a cebola, que variou 8,20%. Apesar da forte alta dos dois itens, no acumulado do ano cebola e batata acumulam queda de 53,8% e 27,3%, respectivamente.
As verduras, igualmente, apresentam variações acentuadas de preços no mês, sendo que as maiores quedas foram dos seguintes itens: alface (-6,64%) e salsa (-4,35%).
O grupo de produtos in natura tende a apresentar forte volatilidade nos preços em decorrência, sobretudo, dos aspectos sazonais e climáticos. No entanto, apesar da natural oscilação nos preços dos itens que compõem o grupo, o comportamento do preço em 2023 segue em tendência acomodatícia, com queda moderada até outubro (-2,89%).

Bebidas
A subcategoria de bebidas inflacionou 0,88% em outubro. Entre as bebidas não alcoólicas, a alta no preço dos refrigerantes (0,78%), puxou o indicador de toda a subcategoria para cima (0,73%). Já entre as bebida alcoólica quase todos os itens inflacinoaram no mês: cerveja (1,25%), aguardente (2,30%), champanhe (1,45%) e vodca (1,29%). Dentro da subcategoria, apenas o vinho apresentou queda dos preços em outubro, com leve variação de -0,5%.
Artigos de Limpeza e Produtos de higiene e beleza
A categoria de produtos de limpeza apresentou deflação de -0,60% em outubro, puxado pela queda nos preços dos diferentes tipos de sabão (em pó, líquido, em barra) e detergentes.
Já a categoria de artigos de higiene e beleza apresentou leve alta no mês (0,10%). A alta no mês não diverge do cenário apresentado em notas técnicas anteriores. As duas categorias (limpeza e artigos de higiene e beleza) desde o último quadrimestre de 2022 já vinham desacelerando consistentemente e, desde agosto, passaram a apresentar deflação. O comportamento dos preços das duas categorias observado no último bimestre decorreu, sobretudo, da desaceleração e mesmo redução de insumos produtivos.
