IPS, calculado pela APAS, mostra deflação pelo terceiro mês consecutivo
O Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) em parceria com a Fipe, registrou deflação de 1,1% em agosto, motivado pela redução de quase todas as categorias de produtos, com exceção de bebidas não alcoólicas, que ficou estável (0,06%). O comportamento dos preços no acumulado do ano ficou em -0,51%, segunda menor taxa da série da última década, sendo superado apenas por 2017, quando apresentou deflação de 1,68%. No acumulado em 12 meses, a inflação desacelerou de 2,74%, em julho, para 1,62%, em agosto.
As maiores quedas no mês foram os produtos in natura (-3,65%), semielaborados (-1,65%), artigos de limpeza (-1,40%), bebidas alcoólicas (-1,24%), artigos de higiene e beleza (-0,81%) e produtos industrializados (-0,47%). Os artigos de limpeza e higiene e beleza, que já apresentavam desaceleração desde o último quadrimestre de 2022, registraram no último mês a primeira queda mensal em quase três anos.
O resultado de agosto consolida a tendência de deflação pelo terceiro mês consecutivo. Nos últimos três meses, o preço ao consumidor paulista já caiu aproximadamente 2,3%, o que significa que os consumidores estão gradualmente aumentando o poder de compra.
“Caso não haja nenhuma mudança abrupta nos cenários econômico e político interno e externo e, não menos importante, nenhuma alteração climática até o final do ano que afete a produção agrícola do ano, o índice de preços do setor supermercadista deve encerrar o ano no menor patamar desde 2017”, projeta o economista Felipe Queiroz, do Departamento de Economia e Pesquisa da APAS. A APAS reforça sua posição já transmitida em comunicados anteriores sobre o comportamento da taxa básica de juro da economia brasileira e o espaço para aceleração no ritmo de queda da taxa oficial. “A menor pressão inflacionária e o ritmo da atividade econômica doméstica possibilitam não apenas a continuidade, mas a aceleração do ciclo de redução da taxa básica de juros (SELIC) sem o comprometimento dos fundamentos econômicos e da meta de inflação determinada para o ano corrente. Apesar de a média do mercado, medido pelo Boletim Focus, projetar que a taxa Selic encerre o ano em 11,75%, entendemos que os indicadores de inflação estão apresentando substantivas demonstrações de que há uma possibilidade em baixar a taxa SELIC”, defende Queiroz.
Semielaborados
A categoria de produtos semielaborados deflacionou 1,65% em agosto e manteve pelo terceiro mês consecutivo a redução de preços. A queda foi motivada, principalmente, pela redução do preço da carne bovina (-3,31%), dos cereais (-1,53%), do leite (-0,88%) e dos pescados (-0,29%).
O preço da carne bovina manteve a tendência deflacionária observada desde o início do ano. Com o resultado do último mês, a subcategoria acumula queda de aproximadamente 13%. No acumulado em 12 meses, a queda é menor, com retração de 12,3%. A redução no preço da carne bovina é resultado, sobretudo, do menor custo de engorda do boi de corte, decorrente da melhor condição dos pastos e da redução do preço da ração animal.
A redução do preço da ração no início do ano produziu efeito positivo em relação ao preço para o consumidor final das demais proteínas animais, como a carne suína e o frango. Apesar do preço da carne suína apresentar leve alta em agosto (0,71%) e o das aves ficar com os preços estáveis (-0,02%), no acumulado do ano, ambas proteínas registraram redução de preços. Em 2023, a carne suína acumula queda de cerca de 5% enquanto o preço das aves recuou mais de 20%.
O preço dos pescados, que recuou 0,29% em agosto, se mantém estável no acumulado do ano (0,07%). No acumulado em 12 meses, a subcategoria ainda registra alta de 3,37%, puxado pelos preços da corvina (9,13%), pescada (6,77%) e camarão (4,24%).
Leite
O preço do leite recuou pelo terceiro mês consecutivo, após forte alta no bimestre (abril e maio). Com o resultado de agosto (-0,88%), o preço do leite acumula alta de 5,84% no ano e queda de 21,66% no acumulado em 12 meses. Apesar do bimestre (julho e agosto) ser de entressafra e o período de inverno produzir piores condições nos pastos brasileiros e, consequente, influenciar no aumento sazonal do preço do leite, a conjunção entre redução dos custos de produção (queda no preço da ração animal) e aumento das importações resultaram na queda do preço durante as duas últimas medições do IPS. A redução do preço do leite tem impactado positivamente nos preços de diferentes itens da cesta de consumo das famílias, como leite em pó, leite condensado, creme de leite e queijos.
Cereais
Os cereais também deflacionaram em agosto (-1,53%), motivado pela forte queda do feijão (-5,41%). O milho ficou estável e o arroz registrou leve alta de 0,38%. Com o resultado do mês, a subcategoria acumula deflação de 0,45% no ano e alta inferior a 2% em 12 meses.
