O Índice de Preços dos Supermercados (IPS) calculado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) em parceria com a FIPE, houve desinflação no mês de abril na comparação com março: o IPS atingiu +0,39% em abril ante +0,57% no mês anterior. Houve desaceleração mensal nos seguintes grupos: alimentação e bebidas (+0,59% em março e +0,41% em abril), bens semielaborados (+0,52% em março e -0,70% em abril), bebidas não alcoólicas (+2,04% em março e +1,35% em abril) e artigos de higiene e limpeza (+1,03% em março e +0,17% em abril).
A desaceleração da inflação mensal no grupo de bens semielaborados ocorreu também nas carnes suínas (+1,79% em março e -1,00% em abril), aves (+2,22% em março e -0,09% em abril), leite (+3,43% em março e +2,00% em abril) e cereais (+0,92% em março e -2,97% em abril).
Em 12 meses, o IPS registra inflação de 1,45% para dados até abril influenciado pelo aumento de 2,02% no grupo de alimentos e bebidas: bens industrializados apresentaram inflação de 0,56% até abril, produtos in natura que tem inflação de 19,57% em 12 meses e bebidas alcoólicas (+4,68%) e bebidas não alcoólicas (+6,19%).
A pressão inflacionária do grupo alimentos e bebidas dentro do IPS-APAS tem sido provocada principalmente pelos produtos in natura – importante ressaltar que os dados de abril ainda não refletem os efeitos da catástrofe climática que assola o Rio Grande do Sul. Embora os efeitos das enchentes do Rio Grande do Sul ainda não tenham refletido sobre os preços in natura já vinham apresentando aceleração – em 12 meses a inflação nesse grupo atingiu quase 20%.
Quando se analisa o IGP-M da Fundação Getúlio Vargas (FGV) podemos encontrar explicação para essa aceleração. O índice apresentou reversão da deflação que vinha ocorrendo e assinalou inflação 0,31% em abril ante deflação de 0,47% em março.
Do ponto de vista macroeconômico, nacional e internacional, o cenário mensal sofreu pouca alteração com relação ao comunicado anterior. No âmbito internacional, os dados de inflação dos Estados Unidos estão mostrando maior resiliência do que era esperado, o que deve garantir que a taxa de juros não sofra alterações nas duas próximas reuniões. Por outro lado, o Banco Central Europeu deve iniciar o afrouxamento monetário já na próxima reunião em 06 de junho, o que deve provocar ligeira desvalorização do Euro.
No Brasil, mesmo ainda sem ser possível mensurar os impactos na atividade econômica e na inflação das tragédias do Rio Grande do Sul, o Banco Central tem sinalizado desde a última reunião do Copom que o ciclo de cortes de juros deve ser interrompido antes do esperado. A própria redução de 0,25 p.p. da taxa Selic e o posterior comunicado do Comitê indicam que o Colegiado está cauteloso sobre os cenários macroeconômicos doméstico e internacional e, por isso, está a adotar uma postura conservadora e parcimoniosa na redução da taxa de juros.
Semielaborados
A categoria de produtos semielaborados deflacionou 0,70% em abril, puxado pela redução dos preços das proteínas – a carne bovina recuou -1,39%, a carne suína, -1,0%, enquanto o frango e os pescados recuaram -0,1% e -0,26%, respectivamente – e dos cerais. O feijão e o arroz, após forte alta durantes os últimos meses de 2023 e os primeiros meses do ano, deflacionaram -5,04% e -1,94% em abril, respectivamente. Com o resultado de abril, o feijão acumula alta de 10,41% no ano e deflação de -12,88% em doze meses. Enquanto o arroz acumula alta de 6,19% e 28,03% no ano e em doze meses, respectivamente.
Arroz
A tragédia climática que afetou o Estado do Rio Grande do Sul poderá afetar o preço do arroz nos meses seguintes. Os dados do CEPEA reforçam o cenário de alta do produto. Entre a terceira semana de abril e o mesmo período de maio, o preço médio da saca de arroz passou de R$ 101,60 para R$ 118,92, respectivamente.
O Estado do Rio Grande do Sul é o principal produtor de arroz do país. Conforme dados da Conab, na safra 2023/2024, o estado sulista respondeu por 69,3% da produção nacional. Entre a safra de 2022/2023 e a de 2023/2024, a produção nacional de arroz apresentou crescimento de 4,6%, totalizando mais de 10 milhões de toneladas. A produção gaúcha de arroz cresceu acima da média nacional no mesmo período (4,9%) com o incremento de 340 mil toneladas. Com esse incremento, a última safra gaúcha totalizou 7,3 milhões de toneladas.
