O Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) em parceria com a Fipe, registrou inflação de 0,80% em junho, ante o aumento de 0,27% do mês anterior. A alta do indicador no mês de referência foi puxada pelos preços das categorias de produtos semielaborados (1,55%) e industrializados (1,06%). As bebidas alcoólicas, os produtos de limpeza e os artigos de higiene pessoal e beleza registraram alta moderada no mês, com variação de 0,15%, 0,29% e 0,23%, respectivamente. Por outro lado, as bebidas não alcoólicas ficaram estáveis, enquanto os produtos in natura registraram a primeira redução de preços desde setembro de 2023 (-0,42%).
Com o resultado de junho, o IPS acumula alta de 3,23% no ano, enquanto em doze meses, o índice, que ainda traz o efeito desinflacionário do segundo semestre de 2023, aponta alta de 2,61%.
Para o segundo semestre deste ano, a APAS estima que o IPS continue em ascenção, especialmente entre os meses de julho a setembro, motivado por fatores como câmbio e alterações climáticas. Considerando esses tópicos e os seus impactos diretos sobre a produção, a distribuição e o consumo das famílias, a APAS reajustou sua projeção de inflação nos supermercados para o ano de 2024, fixando-a em 5,5%. O cenário projetado pela APAS considera tanto os efeitos do mercado doméstico quanto os impactos provenientes do setor externo.
No âmbito interno, os pontos de maior atenção decorrem da esfera política e dos efeitos climáticos. Os ruídos na comunicação entre o chefe do Poder Executivo, ministros do governo e o Presidente do Banco Central têm gerado impacto sobre a taxa de câmbio. No que se refere à política monetária, o Comitê de Política Monetária do Banco Central indica maior cautela e parcimônia com a tendência inflacionária tanto em função dos rumos da política fiscal, quanto do curso da política monetária nos Estados Unidos e Europa. Esse comportamento parcimonioso ficou expresso durante a última reunião do Copom que decidiu pela manutenção da Taxa Selic em 10,50% ao ano.
No cenário internacional, a atenção dos agentes econômicos tem se dividido entre a reorganização econômica e estratégica no Oriente e as eleições no Ocidente. A disputa eleitoral nos Estados Unidos tende a produzir efeitos sobre diferentes mercados, uma vez que, após o primeiro debate entre Trump e Biden, começou a pairar a dúvida se o atual presidente americano tería condições físicas para buscar a reeleição. No Reino Unido e na França, as pesquisas de intenção de voto indicam que os pleitos eleitorais poderão mudar o pêndulo do poder nos dois lados do Canal da Mancha.
Essas possíveis mudanças na conjuntura política internacional, juntamente com a manutenção dos conflitos internacionais poderão produzir efeitos sobre os preços de diferentes commodities, desde energéticas até agrícolas, no mercado internacional.
Semielaborados
A categoria de produtos semielaborados registrou alta de 1,55% em junho, com esse resultado a categoria acumula inflação de 5,94% no ano. O aumento apurado em junho foi resultado da elevação de preços ao consumidor final, especialmente, do leite e da carne bovina, que variaram 6,98% e 0,46%, respectivamente. Enquanto essas subcategorias de produtos registraram alta, o preço do frango recuou -0,64%, e a carne suína (0,04%) e os cereais (0,02%) ficaram relativamente estáveis.
Com o resultado de junho, as subcategorias que compõem o grupo de semielaborados acumulam variação no ano na ordem, no acumulado dos últimos 12 meses: -8,56% (carne bovina), -2,40% (carne suína), 0,83% (pescados), 4,0% (leite), 12,21% (cereais) e 14,50% (aves).
Carne bovina
A carne bovina, como citado anteriormente, registrou alta no mês de junho, motivada principalmente pelo aspecto sazonal decorrente da mudança de estação do ano, que afeta os pastos e alteram a dieta de engorda bovina. O aumento do subgrupo de carne bovina não foi uniforme entre os diferentes cortes, enquanto o contrafilé (3,38%) e a fraldinha (3,67%) registraram inflação no mês, o coxão duro (-4,11%), a costela (-4,06%), o alcatra (-0,58%) e o músculo (-0,42%) apuraram redução de preços.