A expressiva safra de feijão do primeiro semestre ainda apresenta estoques disponíveis e o início da segunda resultaram na queda do preço da leguminosa no final em julho e agosto. No acumulado do ano, o preço do feijão apresenta retração de 14,4%, enquanto no acumulado em 12 meses a queda já supera 17%.
Industrializados
A categoria de produtos industrializados apresentou queda de 0,47% em agosto e com esse resultado acumula alta de 1,29% no ano e 3,30% em 12 meses. A redução foi puxada pela queda das seguintes subcategorias, como café, achocolatados em pó e chás (-1,64%), óleos (-1,40%), derivados de leite (-1,16%), doces (-0,83%), condimentos e sopas (-0,24%), massas, farinhas e féculas (-0,21%) e derivados de carne (-0,14%). Produtos como panificados (0,40%), enlatados e conservas (0,39%), adoçantes (0,28%), biscoitos e salgadinhos (0,12%) e alimentos prontos (0,10%) impediram que a categoria de industrializados apresentasse queda maior no mês.
O resultado positivo dos industrializados em 2023, com alta menor de preços, decorre da safra recorde e da diminuição ou aumento moderado do preço de muitos insumos produtivos. Os casos das subcategorias de óleos e café são exemplares, no ano esses produtos acumulam queda de aproximadamente 16% e 4%, respectivamente.
O único item do grupo que apresenta tendência de alta de preço é o azeite. Em agosto aumentou 2,35% e no acumulado do ano a alta passa de 18%. As mudanças climáticas e o seu efeito direto sobre a produção das olivas no mediterrâneo, especialmente, na Espanha e no Alentejo português têm gerado pressão no mercado mundial de azeite. No Brasil, a expectativa é que em 2023 a produção fique abaixo da observada no último ano em decorrência, entre outros fatores, da bienalidade (variação da produção de um ano para outro, comum em culturas perenes) e pelas chuvas ocorridas no período de florada.
Produtos In natura
Os produtos in natura deflacionaram 3,15% em agosto, reflexo da redução de preços de quase todas as subcategorias, como os tubérculos (-10,59%), legumes (-6,33%), verduras (-5,26%) e ovos (-2,78%), com exceção das frutas, que inflacionaram 3,74%. O grupo de produtos in natura tende a apresentar forte volatilidade nos preços em decorrência dos aspectos sazonais e climáticos. O caso das frutas é exemplar: em julho a categoria deflacionou 1,13% e na última medição, em agosto, inflacionou 3,74%. No acumulado em 12 meses, a inflação das frutas passou de 20,2%, no encerramento do último ano, para 14,7%, em agosto.
Apesar da natural oscilação nos preços dos itens que compõem o grupo, quando observamos o comportamento dos preços até o mês de agosto, constatamos que eles não estão subindo de modo tão acelerado como ocorreu no ano de 2022. No acumulado do ano de 2023, a categoria apresentou alta de apenas 1,7%, contra 9,58% do mesmo período do ano anterior.
Bebidas
A subcategoria de bebida não alcoólica ficou estável em agosto (0,06%), enquanto a de bebida alcoólica deflacionou 1,24%, motivado, sobretudo, pela queda no preço da cerveja (-1,27%), vinho (-2,16%), vodca (-0,81%) e da aguardente (-0,56%). Com o resultado do mês, as bebidas não alcoólicas acumulam alta de 4,41% no ano. As bebidas alcoólicas seguem a mesma tendência, com alta de 4%.
Limpeza, higiene e beleza
Os produtos de limpeza e higiene e beleza registraram retração de -1,4% e -0,81% nos preços em agosto, respectivamente. As duas categorias desde o último quadrimestre de 2022 já vinham desacelerando consistentemente e, em agosto, tiveram a primeira queda mensal em 30 meses. A redução de preços ao consumidor paulista é reflexo, sobretudo, da desaceleração e mesmo redução de insumos produtivos.
Dentro da categoria de produtos de limpeza, as principais quedas em agosto foram do sabão líquido (-2,91%), sabão em pó (-2,39%), amaciante de roupa (-1,85%) e detergente (-1,13%). Em sentido oposto, itens como desinfetante (1,73%) e vassouras (1,61%) registraram alta no mês, porém, como possuem baixo peso dentro da subcategoria, tiveram participação diminuta na contenção da queda do indicador.
Entre os artigos de higiene e beleza, os produtos para pele – creme de beleza (-2,60%), loção para pele (-2,21%) e protetor solar (-0,68%) – para cabelos, especialmente, xampus (-1,5%) e condicionadores (-1,77%), apresentaram queda significativa. Dentre os 24 itens que compõem a categoria, apenas oito itens inflacionaram no mês, porém, apenas lenços umedecidos e guardanapos de papel registraram alta acima de 1%.
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