Apesar da perspectiva de preços menores da energia elétrica em 2016, a indústria ainda não vê grandes oportunidades para reduzir seus gastos com a conta de luz. Segundo executivos, os encargos cobrados nas tarifas e a persistência dos reajustes de 2015 ainda pesam.
“A previsão que temos, com as chuvas que surgiram desde o final do ano passado, é que o nível das represas suba e ocorra o desligamento de algumas termelétricas, reduzindo o sistema de bandeira para os patamares amarelo ou verde, o que leva a uma queda imediata do custo da energia”, aponta o diretor titular do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) da região do Alto Tietê, José Francisco da Silva Caseiro. “Mas o alívio não vai ser tão grande. No ano passado, tivemos aumentos de 60% na tarifa das indústrias e, neste ano, devemos ter um desconto de 10% com a bandeira”, pondera ele.
A entidade se reuniu na semana passada com a distribuidora responsável pela área, a EDP Bandeirante, para discutir o futuro das tarifas no Alto Tietê, região do interior de São Paulo. A partir do encontro, Caseiro diz ter chegado à conclusão de que o alívio para este ano será muito marginal, até porque o último reajuste de preços concedido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para a concessionária foi de mais de 17% para clientes de alta tensão.
Em algumas cidades, entre elas Mogi das Cruzes, o industrial ainda tem outro custo pressionando a conta de luz, desde a implantação da alíquota de 6% da chamada Cobrança de Iluminação Pública (CIP), avalia o diretor do Ciesp. “Isso sem contar todos os outros custos de produção, que continuam subindo.”
Para o presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi), Joseph Couri, o maior problema é que o industrial sofreu nos últimos dois anos com uma alta de mais de 100% nos gastos com eletricidade, aumento que não poderia ser compensado no curto prazo. Ele afirma que, como alternativa para sobreviver, o empresário vem sendo obrigado a mudar para instalações menores, cortar o consumo de energia e água, reduzir preços de locação e fechar postos de trabalho.
Segundo o diretor da consultoria especializada Thymos Energia Ricardo Savoia, a média de reajustes das tarifas deve fechar o ano com redução de 5% até uma alta de 5%, sempre abaixo da inflação. Com a mudança da bandeira vermelha para a verde, a redução adicional deve ser de 6% sobre o total da conta de luz.
Na grande São Paulo, a perspectiva é mais otimista, sinaliza o diretor titular do Ciesp São Bernardo do Campo (SP), Mauro Miaguti, mas, diante da baixa na demanda e da produção industrial, seria necessário que as tarifas retornassem ao mesmo patamar de dois ou três anos atrás.
“A situação hoje, em termos de oferta, está extremamente confortável. As indústrias estão consumindo muito pouco, isso sem contar as que estão fechando as portas. Existe energia disponível no mercado”, aponta o executivo, que também se reuniu na semana passada com a CPFL Energia, responsável pela distribuição na cidade. De acordo com ele, com a pressão tarifária menor e a migração de um volume cada vez maior de empresas para o mercado livre de energia, no qual o consumidor negocia a compra de eletricidade diretamente com a geradora, a tendência é que haja uma queda de 25% a 30% nas contas das indústrias locais.
Mercado Livre
Embora a migração para o mercado livre pareça ter surgido como uma solução para os gastos elétricos do setor industrial, o presidente executivo da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace), Paulo Pedrosa, sugere que é preciso muita cautela e estudos de longo prazo antes de decidir pela alternativa. Ele previne que os preços anunciados da eletricidade no ambiente livre nem sempre são condizentes com o custo final dessa energia, uma vez que os encargos cobrados sobre os contratos de fornecimento também aumentaram em 2015.
“O mercado livre é um instrumento fantástico para a competitividade da indústria, mas ele exige do consumidor um amadurecimento também”, aponta Pedrosa. “É perigoso você vender a ilusão de que há uma onda de preços baixos, isso pode levar a uma migração exagerada de clientes para o ambiente livre e isso criar uma bomba para daqui a dois anos”, alerta.
Para os associados da Abrace, todos participantes do mercado livre, a queda do preço da energia tanto pode ser uma vantagem como pode ser um peso, afirma o executivo. Por um lado, as empresas têm mais oportunidades para trocarem contratos antigos por outros com preço menor. De outro, com a queda da produção industrial, as companhias também estão com sobras de energia que podem vender no mercado, e os preços menores afetam o valor das negociações, declara ele.
Em janeiro, o consumo de eletricidade pela indústria caiu 9,3% sobre um ano antes, para cerca de 12,5 mil gigawatts-hora (GWh), segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Já o presidente da Associação Brasileira das Comercializadoras de Energia Elétrica (Abraceel), Reginaldo Medeiros, considera que o mercado livre teve tempo nos últimos anos em que ficou paralisado para se reinventar e resolver parte dos seus problemas, portanto está pronto para receber as mil empresas que estão em processo para migrar para o ambiente.
“O mercado evoluiu nesses últimos anos, enquanto não havia a migração porque o preço livre estava mais alto”, afirma o executivo. “Se pararmos para pensar, a agenda dos últimos dois anos foi tomada por problemas do mercado regulado, não do livre”, avalia ele.
De acordo com cálculos da associação, o custo final da eletricidade para o consumidor industrial deve ficar cerca de 36% a 38% menor no mercado livre em relação à media das dez maiores distribuidoras. Na média histórica, com seus altos e baixos, o preço da energia no ambiente livre tende a ser 17% inferior ao cativo, estima.
Para a pequena e microindústria, entretanto, o benefício não pode ser acessado, dado o consumo mínimo exigido pela Aneel para a migração, lembra Couri, do Simpi. E mesmo aquelas empresas que podem entrar no mercado livre, diz ele, devem ter cuidado. “Há alguns anos o preço do ambiente livre era o dobro do cativo. Aqueles que, na época, migraram sem estrutura chegaram a falir”, alerta.
Fonte: Jornal DCI