Leite e aves puxaram a alta de preços do mês de acordo com o levantamento produzido pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) e pela Fipe.
Em abril, o Índice de Preços dos Supermercados (IPS), apurado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) e pela Fipe, foi de 3,02%, acumulando 16,49% nos últimos 12 meses. A alta foi puxada, sobretudo, pelos preços internacionais das commodities e também por conta dos custos de produção, atingindo sobretudo os itens industrializados, que têm peso nas despesas das famílias.
O preço das commodities vem escalando desde março de 2020 e ganhou ainda mais impulso desde o início do conflito entre Ucrânia e Rússia. Os custos de produção aceleraram com a alta da inflação, que impactou o valor das matérias primais e os custos logísticos, principalmente. Os custos da indústria alimentícia subiram 3,01% no primeiro trimestre deste ano, quando comparados ao mesmo período do ano passado.
O leite foi um dos produtos mais afetados em abril aoinflacionar 11,94% no mês, a maior elevação desde julho de 2018, acumulando 23,28% nos últimos 12 meses. Além das pressões já citadas, contribuiu com o resultado a decisão dos produtores de reduzir a oferta do item, provocando escassez e maior disputa por parte da indústria e elevando também o custo de produção de seus derivados.
Além disso, fatores climáticos também interferiram na oferta do produto. A estiagem no sul do país reduziu as pastagens e a falta de chuva prejudicou a qualidade das silagens, aumentando o custo do produtor na compra de ração para o gado leiteiro.
A demanda internacional por produtos avícolas impactou o preço no Brasil. Em abril, o preço das aves para o consumidor final teve alta de 10,74%. O surto de gripe aviária (H5N1) nos Estados Unidos e na Europa, fez com que a China cancelasse as importações vindas dos EUA, valorizando o produto brasileiro. Diante da procura externa, o produtor nacional ajustou a oferta dirigida ao mercado interno.
Apesar da maior alta no preço das aves, as proteínas animais sofreram o impacto da aceleração do preço das commodities e dos combustíveis, além do custo logístico em toda a cadeia produtiva. A exceção foi a carne suína, que apresentou novamente deflação (são -8,93% nos últimos 12 meses), devido ao resultado do aumento da produção no ano passado (4,86%), tendência de preços que deve ser mantida no primeiro semestre deste ano.
A oferta do item também deve se manter alta por conta das dificuldades da Rússia em importar o produto brasileiro devido a guerra com a Ucrânia,. No acumulado do ano, as importações russas caíram 12,9% em comparação com o mesmo período de 2021 e colocam a China como maior importador do item. Projeções mostram que o mercado interno chinês está se estabilizando e vem reduzindo a demanda pelo produto brasileiro. Em 2019, a China enfrentou problemas coma Peste Suína Africana, que impulsionou as compras do produto no mundo inteiro.
Em abril, os hortifrutigranjeiros tiveram alta de 3,41% e, nos últimos 12 meses, 34,86%, com inflação empurrada pelos legumes e verduras, que subiram 3,93% e 3,10%, respectivamente. Assim como o leite, os produtos in natura foram impactados pelo clima e também pela elevação dos preços dos fertilizantes. Tanto os nitrogenados quanto os fosfatados já apresentavam alta de preços desde setembro de 2021, tendência que se intensificou com o conflito entre Rússia e Ucrânia – o primeiro é o grande exportador de fertilizantes para o Brasil.
As bebidas alcoólicas sofreram variação de 0,64% em abril, com acumulado de 6,45% nos últimos 12 meses. Entre os itens, o de maior relevância foi a cerveja, que subiu 0,67% no mês, com as empresas começando a repassar o aumento nos custos de frete. Em relação às bebidas não alcoólicas, a inflação foi maior, de 2,16% e, nos últimos 12 meses, 11,63%, com destaque para os refrigerantes (3,03% em abril) e acumulado de 16,22% nos últimos 12 meses, refletindo impacto direto do aumento do preço do açúcar.
Neste primeiro semestre, a expectativa é de instabilidade em diversos setores da economia, principalmente naqueles impactados pelos preços internacionais das commodities, da guerra entre Rússia e Ucrânia e da reorganização da cadeia logística mundial.
Para os próximos meses, o mercado espera nova pressão sobre os preços dos óleos, principalmente por conta da valorização do óleo de palma, que teve redução do volume ofertado no mercado internacional por conta das restrições da Indonésia, maior produtor mundial do item.