A Associação Paulista de Supermercados (APAS) foi destaque em reportagem no jornal Folha de S. Paulo no último domingo (6 de julho). O tema foi ruptura (ou falta de determinado produto nas gôndolas de supermercados). Confira abaixo a íntegra da reportagem.
“Há duas semanas, fui ao supermercado e não tinha o molho que costumo comprar. Semana passada, ele estava de volta, mas era o macarrão da marca que eu gosto que estava em falta. Agora apareceu, mas voltei sem o presunto. Tem acontecido muito, com vários produtos”, conta a cozinheira Jovina Ribeiro.
A queixa tem sido compartilhada por grande parte dos consumidores e reflete uma elevação do índice de ruptura nos supermercados, termo usado no setor para medir a falta de certas marcas e produtos. O índice subiu de 7,9% no primeiro trimestre de 2013 para uma média de 9,1% no mesmo período deste ano, segundo a APAS (Associação Paulista de Supermercados).
Em maio, último dado disponível, recuou para 8,5%, mas permanece muito acima dos 4,6% registrados no mesmo mês do ano passado. “Eu já fiquei sem comprar a garrafa d’água”, diz a administradora Maíra Meyer.
O superintendente da APAS, Carlos Corrêa, explica que a ruptura pode ser provocada por diversos fatores. No histórico recente, os protestos nas ruas atrapalharam a logística, enquanto a variação de demanda devido à Copa dificultou o planejamento das empresas.
No plano macroeconômico, o baixo crescimento e a persistência da inflação acirram o cabo de guerra entre a indústria e o varejo. Na tentativa de postergar ou atenuar a elevação dos preços ao consumidor final, e consequentemente proteger suas vendas, os supermercadistas endureceram as relações com seus fornecedores, com o objetivo de distribuir ao longo da cadeia o aumento de custos de produção. O resultado é um alongamento das negociações.
“A demanda do consumidor está menor e os custos sobem. Como o varejo enfrenta alta concorrência e trabalha com margens baixas, precisa negociar para evitar o repasse de preço ao consumidor”, diz Sussumu Honda, presidente do conselho consultivo da Abras (Associação Brasileira de Supermercados).
Um dos sinais do varejista para rejeitar a alta é deixar de comprar o produto temporariamente, segundo Fernando de Bairros, presidente da Afrebras (que reúne fábricas de refrigerante). “É um meio de pressão. Ele substitui o produto e tira da gôndola até que a indústria abaixe”, diz.
“Está difícil colocar aumento. O varejo não aceita porque não está em um ano bom”, diz Alexandre Colombo, presidente da Anib (indústria de biscoitos).
A tensão varia nas regiões do país, segundo Juracy Parente, professor da FGV-SP. E a disputa piora nas indústrias de produtos mais perecíveis. Se o impasse não cede, o estoque do varejo pode acabar, levando o produto a faltar nas lojas por alguns dias, até que se chegue ao acordo.
“Esse tipo de ruptura que vem por causa de negociação é normal e aceitável, pois não significa que há crise de abastecimento e falta de produto. As empresas estão brigando por preço baixo”, diz Honda.
Segundo pesquisa do site de defesa do consumidor Reclame Aqui com 2.000 clientes, mais de 76% foram às compras nos últimos dois meses e ficaram sem algum item.
Fonte: Folha de S. Paulo