O Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) em parceria com a Fipe, manteve a tendência deflacionária em agosto. O indicador registrou deflação de 0,43%, contra -0,75% no mês anterior. No acumulado de 12 meses, o índice aponta inflação de 3,58%, enquanto no acumulado do ano, o índice acumula taxa de inflação de 2,01%. Comparando com o mesmo período ano a ano, o resultado de agosto foi menos expressivo, mas ainda assim no campo deflacionário, passando de -1,10% em agosto de 2023 para -0,43% em agosto deste ano. O resultado do indicador no mês foi impulsionado principalmente pela queda nos preços dos produtos in natura, que apresentaram redução de 5,34% em agosto. Outras categorias também contribuíram para essa deflação, com destaque para Alimentação e Bebidas (-0,56%), Semielaborados (-0,27%) e artigos de higiene e beleza (-0,23%). Apenas as categorias de alimentos industrializados e artigos de higiene e beleza computaram alta no mês, 0,49 e 0,62%, respectivamente.
A inflação nos supermercados paulistas tem apresentado comportamento bastante moderado neste ano, com alta na casa de 2%. No entanto, a atual conjuntura climática acende o alerta no horizonte. As emissões de monóxido de carbono têm contribuído com o aumento contínuo da temperatura global e os fenômenos climáticos El Niño e La Ninã têm agravado a situação presente, produzindo sucessivos recordes de temperatura.
A principal manifestação das alterações climáticas é a acentuação dos fenômenos climáticos extremos, desde chuvas torrenciais até secas prolongadas. De Norte a Sul global, essas mudanças têm afetado a produção de diferentes culturas de alimentos, desde vinho e azeite no Mediterrâneo, até café no leste asiático e no Brasil. Esse cenário atual tem sido agravado pelas secas extremas e os focos de incêndio´. No caso específico brasileiro, as recentes queimadas afetam importantes regiões agrícolas, como as regiões Norte e Centro-Oeste e o interior paulista.
Esse fenômeno tende a produzir impacto direto sobre diferntes culturas, uma vez que as queimadas afetam, inclusive zonas de mata virgem (fundamentais para o equilíbrio climático). Por isso, apesar da recente queda no indicador IPS, entendemos que o cenário atual exige atenção redobrada.
Semielaborados
No geral, os produtos da categoria Semielaborados registraram deflação de 0,27% em agosto, acelerando a queda observada no mês anterior (-0,11%). No acumulado do ano, o IPS atingiu 5,54%, enquanto no acumulado de 12 meses registrou uma inflação de 6,78%. Dentre as subcategorias analisadas no mês, as aves registrou uma deflação de -1,74%, seguido por leite (-1,60%), cereais (-1,30%) e pescados (-0,21%). Por outro lado, as subcategorias de carnes suínas e carnes bovinas apresentaram inflação de 4,69% e 1,13%, respectivamente.
No acumulado de 12 meses, os semielaborados registraram inflação de 6,78%, impulsionou pela alta no preço da carnes suínas (7,44%), das aves (20,04%), leite (6,98%), cereais (15,12%) e pescados (0,68%). Apenas as carnes bovinas registram deflação no acumulado em doze meses, com redução de -1,29%.
Carnes bovinas
O preço da carne bovina ao consumidor final apresentou inflação de 1,13% no mês de agosto, em contraste com os -0,39% registrados no mês anterior. Tanto no acumulado em 12 meses quanto no acumulado do ano, o índice de inflação para a subcategoria registram retração de -1,29%. Dentro dessa subcategoria, em agosto, a costela bovina liderou o índice de deflação com -0,74%, seguida pelo lagarto (-0,45%) e filé mignon (-0,36%). Os itens que mais aumentaram no mês foram o contrafilé (2,61%), alcatra (2,21%) e fígado (1,69%). A principal razão para o aumento nos preços desses produtos foi a desvalorização cambial, que favoreceu as exportações de carnes para a China.
Carnes suínas
A pressão inflacionária está mantida na subcategoria de carnes suínas. A subcategoria passou de 3,07% em julho para 4,69% em agosto deste ano. No acumulado de 12 meses, indica inflação de 7,44%. Ao analisar a evolução dos preços dos itens que integram a subcategoria, no acumulado de 12 meses, o pernil com osso e a costela suína apresentaram aumento de preços com taxa de inflação 10,71% e 6,81%, respectivamente. Quando olhamos as taxas do acumulado do ano, o Lombo com osso lidera como a carne com a maior taxa de IPS, alcançando 11,38%.
A alta nas carnes suínas pode ser explicada por um fator macroeconômico: a desvalorização da moeda brasileira, que tornou esses produtos mais competitivos no mercado externo e reduziu sua disponibilidade no mercado doméstico. Consequentemente, os preços subiram devido à menor oferta, combinada com um câmbio favorável para as exportações.
