O Banco Central divulgou na última semana (19/02) a criação do PIX, marca do Pagamento Instantâneo no Brasil. A novidade foi desenvolvida com o intuito de facilitar as transações financeiras e a expectativa é que o novo meio eletrônico de pagamentos seja lançado ainda este ano, em novembro.
Entenda o novo sistema
A nova solução permite enviar e receber transferências monetárias em até 10 segundos. Na prática atual, mesmo que uma operação seja realizada com um cartão, na modalidade débito, ela não gera crédito imediato para o recebedor. Já com o novo sistema, o valor pago pelo cliente é instantaneamente disponibilizado na conta.
Para realizar um pagamento instantâneo, será necessária a utilização de smartphone ou outro aparelho eletrônico que possibilite o uso de chave de endereçamento e a leitura de QR Code estático ou dinâmico. Além da facilidade de não precisar de cartões de crédito ou dinheiro em espécie para efetuar as transações, ele funcionará sete dias por semana, 24 horas por dia.
A implantação desse novo meio eletrônico de pagamento pretende tornar mais eficiente o processo financeiro no Brasil. O intuito não é extinguir as demais modalidades existentes, mas tirar o foco do dinheiro físico, trazer mais segurança e rapidez às transações e fazer com que todas formas de pagamento disponíveis no mercado coexistam. Mesmo assim, os cartões de crédito e boletos são formas bastante consolidadas no país, o que garante a sua continuidade.
Atualmente, algumas instituições de pagamento estão trabalhando em conjunto com o Banco Central para auxiliar no desenvolvimento do novo sistema de pagamentos. Já implementado na China e Estados Unidos, são mais de US$ 3 trilhões em transações digitais realizadas no país asiático em contraste com os US$ 112 bilhões movimentados no mercado estadunidense.
A primeira etapa da implantação no Brasil será feita entre pessoas, operação conhecida como person-to-person (P2P). Até o ano que vem, a expectativa é de que seja possível ampliar as transferências eletrônicas para empresas e governos e, em até dois anos, a previsão é de que esteja funcionando completamente. No entanto, vale ressaltar que são pagamentos irrevogáveis, sendo que uma vez que a cobrança é liquidada, não é possível efetuar o estorno.
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Para entender um pouco mais dos efeitos que esta nova ferramenta pode causar no mercado nacional, a equipe de reportagem da SuperVarejo conversou com o consultor de negócios da Matera, Fabiano Amaro, que fez uma análise sobre o sistema. Confira na íntegra:
Você poderia explicar um pouco sobre o novo sistema de pagamentos, PIX. Quais os diferenciais desta novidade?
Pequenos, médios e grandes supermercadistas podem usufruir desta ferramenta?
R: “Para entender o PIX, temos que entender as limitações e ineficiências atuais das estruturas de pagamentos. Atualmente, temos relacionamento com bancos e fintechs (startups que trabalham para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro) através de contas. Ou seja, deixamos nosso dinheiro parado em contas dessas instituições para que possamos utilizar quando formos realizar pagamentos. Ocorre que essas contas não estão totalmente interligadas entre si. Quero dizer, não é possível transferir instantaneamente dinheiro da minha conta no ‘Banco A’ para a sua conta no ‘Banco B’ em um sábado à tarde, por exemplo.
Para resolver esse problema, hoje utilizamos a rede de cartões, que requer que eu (pagador) possua um cartão plástico, com saldo em conta ou crédito emitido por alguma instituição. Por sua vez, para que eu possa pagar com esse cartão, o lojista necessita de uma maquininha, que em grande parte foi fornecida por um subcredenciador, que está embaixo de um credenciador (ou adquirente), que faz parte de um arranjo aberto (bandeiras como Visa e Master), que rege os ‘trilhos’ para que meu pagamento seja autorizado pelo meu emissor (fintech ou banco).
Ocorre que essa cadeia toda cobra muito caro para intermediar operações de pagamento e, com isso, o lojista acaba tendo que pagar percentuais elevados sobre transação, ou mesmo utilizar mecanismos como antecipação de recebíveis, simplesmente pelo fato de eu querer pagar, mas nossas contas não estarem diretamente interligadas. Em uma breve definição, o PIX entra aqui: ele se torna a ‘internet das contas’, ao permitir que eu conecte a minha conta à conta do estabelecimento comercial, 24x7x365, sem necessidade de intermediários. Isso significa dinheiro fluindo do ponto A para o ponto B sem demora, e sem tarifas elevadas; mais dinheiro no caixa do lojista para ele investir, reduzir preços, melhorar qualidade etc.”
Como o novo sistema pode afetar o setor supermercadista? E em quanto tempo isso se tornará uma realidade na maioria ou até em todos os supermercados?
R: “A princípio, o PIX surge como uma alternativa que fará parte da rotina dos brasileiros, assim como TED, boleto e cartões. Portanto, um primeiro impacto será a adequação ao método PIX nas frentes de loja, de modo que seja possível gerar ou ler QR Codes. Pela facilidade de uso, menores tarifas e maior eficiência, entendemos que ele deve ser utilizado em maior escala, visto que que a maioria dos bancos e fintechs serão obrigados a fornecer e aceitar tal método para o cliente, seja ele pessoa física ou jurídica. Ou seja, estamos falando que tanto o consumidor que frequenta os supermercados quanto os fornecedores, e o próprio supermercado, terão contas correntes que realizam e recebem um PIX, conectados na tal ‘internet das contas’.
Num exercício rápido, quando eu tiver que pagar um supermercado, poderei escolher entre usar o cartão, que requer a maquininha, tarifas e todas integrações e conciliações envolvidas para garantir que a adquirente capturou e pagou o supermercado, ou o PIX, que debita minha conta e credita a conta do supermercado instantaneamente, podendo inclusive carregar as confirmações de pagamento para ambas as partes, diminuindo os custos de integração e conciliação.
A expectativa é que tal método já passe a vigorar a partir de novembro de 2020, conforme calendário do Banco Central. Como boa parte das interações ocorrerá através de smartphone, diversos bancos e fintechs já estão construindo suas aplicações para facilitar os pagamentos via PIX. Entretanto, além da experiência de pagar, teremos reflexos positivos em diminuição de custos e processos, como conciliação, que será praticamente automática, uma vez que o dinheiro entra imediatamente na conta do lojista. Ao longo de 2021, isso será uma realidade em praticamente todos supermercados”.
Pensando em médio e longo prazo, quais as expectativas para este novo sistema?
R: “Dada a eficiência e menores custos do PIX, aliados à entrada de novas fintechs que devem criar nova cadeia de valor sobre ele, veremos métodos como boleto, TED/DOC, e até mesmos cartões plásticos, caírem em desuso. Outra possibilidade que as fintechs vêm explorando é a oferta de crédito instantâneo que, aliada ao PIX, poderá inverter a atual cadeia de crédito ao permitir que um cliente sem saldo receba instantaneamente um crédito em sua carteira digital e, com isso, pague o lojista usando o PIX.
A vantagem desse modelo é que a carteira digital do cliente não fica presa a um único banco emissor de crédito. Fintechs que ofertam conta transacional podem conectar sua carteira digital a múltiplos players que forneçam crédito, cabendo a você (consumidor) escolher a melhor opção no ato da compra. Com isso, até o bom e velho cartão de crédito passa a ser afetado”.