Apesar da alta mensal, a carne bovina ainda acumula deflação tanto no ano (-2,01%) quanto em doze meses (-8,56%). Todos os cortes bovinos acumulam queda em doze meses, porém, durante o primeiro semestre do ano, alguns cortes tidos como menos nobres, como músculo, braço e patinho já registram aumento nos preços.
Leite
A subcategoria de leite registrou expressiva alta no mês (6,98%), acumulando avanço de cerca de 25% no ano. O aumento do preço do leite ao consumdor final nos últimos meses é fruto do inflação em toda a cadeia. O preço do leite ao produtor, computado pelo CEPEA, indica que desde abril o produto vem escalando os preços. A alta no preço do leite é decorrente, principalmente, da redução da oferta e da entressafra nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, além do atraso na safra do Sul do país devido ao clima. A redução dos investimentos “dentro da porteira” ao longo do segundo semestre do último ano produziram efeito sobre a oferta doméstica e sobre o preço do produto ao consumidor final do mercado interno.
Cereais
Dentre a categoria dos cereais, o arroz continua mostrando tendências inflacionárias, com sucessivos aumento nos preços ao longo dos últimos 12 meses e no acumulado do ano de 2024 até junho. Em contrapartida, feijão e milho mostraram deflação, com quedas nos preços durante o mesmo período. O preço do arroz aumentou em 3,04% em junho de 2024, contribuindo para uma inflação de 29,25% nos últimos 12 meses e um aumento de 10,21% no acumulado do ano de 2024 até junho. O feijão por sua vez apresentou redução significativa de preços em junho (-5,25%).
Conforme indicamos em notas técnicas anteriores, o preço do arroz ao consumidor final começaria a apresentar altas mais consistente a partir de junho, uma vez que, os estoques dos supermercados já teriam baixado e as novas compras do setor já incorporariam os efeitos da tragédia climática que assolou o Estado do Rio Grande do Sul.
Industrializados
A categoria de produtos industrializados, após deflação de 0,44% em maio, registrou alta de 1,06% em junho. É fruto do aumento de preços de todas as subcategorias que compõem os produtos industrializados, porém, as altas mais expressivas foram dos cafés, achocolatados em pó e chás (2,92%), derivados de leite (1,82%), panificados (1,34%) e óleos (1,22%).
Com o resultado do último mês, a categoria acumula alta de 1,01% no ano e 0,45% nos últimos doze meses. Apesar da alta moderada na categoria no ano, a recente escalada do câmbio poderá impactar diferentes produtos ou grupo de produtos, especialmente, derivados de trigo (produtos panificados), óleos (mais precisamente, o azeite), cafés. De modo geral e, o câmbio impacta quase todos as cadeias produtivas, porém aquelas que estão mais expostas ao mercado externo, são as primeiras a sentirem os efeitos da alta do câmbio.
Café
Dentre os diferentes produtos que compõem a categoria de industrializados, cabe destacar a variação de preço do café. Como citamos, a subcategoria de cafés, achocolatados em pó e chás majoraram os preços em 2,92%, sendo que o café em pó aferiu alta de 3,86% no mês.
O aumento do preço do café ao consumidor final é decorrente da conjunção de (i) aumento da cotação do produto no mercado internacional; (ii) queda de safra de café no Sudoeste asiático. Indonésia e Vietnã são importantes produtores de café, porém, no período recente, têm sofrido com a quebra de safra. A redução da produção desses países tem aumentado a procura internacional do produto brasileiro, junto com isso, a valorização do produto no mercado internacional, por um lado, aumentam a receita dos produtores locais e, por outro, tornam o grão mais caro no mercado doméstico; (iii) Condições climáticas adversas. Geadas e secas nas principais regiões produtoras do grão do país, como Paraná, Minas Gerais e São Paulo, impactaram a safra no último ano.
