Paixão, dribles, dedicação e análise do adversário. Estamos falando de futebol, certo? Errado. A fórmula aplica-se também aos supermercados, como mostraram Ronaldo (Fenômeno) e Marcelo Tas aos participantes do 27º Congresso de Gestão e Feira Internacional de Negócios em Supermercados – APAS 2011 na manhã desta quinta-feira (12 de maio). O jornalista e o ex-jogador apontaram como a história de superação de um símbolo do futebol brasileiro pode ser aplicada aos negócios.
Antes de conseguir espaço no Cruzeiro e no futebol internacional, Ronaldo foi oferecido a clubes como o São Paulo, que recusaram o jogador. Como Cafu, o Fenômeno passou por diversas peneiras para ganhar uma vaga e nem isso era suficiente para garantir sua permanência no time, já que não tinha dinheiro para ir aos treinos. “Assim como Ronaldo, as empresas também têm dificuldades. Podem errar no começo, na escolha do bairro, da cidade, e é preciso saber contornar esses obstáculos”, disse Tas, que conduziu o bate-papo.
O jornalista apontou que, assim como no esporte, os negócios são muito cobrados (no caso, pelo governo), e nem sempre há uma contrapartida. Também traçando uma relação entre as áreas, Ronaldo afirmou que é preciso observar o adversário, sua movimentação, seu posicionamento. “Talento é determinante, mas você tem que fazer sua parte, estar taticamente preparado e observar, estudar o adversário. Que movimento ele prefere? Como se posiciona em campo?”.
Em referência direta ao setor supermercadista, Tas elogiou a campanha firmada entre a APAS e o governo do Estado de São Paulo para erradicação das sacolas plásticas nos supermercados paulistas e foi apoiado pelo jogador. “Esperamos muito do governo, do próximo e a gente tem que começar por nós mesmos. Use carrinho de feira, sacola de pano. Assim a gente começa a mudar nosso País, que sofre uma tragédia a cada enchente”, disse o empresário Ronaldo, que hoje se dedica à 9INE e à criação de uma instituição.
“Meu foco agora é a 9INE e a fundação ‘Criando Fenômenos’, que vamos inaugurar no próximo mês. Ela não terá um espaço físico, mas ajudará fundações a conseguir recursos”, afirmou Ronaldo, que alegou, como empresário, estar trabalhando mais e ganhando menos do que quando era jogador.
Confira algumas das respostas que Ronaldo deu às perguntas de Marcelo Tas e da plateia:
Determinação
“Eu amava e amo muito o futebol e sabia que nenhum obstáculo me impediria de alcançar meu objetivo. Meu sonho era jogar futebol. Com 14, 15 anos fui sozinho para Belo Horizonte morar na Toca da Raposa (CT do Cruzeiro). É preciso ser muito focado, dedicado”.
“Não era meu objetivo ser o melhor do mundo, mas dediquei minha vida ao futebol”.
Desafios
“Aos 13 anos passei na peneira do Flamengo, mas não tinha condições de pagar duas conduções para ir e duas para voltar de Bento Ribeiro para a Gávea. No São Cristóvão era só uma condução, e ainda assim pulava o muro da estação, as catracas. Economizava na passagem para comprar um lanche”.
“Não falava nada de holandês quando fui jogar na Europa. Meu professor era um padre e ele tinha um método interessante de colar adesivos com os nomes dos objetos. Minha casa era cheia de adesivos”.
“Eu estava feliz no Barcelona, mas houve um desentendimento com a diretoria e a Inter apareceu disposta a pagar a multa. Quando cheguei, no primeiro jogo, caminhando em direção ao gol, lesionei o tendão. Era um caso sem precedentes no futebol e deram minha carreira por encerrada. Não havia histórico, não sabiam como tratar. Fiz fisioterapia por um ano e sete meses e em nenhum momento cheguei a pensar em abandonar o futebol. Precisava conseguir fazer um movimento de rotação de 140°, mas tinha só 60°. Era uma luta para ganhar 1° a cada dia. Sabia que ia sofrer, mas venceria. O amor, a paixão me fizeram continuar”.
Fracassos
“Futebol todo mundo acha que entende. Recebo muito bem as críticas construtivas. Elas me motivam, me orientam, mas quando venço não é para rebatê-las. É para mim, para meu público, minha família, e não para calar a boca de ninguém”.
“No esporte a gente perde muito e a mídia dramatiza a derrota, o que colabora para que o futebol seja apaixonante. Mas o futebol ensina e eu aprendi muito. Aprendi a ter disciplina, a ser educado, responsável. Aprendi também a ganhar e perder porque, apesar de tudo, futebol é um esporte. Nós jogadores somos os que mais sofremos com a derrota. O futebol tem esse poder de mover multidões, mas sabemos que há momentos em que se perde e outros em que se ganha”.
Copas
“Participar da Copa de 94 era um sonho. Mesmo jovem me sentia realizado. Observava muito todos os jogadores e, como era novato, servia cafezinho, ia buscar a chuteira do Romário”.
“O Felipão foi fantástico em 2002. Acreditou em mim e eu acho que correspondi”.
“Eu estava com uma lesão em plena Copa e todos só falavam dela. Raspei o cabelo (corte Cascão) e todos voltaram sua atenção para isso e esqueceram da lesão”.
Paixão pela camisa
“Era Flamengo quando criança, mas há três anos virei adulto e hoje sou corintiano. Geralmente é assim que acontece. Você escolhe um time por influência da família e, quando cresce, escolhe um próprio. Eu escolhi o Corinthians, que tem uma torcida apaixonante, fiel. Tem corintiano até no Santos”, brincou Ronaldo.
Visão do futebol
“Estamos em um momento muito importante. O acordo dos clubes com as emissoras vai aumentar as verbas e permitir mais investimentos, o repatriamento de jogadores. Os estádios da Copa também somarão dinheiro aos clubes e proporcionarão uma estruturação. O Brasil é uma grande fábrica de talentos, com pelo menos um por ano. Agora temos o Neymar, que é a aposta da Copa de 2014”.
“Temos que melhorar muita coisa para a Copa de 2014. É preciso pensar em uma infraestrutura que seja útil depois do evento e em uma campanha bem forte para educar a população para receber os estrangeiros”.
Filhos
“Tento proteger meus filhos da exposição e passar os valores que eu recebi dos meus pais. Ser bom pai é mais difícil que ser bom jogador. É uma responsabilidade grande. Eu sou um pai coruja, é uma confusão quando os quatro estão juntos, mas é maravilhoso. No final do dia você vê eles dormindo é dá um orgulho”.
“Minha conduta em relação ao Alex deveria ser a regra e não a exceção. É meu filho, assumi e amo assim como os outros três”.