Leite
Após registrar deflação de 0,24% no mês anterior, a subcategoria de leite continua apresentando desaceleração nos preços. Em agosto, o preço do leite indicou deflação de 1,60%. No acumulado de 12 meses, a subcategoria acumula alta de 6,98%, abaixo dos 7,76% observados no mês anterior. No acumulado do ano, o índice de inflação para o item é de 22,64%. Conforme mencionado na nota de julho, “o aumento dos preços do leite ao consumidor final vinha sendo impulsionado por elevações nos custos ao longo de toda a cadeia produtiva, além do crescimento das importações da Argentina.”
Cereais
Em agosto, a subcategoria de cereais continua registrando deflação, desta vez com queda de 1,30%, em comparação aos 0,95% observados em julho. Esse processo deflacionário está relacionado principalmente à redução do preço do arroz, que apresentou deflação de 1,58% em agosto, enquanto no mês anterior o produto indicava deflação de 0,95%. Como já vínhamos destacando, havia preocupações de que o cenário pudesse ser pior devido à tragédia no Rio Grande do Sul. No entanto, o preço do arroz continua em queda. O feijão também registrou deflação de 0,74%, reduzindo o ritmo de queda tanto em relação ao mês imediatamente anterior (-2,54% em julho) quanto em relação ao mesmo período de 2023 (-5,41%). No caso do milho, o preço ao consumidor final aferiu redução de 1,48% em agosto, contrastando com o aumento de 2,73% observado em julho. Esse recuo nos preços, especialmente no caso do milho, pode ser explicado pela maior oferta resultante da colheita.
Industrializados
Em agosto, os produtos industrializados apresentaram leve queda nos preços, conforme indicado pelo índice IPS, que registrou variação de -0,49%, comparado a -0,59% no mês anterior. No acumulado de 12 meses, o IPS apontou uma inflação de 2,16%, impulsionada pelas altas em panificados (3,93%), cafés, achocolatados em pó e chás (11,99%), adoçantes (0,59%), doces (6,52%), óleos (11,12%), massas, farinhas e féculas (0,45%), condimentos e sopas (3,05%), enlatados e conservas (4,53%) e alimentos prontos (3,69%). Ainda no acumulado de 12 meses, apenas os derivados do leite, derivados de carne e biscoitos e salgadinhos registraram deflação de -1,44%, -4,66% e -2,35%, respectivamente.
Considerando todos os produtos industrializados das subcategorias, o fermento destacou-se com a maior inflação na categoria de industrializados em agosto, subindo 5,52%. Em contrapartida, o queijo fresco apresentou a maior deflação, com queda de 3,37%.
Os derivados de leite
Na subcategoria de derivados de leite, nosso indicador aponta desaceleração nos preços ao consumidor final, que caiu de 0,90% em julho para 0,16% em agosto deste ano. Em agosto do ano passado, o índice apresentou variação negativa, sinalizando deflação (1,16%) , enquanto neste ano observamos uma inflação de 0,16%. No acumulado de 2024, o IPS alcançou uma taxa de 1,64%. Dentro dessa subcategoria, o petit suisse registrou a maior taxa de inflação no período analisado, enquanto o queijo fresco apresentou deflação de 3,37%, o nível mais baixo entre os derivados de leite.
Óleos
A pressão inflacionária na subcategoria “óleos” permanece alta. Entre abril e agosto, o IPS aumentou de 0,16% para 1,29%. No acumulado de 12 meses, o índice registrou inflação de 11,12%, enquanto no acumulado do ano até agosto, aponta uma taxa de 4,84%. O óleo de soja apresentou a maior variação (2,12%) dentro dessa subcategoria. O azeite de oliva também se destacou, com uma alta de 1,08% em agosto, e um acumulado de 38,02% nos últimos 12 meses. Como apontado anteriormente, o aumento dos preços da subcategoria é resultado, sobretudo, da queda de safra decorrente das alterações climáticas.
Cafés, achocolatados em pó e chás
A subcategoria de cafés, achocolatados em pó e chás apresentou alta de 1,78% ao consumidor final em agosto, impulsionado pelo ajuste de 2,54% no preço do café. O café solúvel e os chás também apresentaram inflação no mês, com variação de 1,87% e 1,86%, respectivamente. Apenas os achocolatados em pó computaram redução de preços no mês (-0,43%). Com o resultado de agosto, a subcategoria acumula alta de aproximadamente 12% nos últimos doze meses. Essa alta é decorrente do aumento de mais de 16% no preço do café no período.