A depender do comportamento do preço do produto no mercado internacional e a tendência da taxa de câmbio, poderemos observar novas altas do produto nos meses seguintes. Porém, esta não deve ser na mesma intensidade que ocorrera entre 2020 e 2021, que, no acumulado em 12 meses, ultrapassou a casa dos 80%.
In natura
A categoria dos produtos in natura apresentou deflação em junho de 2024, impulsionado pela redução de preços das frutas (-3,99%), verduras (-4,85%) e ovos (-1,53%). Em sentido oposto, os tubérculos e os legumes registraram alta no mês, com variação de 5,69% e 3,49%, respectivamente.
Dentro da subcategoria das frutas, as quedas mais significativas foram do mamão (-20%), maracujá (-19%) e melancia (-10,93%). No entanto, algumas frutas como melão e abacaxi majoraram os preços no mês, com elevação de 1,99% e 4,09%, respectivamente.
Conforme publicação da Conab, os preços de produtos como banana, especialmente das variedades nanica e prata, laranja e melancia estão em queda nas Ceasas do país devido ao aumento da oferta. Essa redução nos preços já é sentida nos supermercados. O IPS de junho indica queda de 1,9% no preço da banana e -3% na laranja. Além disso, a laranja e a melancia também tiveram preços menores devido à redução na demanda provocada pelo clima frio e, no caso específico da laranja, pelo efeito substituição, com o início da colheita das frutas de época, exemplo, da mexerica pocã. Esses fatores explicam a deflação registrada no IPS.
Entre os legumes, o tomate apresentou inflação de 5,64% no mês, mantendo tendência de alta desde o início do ano, e acumulando aumento de 19,05% no período. Em doze meses, o preço do tomate registra escalada de 23%. A alta no preço do produto reflete a quebra de safra no Estado de Santa Catarina. Com a redução da produção do legume no estado sulista, o mercado doméstico paulista passou a ser atendido pelas regiões produtoras dos Estados de Goiás, Minas Gerais e Bahia.
No segmento dos tubérculos, a batata se destaca com avanço de 19,26% no último mês, acumulando alta de 60,44% no ano. O preço mais, como registrado no IPS de junho, é resultado da redução da oferta gaúcha do produto em virtude das enchentes que assolaram o Estado do Rio Grande do Sul. Além disso, as condições adversas de plantio em Minas Gerais também contribuíram para pressionar os preços do item. A APAS continua monitorando os efeitos de curto e longo prazo das enchente do Rio Grande do Sul no preço dos alimentos.
Bebidas
Na categoria de bebidas, as alcoólicas apresentaram uma variação moderada de 0,15% no mês, impulsionado pela alta de 1,05% no preço do vinho. Com o aumento de junho, o vinho acumula uma inflação de de 5,51% no ano. Esse aumento é atribuído aos custos crescentes de produção e distribuição. Juntamente com isso, ainda há o fator câmbio que pressiona o preço do produto, especialmente o importado, no mercado local. Por outro lado, no segmento de bebidas não alcoólicas, não houve alteração significativa no indicador mensal, apesar de uma deflação de -0,32 nos produtos à base de soja.
Artigos de limpeza
A categoria de artigos de limpeza apresentou uma inflação moderada de 0,29% no período analisado. Entre os produtos que registraram alta, destacam-se o desinfetante, com aumento de 1,10%, o inseticida (1,35%), e o sabão líquido (2,84%). Em contrapartida, o sabão em barra registrou uma deflação de -1,69%. No geral, observa-se que a categoria não apresentou alterações significativas, com a maioria dos produtos seguindo uma tendência deflacionária.
Produtos de higiene pessoal e beleza
Nesta categoria, observou-se uma inflação moderada de 0,23%. Destacam-se os seguintes aumentos de preços: cotonetes (1,04%), fraldas descartáveis (2,48%), esmalte (1,97%), tintura para cabelo (1,06%) e creme para cabelo (1,83%). Por outro lado, alguns produtos apresentaram deflação, como creme dental (-1,41%) e escova dental (-1,91%). No geral, este segmento manteve-se estável, sem variações significativas.