Diminuir a ruptura continua a ser um desafio no varejo, especialmente no momento em que a crise política e econômica começa a, de fato, causar efeitos no segmento alimentar. Em novembro do ano passado, o levantamento mensal da NeoGrid em parceria com a Nielsen mostrava um índice de falta de produtos de 12,03% – quando o ideal é não passar de 5%.
No mês seguinte, dezembro, houve uma queda significativa na ruptura medida – pouco mais de 2% –, o que derrubou o índice para 9,65%. No entanto,o avanço no controle do estoque pode não ser uradouro. O diretor de relacionamento do varejo e da indústria da NeoGrid, Robson Munhoz, explicou no final de fevereiro à reportagem, que os dados de janeiro, ainda não fechados, provavelmente apontariam um novo avanço da ruptura.
“O que ocorreu no final do ano passado foi que o varejista investiu bastante em estoque e em mix, para aproveitar as festas e tentar recuperar, nesse período, um pouco do que havia perdido em vendas a partir do segundo semestre de 2015, quando o consumo no setor deu indícios de esgotamento”, explica ele.
Com isso, a ruptura caiu. Mas as vendas no período das festas não foram como os varejistas esperavam, continua Munhoz. Dados da ABRAS Associação Brasileira de Supermercados),divulgados em janeiro, mostram que houve aumento real de 24% nas vendas em dezembro, comparando-se com as de novembro de 2015. Com relação a dezembro de 2014, no entanto, as vendas recuaram – 4,39%.
Agora, portanto, embora os estoques estejam maiores (cobrindo 132 dias em dezembro contra 92,95 em outubro), os produtos começam novamente a faltar nas gôndolas.
“O estoque cresce porque o supermercadista não vendeu o que esperava. A ruptura cresce também porque o que a loja tem em estoque nem sempre é o produto que o consumidor procura e não há tanta verba nem tanto otimismo para o supermercadista comprar mais”, analisa Munhoz.
Complica ainda mais a situação o fato de janeiro ser um mês tradicionalmente de balanço, em que as compras dos varejistas costumam atrasar em função do levantamento de dados para compromissos fiscais.
Volta-se ao cenário, portanto, de novembro (pré-festas) quando a crise econômica, que se acentuou no segundo semestre do ano passado, foi apontada como uma das causas do índice crescente de ruptura ter batido mais de 12%. Mais promoções, retirada de produtos de baixo giro das gôndolas e abastecimento mais conservador redundaram em falta de produto.
O tema da ruptura, que nunca saiu de fato da pauta de varejistas e fornecedores, parece ter voltado à ordem do dia com um pouco mais de força diante da crise e também da crescente complexidade do varejo, que lida com cada vez mais formatos, necessidades, canais e nichos diferentes.
Tanto é assim que gigantes do setor, como Grupo Pão de Açúcar, Carrefour, Coop, P&G, Unilever e Nestlé, estão reunindo-se periodicamente na Associação ECR Brasil para identificar causas e propor soluções conjuntas para o problema.
“Nós nunca deixamos de tratar desse assunto conjuntamente, mas o grupo ganhou muito mais força desde o começo do ano, quando voltou a se reunir periodicamente. De lá para cá, novas empresas aderiram e há muitas iniciativas sendo colocadas em prática, que poderão ter influência inclusive nas pequenas companhias”, conta o CEO da ECR, Claudio Czapiski .
A SuperVarejo ouviu mais de 15 especialistas, entre consultores, varejistas e indústrias, para elencar os principais insights sobre o tema e inspirar o supermercadista a enfrentar cotidianamente as causas da falta de produtos na gôndola. Confira matéria na íntegra: http://www.supervarejo.com.br/2020-2/
Por NATALIE CATUOGNO
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