Conforme dados da última safra (2023/2024), o país exportou 1,5 milhão de toneladas e importou quantidade semelhante do grão. Durante o primeiro quadrimestre do ano, o país importou 434 mil toneladas dos produtos, enquanto exportou 337 mil toneladas.
O Brasil importa arroz principalmente dos países do Cone Sul. Conforme dados de 2023, o principal fornecedor de arroz do Brasil foi o Paraguai, com participação de 66% do volume total importado, seguido de Uruguai e Argentina com participação de 29 % e 5%, respectivamente. Por outro lado, o Brasil exporta arroz para diferentes países, desde o Continente africano (Senegal, Serra Leoa e Gâmbia) até a Europa (Países Baixos e Suíça) e América do Norte (Estados Unidos e México), Central (Costa Rica, Cuba e Nicarágua) e do Sul (Venezuela e Peru).
Conforme os dados mais recentes, o consumo doméstico aparente do produto é de aproximadamente 10,5 milhões de toneladas ao ano e a Conab anunciou que faria leilão internacional de arroz que poderia chegar a casa de 1 milhão de toneladas.
A APAS tem monitorado o mercado e acompanhado com bastante atenção a evolução da conjuntura, em especial daquela relacionada ao mercado de arroz.
Industrializados
A categoria de produtos industrializados apresenta inflação de 0,46% em abril, acumulando alta de 0,40% no ano e 0,56% acumulado de 12 meses. A aceleração moderada de preços dos produtos industrializados no período pode ser explicado pela deflação dos principais subgrupos em termos de peso no indicador, isto é, óleos, derivados de carne e derivados de leite.
Diversas commodities alimentícias apresentaram aceleração dos preços ou inversão da deflação para inflação no mês de abril. Os preços do cacau aceleraram de 19,92% para 63,63%, o café acelerou de 0,62% para 9,57% e a soja que estava em -0,47% para 5,66%. A variação no preço dessas commodities tende a refletir em toda a cadeia produtiva.
Produtos in natura
Os produtos in natura inflacionaram 1,99% em abril, impulsionado pela alta nos preços dos legumes (+10,32%) e verdura (1,43%). Por sua vez, as frutas e os tubérculos, após oscilações acentuadas nos meses anteriores, avançaram +0,22% e +0,80%, respectivamente. Com o resultado de abril, os produtos in natura acumulam alta de 19,57% em 12 meses, impulsionado pelo aumento de todos os grupos de produtos, com exceção dos ovos que apresentaram deflação de 7,40%.
As frutas apresentaram inflação de 13,29% no acumulado do ano com a maioria das frutas que compõem o grupo apresentando inflação em 12 meses, exceto mamão, abacaxi e maracujá, que deflacionaram -9,3%, -8,9% e -3,7%, respectivamente.
Por outro lado, o grupo de legumes apresentou inflação ainda mais elevada em 12 meses: 20,20%. Todos os itens apresentaram crescimento nos preços exceto abóbora, abobrinha e berinjela. A deflação desses produtos é decorrente tanto dos fatores climáticos quanto da safra.
O grupo de tubérculos também apresenta alta expressiva no acumulado em 12 meses; +54,53%. Todos os três itens que integram o grupo apresentam aumento nos preços. A alta mais expressiva foi da cebola (106,4%). A inflação da cebola deve-se a menor oferta do produto vindo da região sul do país além da entressafra. A mesma entressafra que afeta o preço da cebola, afeta também o preço do tomate, cuja oferta também não tem sido suficiente para atender a demanda.
O grupo das verduras foi o que apresentou a menor inflação dentro dos produtos in natura nos últimos 12 meses encerrados em abril de 2024. Dentro do grupo, apenas a couve-flor apresentou deflação no período (retração de 9,4% nos doze meses encerrados em abril).
Bebidas
O grupo de bebidas apresentou inflação no acumulado de 12 meses em seus dois segmentos: bebidas alcoólicas (4,68%) e bebidas não alcoólicas (6,19%).
Dentro do segmento das bebidas alcoólicas, a inflação de aguardentes é a que mais impulsiona o indicador (11,18%), seguido por vinhos (6,35%) e Cerveja (4,45%).
Já o grupo de bebidas não alcoólicas, os refrigerantes (maior peso no indicador) são a maior contribuição para a inflação do período.
Artigos de limpeza e Produtos de higiene e beleza
Os artigos de limpeza apresentaram deflação no acumulado de 12 meses em virtude do mesmo movimento observado pelos principais produtos com destaque para a maior deflação do grupo: sabão em pó (-11,49%).
Já os artigos de higiene e beleza apresentaram crescimento nos preços (1,57%) no acumulado de 12 meses. Os resultados foram bastante dissipados entre os produtos que compõem o grupo sendo que dos três produtos com maior peso, dois apresentaram deflação (sabonete e papel higiênico) e fraldas descartáveis apresentou inflação.