O aumento do preço do café ao consumidor final paulista não é decorrente nem do aumento da demanda doméstica, uma vez que a elasticidade da demanda é relativamente baixa, nem da redução da produção interna, como indica o levantamento da CONAB. Conforme a instituição federal, a expectativa é que a produção doméstica de café de 2024 seja em torno de 7% ou, mais precisamente, 3,7 milhões de sacas beneficiadas, acima da safra anterior, totalizando 58,8 milhões de sacas de café arábica e conilon. O preço do café ao consumidor final paulista tem aumentado em decorrência do aumento do preço da commodity no mercado internacional, por um lado, e desvalorização cambial, por outro. Os países do sudeste asiático, especialmente o Vietnã, importante produtor de café, e maior produtor mundial da espécie canéfora, tem apresentado forte queda, próximo de 20%, motivado pelas alterações climáticas. A projeção de queda da produção vietnamita, por um lado, tem levado a escalada de preços do café nas bolsas internacionais e, por outro, estimulado a produção da categoria do café em diferentes partes do país, sobretudo no Estado do Espírito Santo.
Junto com a valorização da commodity no mercado internacional, a desvalorização cambial, produz um incentivo maior ao produtor local direcionar a produção ao mercado internacional ou, então, faz com ele ajuste o preço local ao preço internacional.
Entre dezembro de 2019, período pré-pandemia, e agosto de 2024, o IPS apresentou alta de 52%, enquanto o café em pó ao consumidor final paulista aumentou mais de 121%.
In natura
A subcategoria de produtos in natura registrou deflação de -5,34% em agosto, enquanto no mês anterior o índice estava em -9,32%. Trata-se de um movimento de desaceleração deflacionária que tem ocorrido nos últimos três meses, impactando significativamente o índice geral. Essa tendência de queda é impulsionada pelos baixos preços de legumes, tubérculos e ovos, que apresentaram deflação de -10,02%, -20,54% e -2,79%, respectivamente. Vale destacar que essa redução nos preços de legumes e tubérculos é sazonal; no inverno, a oferta para essa categoria de produtos tende a ser maior, resultando em uma queda nos preços. Além dos itens mencionados que indicavam redução nos preços, observamos, por outro lado, um cenário diferente dentro dessa subcategoria. Dentro dos produtos desta subcategoria, percebe-se um aumento significativo de preços das frutas. Houve mudança de desaceleração em julho (-4,49%) para uma pressão inflacionária em agosto, conforme indicado pelo IPS, que alcançou 3,86%. Neste subconjunto das frutas, diversos itens registraram taxas de inflação consideráveis. Alguns exemplos incluem laranja (7,14%), limão (8,87%), banana (5,70%), maçã (1,79%) e mamão (30,35%).
A subcategoria de verduras também apresentou inflação de 3,21% no mês de agosto, com destaque para a alface, que registrou uma taxa de inflação de 7,29%, contrastando com o desaceleração de -9,25% observada no mês anterior.
No acumulado de 12 meses, os produtos da categoria (In Natura) registraram inflação de 11,20% impulsionada com a participação de frutas (10,95%), tubérculos (48,37%), verduras (9,25%). Por outro lado, os legumes apontaram queda nos preços, isso é perceptivel quando olhamos o índice acumulado de 12 meses, em agosto, registrou -7,90%, os ovos também com -14,68%.
Bebidas
Nas subcategorias das bebidas não alcoólicas apresentou deflação de -0,88%, contra alta de 0,40% no mês anterior. Já para as bebidas alcoólicas, o IPS apontou deflação de -0,73% contra -0,10% em julho.
Dentro da subcategoria de bebidas não alcoólicas, os itens bebida isotônica e suco de frutas apresentaram inflação de 1,69% e 0,86%, respectivamente. No entanto, os outros itens considerados registraram deflação, cuja participação do pó de refresco foi relevante com uma taxa de inflação de -2,53%. Na subcategoria de bebidas alcoólicas, como mencionado anteriormente, indica-se deflação. O produto que apresentou a maior taxa foi vodca (-2,31%), enquanto por outro lado, a aguardente teve o maior índice de inflação (1,76%), significando que o preço deste item aumentou no período estudado.
Artigos de limpeza
Os artigos de limpeza registraram deflação de 0,23% em agosto, mantendo a tendência de queda já apresentada no mês anterior (-0,55%). No acumulado de 12 meses, o índice aponta uma deflação de -3,98%. Dentro dessa subcategoria, o item com a maior queda nos preços foi a cera (-2,24%), seguido pelo desinfetante, com uma taxa de -1,99%. Por outro lado, entre os produtos que apresentaram alta de preço no mês, a vassoura lidera com uma taxa de inflação de 1,64%, seguida pela esponja, com um aumento de 1,40%, ocupando o segundo lugar no ranking dessa subcategoria.
Produtos de higiene e beleza
Para os produtos de higiene pessoal e beleza, o IPS indicou uma inflação de 0,62% em agosto, após uma leve queda de -0,07% registrada em julho. No acumulado de 12 meses, em média, o indice aponta por uma taxa de -0,37%. Dentro dessa subcategoria, o lenço umedecido destacou-se com a maior deflação, de -1,46%. Por outro lado, o creme de beleza foi o item que apresentou o maior aumento de preços, com uma taxa de 3,85% em agosto.